As doenças da boca, dentes e maxilares são responsáveis pelo terceiro maior custo de tratamentos na União Europeia, ficando atrás apenas das doenças cardiovasculares e do diabetes. A pesquisa, publicada no Journal of Dental Research, integra o primeiro Relatório Global de Estado de Saúde Oral da Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Plano de Ação Global de Saúde Oral 2023-2030.
O estudo, liderado pelo professor Stefan Listl, chefe da Seção de Saúde Oral do Instituto de Saúde Global de Heidelberg, avaliou dados de 194 países. Foram analisados tanto os custos diretos, como os de tratamentos e prevenção, quanto os custos indiretos, representados pelas perdas de produtividade causadas por doenças como cáries, periodontite crônica e perda dentária total.
Os resultados apontam que, em 2019, os custos globais das doenças orais chegaram a 710 bilhões de dólares (cerca de 640 bilhões de euros). Desse total, 387 bilhões de dólares (341 bilhões de euros) correspondem a custos diretos, enquanto 323 bilhões de dólares (299 bilhões de euros) foram causados por perdas de produtividade.
A perda dentária e a periodontite foram as maiores responsáveis pelos custos indiretos, representando cerca de 75% das perdas de produtividade mundial.
Na Alemanha, em 2019, os custos diretos somaram 30,9 bilhões de dólares (27,8 bilhões de euros), ou aproximadamente 372 dólares (334 euros) per capita. Já as perdas de produtividade chegaram a 19,4 bilhões de dólares (17,5 bilhões de euros), ou 232 dólares (208 euros) per capita.
O estudo também revelou disparidades significativas no acesso e nos gastos com saúde bucal. Nos países de baixa renda, o investimento médio anual foi de apenas 0,52 dólares (0,47 euros) por pessoa em 2019. Por outro lado, países de alta renda gastaram em média 260 dólares (233 euros) per capita no mesmo período.
Apesar de os países desenvolvidos, como a Alemanha, apresentarem maiores investimentos, o professor Listl alerta para desafios locais, como a falta de consultórios odontológicos em áreas rurais e a dificuldade de acesso a tratamentos por parte de grupos vulneráveis, como pessoas que necessitam de cuidados contínuos.
Mais de 3,5 bilhões de pessoas em todo o mundo sofrem de doenças orais, segundo a OMS. Essas condições estão entre as doenças crônicas mais comuns globalmente, embora muitas possam ser prevenidas ou tratadas precocemente.
O professor Benoit Varenne, do Programa de Saúde Oral da OMS, destacou a importância do trabalho de Listl e sua equipe na conscientização sobre a saúde bucal. “Este estudo foi crucial para priorizar políticas de saúde bucal que sejam eficazes em termos de custo e socialmente equitativas”, afirmou.
Para enfrentar o impacto econômico e social das doenças orais, a OMS defende intervenções preventivas, como a regulamentação do consumo de açúcar e a ampliação do acesso aos cuidados dentários. Além disso, é necessário um planejamento adequado de pessoal e medidas que garantam informações atualizadas sobre os custos das doenças orais.
Apresentação do estudo
Os resultados do estudo foram apresentados durante a primeira reunião global de saúde bucal da OMS, realizada em novembro de 2023, em Bangcoc, Tailândia. O professor Listl participou como cocordenador de um evento paralelo intitulado “Investing More, Investing Better: Using Economics to Help Shape Oral Health Policy” (Investir mais, investir melhor: usando a economia para moldar políticas de saúde bucal).
O estudo reforça a urgência de políticas públicas voltadas para a saúde bucal, visando alcançar a cobertura universal e reduzir o impacto econômico das doenças orais em todo o mundo.