Um novo estudo realizado pela Universidade de Gotemburgo, na Suécia, revelou a presença constante de micropartículas de titânio na mucosa oral ao redor de implantes dentários. Publicada na revista científica Communications Medicine, a pesquisa aponta que essas partículas podem influenciar a expressão de genes relacionados à inflamação e à cicatrização de feridas — e reacende o debate sobre os efeitos de longo prazo do uso desse metal em tratamentos odontológicos.
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Segundo registros suecos, aproximadamente 5% da população adulta do país possui implantes dentários — o que, de acordo com os pesquisadores, pode significar que milhões de pessoas carregam micropartículas de titânio no tecido bucal. Apesar do achado, os especialistas garantem que não há motivo imediato para alarme, mas defendem a necessidade de investigações mais aprofundadas.
“O titânio é um material bem estudado e usado há décadas. É biocompatível e seguro, mas nossas descobertas mostram que precisamos compreender melhor o que acontece com essas micropartículas ao longo do tempo. Elas permanecem no tecido? Se espalham para outras partes do corpo?”, questiona Tord Berglundh, professor sênior de periodontia na Academia Sahlgrenska, da Universidade de Gotemburgo.
Embora estudos anteriores já tivessem demonstrado a presença de partículas de titânio em tecidos inflamados — especialmente em casos de peri-implantite, uma condição inflamatória ao redor dos implantes —, a nova pesquisa foi além. Os cientistas encontraram micropartículas em todos os implantes analisados, incluindo aqueles sem qualquer sinal clínico de inflamação.
A equipe estudou amostras de tecido de 21 pacientes que possuíam múltiplos implantes dentários adjacentes. Para garantir a precisão dos resultados, cada paciente foi utilizado como seu próprio controle: os pesquisadores coletaram tecidos ao redor de implantes saudáveis e de implantes acometidos pela peri-implantite, comparando os dois.
A densidade das partículas variou entre os indivíduos, mas se manteve semelhante em implantes com e sem inflamação dentro do mesmo paciente. As análises foram feitas em parceria com a Universidade de Uppsala, utilizando uma técnica de alta precisão chamada μ-PIXE, que permite mapear a distribuição de elementos químicos em amostras de tecido.
Implante segue seguro
Apesar dos resultados, os pesquisadores reforçam que o titânio continua sendo um dos materiais mais seguros e eficazes utilizados na odontologia moderna. A biocompatibilidade do metal é amplamente reconhecida, e os implantes dentários apresentam altas taxas de sucesso clínico.
O estudo, no entanto, destaca a importância de manter uma vigilância contínua sobre os efeitos de longo prazo do uso de titânio no corpo humano, especialmente com o avanço de novas técnicas e materiais na implantodontia.
Com os avanços na tecnologia de imagem e análise genética, os cientistas esperam poder responder, nos próximos anos, a questões cruciais sobre o comportamento dessas micropartículas: elas permanecem confinadas à mucosa oral? Podem migrar para outras partes do organismo? Qual o impacto real sobre o sistema imunológico dos pacientes?
Até que essas perguntas sejam respondidas, o que permanece é o chamado da ciência para uma compreensão mais profunda dos efeitos de materiais amplamente utilizados na prática clínica.