Um estudo da Faculdade de Odontologia de Ribeirão Preto (Forp) da USP revelou que lesões dentárias traumáticas relacionadas à prática esportiva, embora frequentes, ainda não contam com um manejo clínico padronizado. A conclusão veio após a análise de oito estudos de caso em Odontologia do Esporte. A informação é do Jornal da USP.
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Conforme os pesquisadores, a maioria dos traumas envolve os dentes anteriores, especialmente os incisivos superiores, por estarem mais expostos durante a prática esportiva. As fraturas apareceram como o tipo de lesão mais comum, seguidas pela avulsão (quando o dente se desloca para fora do alvéolo) e pela intrusão dentária (quando é empurrado para dentro da cavidade). Nenhum dos pacientes avaliados utilizava proteção bucal ou facial no momento do acidente.
“As estratégias de tratamento variam bastante entre profissionais, mesmo em situações semelhantes. Isso pode impactar diretamente o prognóstico do dente e a saúde geral do atleta”, explica Alice Correa Silva Sousa, pesquisadora da Forp e primeira autora do artigo.
A revisão sistemática avaliou relatos de pacientes entre 9 e 36 anos, de diferentes modalidades esportivas, publicados entre 2005 e 2024. A maioria dos acidentes ocorreu em esportes de contato ou com alto risco de impacto facial: basquete (três casos), futebol (dois), vôlei, golfe e ciclismo (um caso cada).
No golfe, um menino de 9 anos teve avulsão do incisivo central após ser atingido por uma bola. O dente foi recolocado no alvéolo pela família e, no mesmo dia, reposicionado e imobilizado em atendimento clínico, preservando sua função. Já em um acidente de bicicleta, um adolescente de 15 anos perdeu três dentes anteriores. Como o atendimento imediato não foi feito, os dentes não puderam ser reimplantados. O jovem passou a usar um mantenedor de espaço até atingir idade para implantes.
Em outro episódio, um jogador de basquete de 21 anos sofreu fraturas horizontais em dentes anteriores. Após restauração com resina composta, voltou a se acidentar sete meses depois e precisou extrair dois dentes já reconstruídos.
Atendimento imediato
Os pesquisadores reforçam que o tempo é um fator determinante. Intervenções rápidas podem preservar o dente, reduzir complicações como necrose pulpar, reabsorção radicular ou perda dentária e permitir a recuperação mais segura do atleta.
“Mesmo com um tratamento inicial bem-sucedido, complicações podem surgir meses ou anos depois. O acompanhamento periódico, com exames clínicos e radiográficos, é essencial para garantir o sucesso do tratamento a longo prazo”, destaca Alice Sousa.
Negligência
O uso de protetores bucais ou faciais é apontado como a medida mais eficaz para prevenir traumas ou reduzir sua gravidade. Apesar disso, a adesão continua baixa. Segundo a pesquisadora, muitos atletas evitam o equipamento por acreditarem que causa desconforto, interfere na fala ou na respiração.
“Em vários contextos, a cultura preventiva não está incorporada ao treinamento esportivo. O protetor deveria ser parte do equipamento básico de segurança, assim como joelheiras e capacetes”, reforça a professora.
A Odontologia do Esporte, além de tratar lesões, atua na adaptação de protetores personalizados para maior conforto e segurança. Para os especialistas, o cirurgião-dentista deve integrar equipes interdisciplinares de saúde esportiva, ajudando a preservar a saúde bucal e otimizar o desempenho dos atletas.
Alice lembra que os riscos não se restringem a atletas profissionais. “Qualquer pessoa que pratica atividade física está regularmente sujeita a traumas dentários e pode se beneficiar de orientações e cuidados especializados”, afirma.