Um estudo conduzido pelo Instituto de Ciências de Tóquio, no Japão, aponta que o microRNA-27a pode desempenhar um papel decisivo na regeneração óssea. A molécula foi capaz de estimular simultaneamente duas vias essenciais nesse processo: a via de sinalização Wnt e a via da proteína morfogenética óssea (BMP).
- USP desenvolve cerâmica odontológica sustentável premiada
- Conheça os cursos da Dental Press para 2026
Os resultados foram publicados em 16 de fevereiro de 2025, no Journal of Translational Medicine (Volume 23, Edição 189). Segundo os pesquisadores, a descoberta esclarece mecanismos celulares fundamentais para o desenvolvimento de novos tecidos semelhantes ao osso, o que pode orientar o futuro da regeneração tecidual, especialmente em tratamentos odontológicos.
A cárie dentária continua sendo uma das condições mais comuns de saúde bucal, capaz de causar dor intensa, desconforto e, em casos graves, até perda do dente. Quando não tratada, a infecção bacteriana associada à resposta inflamatória do organismo pode levar à reabsorção óssea — a destruição do tecido ósseo ao redor da raiz dentária. Tratamentos convencionais para casos avançados, incluindo cirurgias, frequentemente deixam defeitos ósseos que exigem enxertos complexos.
Nesse cenário, cresce o interesse de pesquisadores em engenharia de tecidos e regeneração óssea. Estudos recentes apontam os microRNAs (miRNAs) — pequenas sequências de RNA não codificante — como elementos-chave na recuperação do tecido ósseo, embora seus mecanismos de ação ainda não sejam totalmente compreendidos.
Para aprofundar esse conhecimento, uma equipe liderada pelo professor associado Nobuyuki Kawashima, pelo pós-graduando Ziniu Yu e pelo professor Takashi Okiji realizou experimentos com células-tronco da polpa dentária humana (hDPSCs) e modelos animais. As hDPSCs são conhecidas por sua capacidade de se diferenciar em odontoblastos e osteoblastos, células essenciais para a formação de tecidos duros.
“Descobrimos que o miRNA-27a exerce um efeito anti-inflamatório ao suprimir a via NF-κB, mas também pode promover a regeneração ao ativar as vias Wnt e BMP”, explicou Kawashima. “Ao superexpressar essa molécula nas hDPSCs, investigamos como ela poderia direcionar essas células para formar novos tecidos.”
Os pesquisadores observaram que o microRNA-27a apresentava níveis elevados em células comprometidas com a diferenciação odontoblástica e osteoblástica. As hDPSCs modificadas com o mimético de miRNA-27a também exibiram aumento significativo na expressão de marcadores dessas linhagens celulares e maior formação de nódulos mineralizados.
Outro resultado relevante foi o aumento da expressão dos fatores de transcrição TCF7 e LEF1, essenciais na via Wnt. A equipe identificou ainda dois genes — DKK3 e SOSTDC1 — como alvos reguladores do miRNA-27a. Essas proteínas atuam como freios biológicos da via Wnt; sua inibição pelo microRNA sugere que o miRNA-27a facilita a ativação mais eficiente dos sinais de formação óssea.
A pesquisa também confirmou o impacto do miRNA-27a na ativação da via BMP, reforçando seu papel na promoção da diferenciação odontoblástica e osteoblástica.
Para validar os resultados em um modelo vivo, os cientistas implantaram estruturas de colágeno com hDPSCs expressando o microRNA-27a em defeitos artificiais no osso craniano de cobaias. O grupo tratado apresentou formação de novo tecido semelhante ao osso — algo não observado no grupo de controle.
Perspectivas
Kawashima ressalta o potencial clínico da descoberta. “Os resultados indicam que o miRNA-27a pode desempenhar um papel crucial na formação de tecidos semelhantes ao osso. Isso abre novas possibilidades para o desenvolvimento de terapias regenerativas voltadas à reparação de defeitos dentários e craniofaciais”, afirma.
O estudo reforça o valor translacional do miRNA-27a e sugere que a molécula pode se tornar um importante recurso terapêutico em procedimentos de regeneração do tecido dentário.

