Um estudo realizado pela Divisão de Cirurgia Oral e Maxilofacial (OMFS) da Faculdade de Odontologia da Universidade de Hong Kong (HKU) revelou que a ansiedade em tratamentos dentários está relacionada tanto a fatores odontológicos quanto a experiências adversas na infância. O estudo, liderado pelo professor Mike YY Leung, destacou que essa condição pode impactar significativamente a saúde bucal e o bem-estar geral das pessoas.
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A pesquisa, publicada em dois artigos acadêmicos, explorou essas conexões e buscou aumentar a conscientização sobre a necessidade de uma abordagem multidisciplinar para tratar a ansiedade em consultórios odontológicos. Segundo o professor Leung, o objetivo é “inspirar mais pesquisas e promover a cooperação interdisciplinar para ajudar as pessoas a superar seus medos e buscar os cuidados odontológicos necessários”.
Fatores odontológicos que geram ansiedade
No primeiro estudo, publicado em dezembro de 2022 no International Journal of Environmental Research and Public Health, a equipe do OMFS analisou 145 vídeos do YouTube sobre medo, ansiedade e fobia dentária. A análise revelou que esses vídeos, embora populares, carecem de informações claras sobre como definir ou diagnosticar essas condições. Muitos trazem testemunhos de pacientes que relatam situações de medo, destacando tanto fatores cognitivos quanto comportamentais.
Entre os fatores cognitivos, a percepção de falta de controle durante os tratamentos dentários foi uma das principais causas de ansiedade, com relatos como: “O dentista me fez sentir impotente”. Já os fatores comportamentais incluíam traumas diretos e o aprendizado através de modelos ou instruções verbais, como no depoimento: “Meus pais me disseram que meu tio morreu no consultório do dentista”.
Traumas na infância e sua influência na ansiedade dentária
O segundo estudo, publicado na Frontiers in Psychology, investigou a relação entre experiências adversas na infância (ACE, na sigla em inglês) e a ansiedade em tratamentos odontológicos. Com 171 participantes, a pesquisa revelou uma correlação significativa entre os traumas na infância e a ansiedade dentária. Os participantes que relataram maiores níveis de negligência emocional e física, abuso sexual e exposição ao abuso de substâncias na família apresentaram pontuações mais altas de ansiedade ao visitar o dentista.
Os dados foram obtidos por meio de questionários online que avaliaram tanto as ACEs quanto os níveis de ansiedade dentária dos participantes. Segundo os pesquisadores, quanto mais acumuladas as experiências adversas, maior a probabilidade de a pessoa desenvolver medo ou fobia dentária.
Abordagem integrada para tratamento
Os estudos apontam para a necessidade de uma abordagem mais ampla no tratamento da ansiedade odontológica, considerando não apenas os fatores relacionados à prática odontológica, mas também traumas e questões psicológicas que podem influenciar essa condição. A equipe de pesquisa defende que dentistas considerem as experiências de vida dos pacientes ao avaliar as causas da ansiedade e que trabalhem em colaboração com profissionais de saúde mental para desenvolver estratégias eficazes de tratamento.
A coinvestigadora Natalie Wong destacou a importância de medidas simples que podem ajudar a mitigar a ansiedade, como evitar assustar crianças com histórias negativas sobre o dentista. Segundo ela, “a ansiedade dentária é um problema complexo, com inúmeros fatores contribuintes, e é necessário aumentar a conscientização sobre suas causas e tratamentos”.
Os pesquisadores esperam que futuras investigações possam continuar a explorar as ligações entre traumas na infância e a ansiedade dentária, bem como a eficácia de intervenções que abordem tanto os aspectos odontológicos quanto psicológicos dessa questão.