Nos Estados Unidos, cerca de 10 milhões de pessoas convivem com doenças orais pré-malignas – condições que se manifestam como manchas vermelhas, brancas ou ásperas na boca e que podem, ou não, evoluir para câncer. Embora apenas entre 7% e 10% desses casos progridam para a doença, a dificuldade está em identificar quem realmente corre risco e precisa de intervenção médica mais agressiva. A pesquisa está em desenvolvimento na Medical University of South Carolina.
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O cirurgião oncológico Dr. Dauren Adilbay está tentando apresentar opções a essas dificuldades por meio de um novo projeto de pesquisa. Especialista em cânceres de cabeça e pescoço, com foco em reconstrução microvascular e cirurgia de tireoide, Adilbay também atua como pesquisador. Ele já desenvolveu trabalhos com compostos fluorescentes utilizados para destacar áreas afetadas por câncer e estruturas delicadas, como nervos, durante cirurgias.
Agora, seu novo estudo pretende levar essa técnica um passo além. A proposta é anexar corantes fluorescentes a proteínas que já são reconhecidas como biomarcadores do câncer bucal. A partir disso, os pesquisadores vão observar como esses corantes se comportam em amostras de tecido humano.
Se a estratégia funcionar, ela poderá ser aplicada de forma clínica: o dentista administraria o corante ao paciente – por meio de injeção ou bochecho – e usaria uma câmera especial para verificar onde o corante se acumulou. Caso a substância se concentre em determinada área da mucosa oral, isso indicaria um alto potencial de transformação maligna. Com isso, a região poderia ser tratada de maneira mais precisa e agressiva, antes mesmo que o câncer se desenvolva.
“Hoje, o modelo de cuidado com essas doenças não está funcionando bem”, afirmou Adilbay. “Normalmente, acompanhamos esses pacientes ou partimos para intervenções agressivas como ablação a laser, crioablação ou cirurgia. Mas, na prática, nenhuma dessas abordagens mostrou resultados consistentes.”
A comunidade científica tem testado diversas alternativas, como o uso de vitamina E e metformina – um medicamento comum no tratamento da diabetes tipo 2 – na tentativa de evitar que essas lesões evoluam para câncer. Até agora, porém, os resultados têm sido decepcionantes.
Um dos poucos tratamentos experimentais que têm mostrado algum potencial é o uso do nivolumabe, um medicamento imunoterápico já utilizado em diversos tipos de câncer. No entanto, os efeitos colaterais da droga – que incluem problemas gastrointestinais, lesões nos pulmões e no fígado – podem ser severos demais, principalmente em pacientes que talvez nunca desenvolvam câncer.
“Oferecer esse tipo de tratamento agressivo a alguém que talvez nem venha a ter câncer pode ser um excesso”, ponderou o pesquisador.
Para Adilbay, uma ferramenta diagnóstica mais precisa é essencial para resolver esse dilema clínico: como escolher, com segurança, quem deve ser apenas monitorado e quem deve receber tratamento precoce e intensivo?
A técnica de fluorescência, se validada, pode não se restringir à boca. Outros órgãos com revestimento mucoso, como o cólon e os brônquios, também estão sujeitos a desenvolver câncer a partir de lesões pré-malignas. Nesse sentido, o projeto abre caminho para uma nova abordagem preventiva em diversas áreas da medicina oncológica.
O trabalho está em fase inicial, mas promete contribuir significativamente para a personalização do tratamento oncológico, reduzindo riscos desnecessários e melhorando as chances de detecção precoce do câncer.