Um dos desenhos mais icônicos da história da arte, o Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci, pode ter revelado um novo segredo, e, surpreendentemente, quem o decifrou não foi um historiador da arte ou um matemático, mas um dentista. O britânico Rory Mac Sweeney afirma ter identificado, na famosa representação das proporções humanas, um triângulo equilátero com profundas implicações geométricas e anatômicas, ignorado por séculos. O assunto foi destaque no jornal The Daily Mail.
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A revelação foi publicada recentemente na revista científica Journal of Mathematics and the Arts, e reacende o fascínio por uma das obras mais estudadas do Renascimento. Criado por Da Vinci no século 15, o Homem Vitruviano representa um homem com braços e pernas abertos, inscrito simultaneamente em um círculo e um quadrado. A imagem, baseada nos escritos do arquiteto romano Marco Vitrúvio, busca ilustrar a harmonia e as proporções ideais do corpo humano.
No entanto, segundo Mac Sweeney, que se formou pela Trinity College, em Dublin, o desenho esconde mais do que proporções: ele incorpora uma estrutura geométrica que antecipa conceitos científicos modernos. “Estávamos procurando uma resposta complicada, mas Leonardo já apontava para este triângulo”, afirmou o pesquisador ao jornal Daily Mail.
Triângulo escondido
A chave para a descoberta está no que o dentista chama de “triângulo de Bonwill” – uma figura conhecida na odontologia, que representa a relação ideal entre os côndilos mandibulares e os dentes incisivos inferiores. No desenho de Da Vinci, Mac Sweeney percebeu que, ao traçar um triângulo equilátero sobre as pernas da figura, obtém-se não apenas uma referência anatômica precisa, mas uma proporção matemática essencial para a estrutura do esboço.
Segundo o estudo, essa geometria determina a relação entre o círculo e o quadrado do Homem Vitruviano, que seria de aproximadamente 1,64 – valor surpreendentemente próximo de 1,6333, número frequentemente encontrado em estruturas naturais altamente eficientes, como a distribuição de átomos em certos cristais e a conformação do crânio humano.
“Acredita-se que esse número represente um padrão de eficiência e resistência nas formas naturais. Da Vinci parece ter intuído isso muito antes da ciência formalizá-lo”, destacou o dentista.
À frente de seu tempo
Embora tenha se baseado nos textos de Vitrúvio, Leonardo foi além das descrições do arquiteto romano. Vitrúvio não deixou instruções matemáticas para converter suas ideias em um desenho concreto, mas Da Vinci teria criado um sistema geométrico próprio. Para Mac Sweeney, o uso do triângulo equilátero não foi apenas uma decisão estética, mas um recurso matemático intencional.
“Isso mostra que o Homem Vitruviano é mais do que uma obra de arte. É uma hipótese científica extraordinária, que conecta arte, matemática e anatomia de forma brilhante”, afirmou.
A nova análise reforça a ideia de que Da Vinci não apenas reproduzia o corpo humano com fidelidade, mas procurava compreender suas leis fundamentais. Estudos anteriores já haviam demonstrado que as proporções do desenho renascentista coincidem em grande parte com as médias corporais do ser humano moderno. Um levantamento com 64 mil pessoas fisicamente ativas revelou que medidas como a altura da virilha, a largura dos ombros e o comprimento da coxa permanecem quase idênticas às registradas por Leonardo.
Nova perspectiva
A descoberta de Mac Sweeney amplia ainda mais o legado de Da Vinci como um gênio multidisciplinar. Médico autodidata, engenheiro, pintor e anatomista, o artista florentino parece ter deixado pistas matemáticas em sua obra que só agora, mais de cinco séculos depois, começam a ser compreendidas em toda a sua complexidade.
Para o dentista britânico, o achado também é um lembrete do poder da interdisciplinaridade. “Às vezes, é preciso olhar para as grandes obras com um novo par de olhos. Foi isso que aconteceu aqui”, concluiu.
A redescoberta do triângulo escondido no Homem Vitruviano é mais um capítulo na história de um desenho que, ao que tudo indica, ainda tem muito a revelar.