Um novo estudo indica que mais de uma dúzia de espécies bacterianas presentes na boca estão associadas a um aumento de 50% nas chances de desenvolver carcinoma espino-celular de cabeça e pescoço (CECP). Pesquisas anteriores já haviam mostrado que algumas dessas bactérias contribuem para doenças periodontais, que podem causar infecções graves nas gengivas e afetar os ossos maxilares.
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Especialistas observam que indivíduos com má saúde bucal têm maior vulnerabilidade ao CECP, que inclui os tipos mais comuns de câncer na boca e na garganta. Embora estudos menores tenham relacionado algumas bactérias do microbioma oral a esses cânceres, os tipos exatos de micróbios envolvidos não eram claros até agora.
Liderada por pesquisadores da NYU Langone Health e do Perlmutter Cancer Center, a nova análise examinou a composição genética de micróbios orais coletados de homens e mulheres saudáveis. Dentre as centenas de bactérias identificadas, 13 mostraram aumentar ou diminuir o risco de CECP. Juntas, essas bactérias estão associadas a uma probabilidade 30% maior de desenvolver câncer, e, em combinação com outras cinco frequentemente encontradas em doenças gengivais, o risco total aumenta em 50%.
“As nossas descobertas oferecem uma nova perspectiva sobre a relação entre o microbioma oral e o câncer de cabeça e pescoço”, afirma o principal autor do estudo, Soyoung Kwak, pós-doutorando no Departamento de Saúde da População da NYU Grossman School of Medicine. Ele ressalta que essas bactérias podem atuar como biomarcadores para identificar indivíduos em alto risco.
Pesquisas anteriores encontraram certas bactérias em amostras de tumores de pacientes diagnosticados, e um estudo de 2018 explorou como os micróbios em participantes saudáveis podem contribuir para o risco futuro de CECP. O relatório mais recente, publicado na revista JAMA Oncology em 26 de setembro, é a maior análise desse tipo até o momento e também investiga se fungos comuns, como leveduras e bolores, desempenham um papel no CECP, mas não encontrou evidências nesse sentido.
Para o estudo, os pesquisadores analisaram dados de três investigações que acompanhavam 159.840 americanos para entender melhor a relação entre dieta, estilo de vida e histórico clínico com o câncer. Após a inscrição, os participantes realizaram bochechos com um elixir bucal, fornecendo amostras de saliva para teste. Os pesquisadores monitoraram a saúde dos participantes por cerca de 10 a 15 anos.
Sobre a análise
O estudo analisou o DNA bacteriano e fúngico das amostras de saliva e comparou 236 pacientes diagnosticados com CECP a 458 indivíduos aleatoriamente selecionados que não apresentaram câncer. Os pesquisadores consideraram fatores como idade, raça e hábitos de consumo de tabaco e álcool.
“Os nossos resultados reforçam a importância de manter bons hábitos de higiene oral”, afirma Richard Hayes, coautor sênior do estudo. “Escovar os dentes e usar fio dental não apenas previnem doenças periodontais, mas também podem proteger contra o câncer de cabeça e pescoço.”
Os investigadores ressaltam que o estudo foi projetado para identificar correlações entre o risco de câncer e certas bactérias na boca, e não para estabelecer uma relação de causa e efeito, o que exigirá investigações adicionais. “Agora que identificamos as principais bactérias que podem contribuir para essa doença, planejamos explorar os mecanismos envolvidos e como podemos intervir de forma eficaz”, conclui Jiyoung Ahn, coautor sênior e professor na NYU Grossman School of Medicine.
Ahn alerta que, embora a associação com bactérias seja preocupante, os casos de câncer de cabeça e pescoço ainda são relativamente raros.