Um estudo publicado em 19 de fevereiro na revista Microorganisms revelou que a quantidade de cópias do gene AMY1 no DNA de uma pessoa, em combinação com o consumo de amido, pode alterar a composição do microbioma oral, influenciando a saúde bucal.
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A pesquisa, conduzida por cientistas da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, analisou a relação entre esse gene e a presença de diferentes bactérias na boca. “A maioria das pessoas sabe que é importante escovar os dentes após consumir açúcar, mas dependendo do seu número de cópias de AMY1, talvez você deva ser igualmente cuidadoso depois de ingerir amidos”, explicou Angela Poole, autora do estudo e professora assistente de nutrição molecular.
Os pesquisadores coletaram amostras de saliva de 31 indivíduos, com diferentes quantidades de cópias do gene AMY1, e adicionaram amido para observar como a composição bacteriana mudava. O estudo constatou que a diversidade de bactérias diminuiu com a presença do amido. Nos indivíduos com um número elevado de AMY1, houve uma redução significativa das bactérias Atopobium e Veillonella, enquanto o Streptococcus aumentou.
Essas três bactérias estão associadas a doenças bucais, como cáries e doenças gengivais. “Não é uma questão de ser bom ou ruim, mas sim de interação”, explicou Poole. “O número de cópias de AMY1 e as espécies presentes na boca podem influenciar o risco de desenvolver essas condições.”
O gene AMY1 é responsável pela produção da enzima amilase salivar, que auxilia na quebra do amido na boca. Estudos anteriores já apontavam uma relação entre esse gene e problemas como cáries e doença periodontal. Poole também identificou, em pesquisas anteriores, que indivíduos com maior quantidade de cópias de AMY1 apresentam níveis elevados da bactéria Porphyromonas endodontalis, associada à periodontite.
Resultados
Os resultados sugerem que o microbioma oral evoluiu em resposta ao aumento das cópias do gene AMY1, especialmente em populações com histórico de consumo elevado de amido. No estudo, realizado na cidade de Ítaca, o número de cópias do gene variou de duas a 20 entre os participantes.
“Populações com acesso histórico a dietas ricas em amido tendem a ter mais cópias desse gene”, explicou Poole. “Isso fazia sentido do ponto de vista evolutivo, pois conferia uma vantagem de sobrevivência ao permitir a digestão mais eficiente do amido.”
Nos indivíduos com maior número de cópias de AMY1, os cientistas observaram um aumento da população de bactérias como Streptococcus, que se alimentam dos açúcares derivados do amido. “Se a pessoa tem muitas cópias de AMY1, quebra o amido de forma mais eficiente e, consequentemente, bactérias que se alimentam desses açúcares crescem mais rapidamente na boca”, afirmou Poole. “Isso mostra como nós e os microrganismos que vivem em nossa boca evoluímos juntos.”
O estudo contou com a participação de outros pesquisadores da Universidade Cornell, incluindo Lynn M. Johnson, diretora da Cornell Statistical Consulting Unit; a doutoranda Megan Eno; a ex-gerente de laboratório Jennifer Ren; e os pesquisadores Alizeh Khan e Shuai Man.