Pesquisas recentes indicam que as bactérias presentes na boca podem desencadear efeitos inflamatórios que vão muito além da saúde bucal, influenciando diretamente doenças sistêmicas, como a artrite reumatoide (AR). Um estudo publicado no International Journal of Oral Science revelou que o patógeno periodontal Aggregatibacter actinomycetemcomitans (A. actinomycetemcomitans) está intimamente ligado ao desenvolvimento e à piora da AR, uma doença autoimune que afeta as articulações.
- Algoritmo de IA alcança precisão de 98% em diagnósticos
- Conheça o catálogo de cursos da Dental Press e escolha o melhor para você
Nos últimos anos, estudos clínicos sugeriram uma relação entre a presença dessa bactéria periodontal e o agravamento da artrite, mas os detalhes moleculares dessa interação ainda eram desconhecidos. Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade Médica e Dentária de Tóquio (TMDU), no Japão, avançou nessa investigação, explorando os mecanismos envolvidos por meio de estudos em modelos animais.
A equipe utilizou um modelo de artrite induzida por anticorpos de colágeno em ratos, um método amplamente reconhecido que simula características da artrite reumatoide humana. A infecção com A. actinomycetemcomitans causou um aumento do inchaço nas articulações, maior infiltração de células no revestimento articular e níveis elevados da citocina inflamatória interleucina-1β (IL-1β), um marcador chave da inflamação.
O estudo também revelou que esses sintomas de agravamento da AR poderiam ser controlados com a administração de clodronato, um agente químico que esgota os macrófagos, células do sistema imunológico envolvidas na inflamação. Isso sugere que os macrófagos desempenham um papel crucial no agravamento da artrite induzida pela infecção bacteriana.
O papel do inflamassoma na resposta inflamatória
Investigações adicionais mostraram que a infecção por A. actinomycetemcomitans desencadeou a produção de IL-1β em macrófagos derivados da medula óssea de camundongos. Essa resposta levou à ativação de um complexo multiproteico chamado inflamassoma, que é fundamental para regular a resposta inflamatória do corpo às infecções.
Os pesquisadores deram mais um passo ao usar camundongos geneticamente modificados, deficientes na enzima caspase-11. Nessas cobaias, a ativação do inflamassoma pela bactéria foi significativamente reduzida, e os sintomas da artrite também foram menos severos, reforçando a importância da caspase-11 nesse processo inflamatório.
Novas perspectivas para o tratamento da artrite reumatoide
“As nossas descobertas fornecem novos conhecimentos sobre a conexão entre bactérias periodontais e a exacerbação da artrite, por meio da ativação do inflamassoma”, explicou o professor Toshihiko Suzuki, um dos autores do estudo. “Esses resultados podem abrir caminho para novos tratamentos clínicos para a artrite reumatoide induzida por infecção bacteriana”.
Além disso, os pesquisadores sugerem que essas descobertas podem contribuir para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas não só para a artrite, mas também para outras doenças sistêmicas relacionadas a bactérias periodontais, como a doença de Alzheimer.
O estudo oferece novas perspectivas sobre o impacto das infecções bucais em outras condições sistêmicas e reforça a necessidade de um cuidado integrado entre a saúde bucal e o tratamento de doenças autoimunes e inflamatórias.