Cientistas criaram, pela primeira vez, um atlas integrado de sequenciação do RNA unicelular (scRNAseq) dos tecidos do periodonto humano — estrutura que conecta os dentes ao osso maxilar. A pesquisa, publicada na Nature Communications, abre novas perspectivas para compreender o desenvolvimento da doença gengival e oferece potencial para tratamentos mais eficazes e personalizados.
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A doença gengival, ou periodontite, afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Além de causar dor e perda dentária, ela está associada a mais de 60 condições sistêmicas, como doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, Alzheimer e doenças inflamatórias intestinais.
Apesar de sua relevância, as interações entre microrganismos bucais, células periodontais e a resposta imunológica ainda são pouco compreendidas. Essa lacuna motivou uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo Dr. Kevin Byrd, da American Dental Association, e pela Dra. Inês Sequeira, do Instituto de Odontologia da Queen Mary University of London, a investigar a fundo o ambiente celular do periodonto.
O estudo utilizou dados de sequenciação do RNA unicelular para criar um atlas abrangente do periodonto humano. Foram identificadas 17 subpopulações celulares, incluindo cinco novas categorias de queratinócitos gengivais presentes no epitélio da gengiva. Esses queratinócitos, responsáveis por formar a barreira protetora entre os dentes e o ambiente bucal, demonstraram alterações significativas em estados de periodontite.
A pesquisa revelou que os queratinócitos sulculares (SKs), próximos aos dentes, e os queratinócitos juncionais (JKs), que fazem interface com a superfície dental, apresentam estados de diferenciação alterados na presença da doença. Essas células mostraram uma maior ativação de citocinas, proteínas cruciais para a resposta imunológica.
Além disso, a heterogeneidade dessas subpopulações foi mapeada em contexto espacial por meio de tecnologias avançadas de imagens multiplex.
Os resultados indicam que a interação entre células periodontais e o ambiente microbiano na boca desempenha um papel fundamental no desencadeamento da resposta imune do corpo. As descobertas sugerem que a forma como essas células mantêm a barreira bucal influencia diretamente a maneira como o organismo reage a ataques microbianos, agravando ou controlando a inflamação.
“A pesquisa destaca as intrincadas interações célula-micróbio e respostas imunes no nicho periodontal, abrindo caminho para intervenções de precisão que combatam a inflamação crônica”, afirmou a Dra. Inês Sequeira.
O estudo
A criação deste atlas integra os esforços do projeto Human Cell Atlas, do qual a Dra. Sequeira e o Dr. Byrd são líderes na área oral e craniofacial. Essa iniciativa busca mapear todas as células humanas em diferentes contextos e doenças.
Os pesquisadores esperam que as descobertas sirvam de base para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes contra a periodontite, contribuindo para melhorar a saúde bucal e geral de milhões de pessoas. Para mais informações sobre o projeto, acesse o site do Human Cell Atlas.