Um estudo conduzido por pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da Universidade de São Paulo (USP) revelou que o uso de cigarros eletrônicos, os chamados vapes, pode causar danos significativos à saúde bucal. Os cientistas constataram que a exposição ao vapor desses dispositivos aumenta os riscos de cáries e altera a superfície dos dentes, tornando-os mais vulneráveis. A informação foi divulgada no Jornal da USP.
Os cigarros eletrônicos funcionam por meio da vaporizacão de um líquido contendo nicotina, inalado pelo usuário. A popularização desse tipo de produto e a falta de estudos sobre seus impactos na saúde bucal motivaram a pesquisa conduzida pelo Departamento de Odontologia Restauradora da Forp.
Para avaliar os efeitos do uso prolongado dos vapes nos dentes, os pesquisadores desenvolveram um equipamento personalizado capaz de simular a inalação do vapor em dentes humanos. O protocolo experimental previa a inalação de tragos de três segundos com intervalos de um minuto, repetidos durante quatro horas diárias por 30 dias consecutivos.
O estudo utilizou dentes molares humanos provenientes do Biobanco de Dentes Humanos da Forp. A exposição ao vapor foi realizada por meio de uma máquina equipada com bomba de sucção, mangueiras e cronômetro. Ao longo da pesquisa, os dentes foram submetidos a 104 horas de exposição, consumindo um total de 52 ml de líquido vaporizado, equivalente a aproximadamente 1.733 cigarros convencionais.
A pesquisa revelou a desmineralização do esmalte e da dentina, tornando essas estruturas mais vulneráveis a danos e ao desenvolvimento de cáries. Segundo a professora Aline Evangelista de Souza Gabriel, uma das coordenadoras do estudo, o aquecimento do líquido dos cigarros eletrônicos cria um ambiente propício para a proliferação de bactérias prejudiciais.
Outro achado importante da pesquisa foi a facilitação da adesão da bactéria Streptococcus mutans à superfície dentária. Essa espécie bacteriana é conhecida por desempenhar um papel fundamental na formação de cáries, uma vez que utiliza componentes do líquido vaporizado para formar um biofilme aderente ao esmalte dental.
A pesquisadora e pós-doutoranda Vitória Leite Paschoini explicou que a superfície dos dentes expostos ao vapor do cigarro eletrônico apresentou maior irregularidade, favorecendo a adesão desse biofilme. “Com a desmineralização, o esmalte perde resistência e se torna mais suscetível à cárie”, ressaltou.
Impacto na saúde oral
A pesquisa, coordenada também pelo professor Manoel Damião de Sousa-Neto e com a participação da pós-doutoranda Alice Corrêa Silva Sousa, foi publicada na revista Archives of Oral Biology.
Os resultados são considerados relevantes, pois ainda há escassez de estudos de longo prazo sobre os impactos do uso dos vapes na saúde bucal. “Embora a literatura científica já tenha apontado riscos cardiovasculares e respiratórios associados ao cigarro eletrônico, ainda não há um consenso definitivo sobre suas consequências para a saúde oral”, concluiu Sousa-Neto.
A equipe ressalta a necessidade de novos estudos para aprofundar a compreensão dos efeitos dos vapes sobre os tecidos dentários e outros aspectos da saúde bucal, alertando para a importância de regulamentação e campanhas de conscientização sobre os riscos do uso desses dispositivos.