Uma pesquisa publicada na edição especial de dezembro do Journal of Clinical Periodontology trouxe à tona descobertas promissoras sobre a periodontite, uma das condições médicas mais prevalentes no mundo, afetando entre 20% e 50% da população global. O estudo destacou um aumento significativo nos níveis de nove proteínas inflamatórias na saliva de pacientes que apresentaram progressão da doença em comparação àqueles sem avanço.
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A pesquisa, liderada pela Dra. Flavia Teles, Professora Associada do Departamento de Ciências Básicas e Translacionais da Penn Dental Medicine, propõe um futuro onde testes de saliva possam ser usados como ferramentas de diagnóstico e monitoramento para pacientes com periodontite. “Podemos imaginar um kit de teste de saliva baseado nessas descobertas, que poderia ser usado por dentistas ou até mesmo pelos próprios pacientes em casa. Seria uma ferramenta personalizada valiosa para avaliar riscos e adaptar cuidados”, afirmou Teles.
A periodontite é caracterizada por uma infecção bacteriana crônica e inflamação das gengivas, que, se não tratada, pode levar à perda óssea e dentária. Nos Estados Unidos, cerca de 64 milhões de pessoas são afetadas pela doença.
Embora a progressão de casos leves para graves seja uma preocupação comum, até então faltavam métodos eficazes para prever essa evolução. Testes de saliva ou sangue poderiam oferecer pistas moleculares, mas estudos anteriores apresentavam limitações, como amostras reduzidas e análises restritas a um único momento.
O estudo de Teles superou esses desafios ao incluir 415 participantes, sendo 302 com sinais de periodontite precoce a moderada/grave e 113 sem sinais da doença. Durante um ano, os pacientes passaram por check-ups bimensais, com coleta de saliva e sangue. As amostras foram analisadas quanto a dez proteínas inflamatórias na saliva e cinco no sangue.
Os resultados indicaram que pacientes com maior progressão da doença — definida como três ou mais locais com perda de fixação clínica — apresentaram níveis elevados de proteínas como interferon-gama, IL-6, VEGF, IL-1β e MMP-8 na saliva. Após tratamento periodontal não cirúrgico, esses níveis diminuíram consideravelmente. Por outro lado, os níveis de proteínas inflamatórias no sangue não variaram significativamente com a progressão da doença, embora algumas, como MMP-8 e proteína C-reativa, tenham mostrado redução após o tratamento.
Esses dados sugerem que a análise da saliva pode se tornar uma ferramenta eficaz para prever a progressão da periodontite e monitorar a resposta ao tratamento.
Novos caminhos para a pesquisa
Os próximos passos incluem o estudo de espécies bacterianas e metabólitos em amostras dos mesmos pacientes, assim como o uso de inteligência artificial para a análise de dados clínicos e laboratoriais. Segundo Teles, que também recebeu o Prêmio de Inovação em Inteligência Artificial em Saúde Oral, a esperança é refinar a abordagem e tornar os cuidados dentários mais personalizados e acessíveis.
“Com a análise de dados, podemos oferecer soluções que beneficiem tanto os pacientes quanto os profissionais de saúde, promovendo avanços significativos no tratamento da periodontite”, concluiu a pesquisadora.