Pesquisas recentes têm apontado para o potencial da rapamicina, um medicamento imunossupressor utilizado na prevenção de rejeição de órgãos em transplantados, como uma alternativa à doença periodontal. Em experimentos anteriores, estudos em roedores indicaram que a substância pode ter propriedades de prolongamento de vida, despertando interesse na análise de seus efeitos em doenças associadas ao envelhecimento. O estudo foi publicado na eLife.
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Segundo Jonathan An, professor assistente interino do Departamento de Ciências da Saúde Oral da Universidade de Washington, em Seattle, EUA, a equipe formulou a hipótese de que o envelhecimento biológico está diretamente relacionado à doença periodontal e que intervenções que retardem o envelhecimento podem ajudar a controlar o avanço dessa condição.
Para testar essa ideia, os cientistas administraram rapamicina a ratos de meia-idade durante oito semanas e compararam a saúde bucal desses animais com a de ratos da mesma idade que não receberam o medicamento. Assim como nos humanos, ratos também apresentam perda óssea, inflamação e alteração nas bactérias orais conforme envelhecem.
Utilizando tomografia microcomputadorizada, uma técnica de imagem 3D, a equipe mediu a quantidade de osso periodontal — tecido ósseo ao redor dos dentes — dos animais. Os ratos tratados apresentaram não só maior volume ósseo, como desenvolveram ossos novos durante o tratamento.
Além disso, a análise revelou que os ratos tratados com rapamicina tinham menos inflamação gengival. A sequenciação genética das bactérias presentes na boca dos roedores indicou uma redução nas bactérias associadas a doenças gengivais, resultando numa composição bacteriana mais próxima da observada em ratos jovens e saudáveis.
De acordo com o professor Matt Kaeberlein, coautor do estudo e docente de Patologia e Ciências da Saúde Oral na Universidade de Washington, “ao focar no processo de envelhecimento com o tratamento por rapamicina, nossos resultados sugerem que podemos desacelerar o avanço da doença gengival e até mesmo reverter suas características clínicas.”
No entanto, Kaeberlein alerta para os efeitos colaterais da rapamicina. Embora já seja usada em tratamentos de outras condições, o medicamento pode aumentar a suscetibilidade a infecções e o risco de diabetes, especialmente em altas doses contínuas, como as aplicadas em pacientes transplantados. “Ensaios clínicos em humanos são necessários para determinar se os benefícios para a saúde bucal superam esses riscos,” conclui Kaeberlein.