Os dentes podem ser capazes de preservar anticorpos por centenas de anos, permitindo que os cientistas investiguem o histórico de doenças humanas infecciosas, segundo um novo estudo publicado na revista iScience.
- Pesquisa: respingos de cirurgia oral geram contaminação
- Assine já o Dental GO e tenha acesso a mais de 6 mil artigos científicos
Os anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imunológico como resposta natural a organismos infecciosos como vírus e bactérias. O seu trabalho é reconhecer esses micróbios para que o sistema imunológico possa atacá-los e eliminá-los do corpo.
No novo estudo, pesquisadores da Universidade de Nottingham, no Reino Unido, analisaram anticorpos extraídos de dentes humanos medievais de 800 anos. Os anticorpos foram considerados estáveis e ainda capazes de reconhecer proteínas virais.
“Na ciência, chegamos a esperar o inesperado, mas a percepção de que anticorpos funcionais intactos podem ser purificados a partir de restos esqueléticos no registro arqueológico foi bastante surpreendente”, disse o professor Robert Layfield, principal autor do estudo.
“Algumas proteínas antigas eram conhecidas por serem estáveis, mas tendem a ser proteínas ‘estruturais’, como colágenos e queratinas, que são bastante inertes”, explicou Layfield.
Os anticorpos são diferentes porque são capazes de se ligar a moléculas específicas, chamadas antígenos. Isso permite que eles reconheçam vírus e bactérias específicos, mesmo após centenas de anos.
Traçar parâmetros
No caso do estudo, os pesquisadores descobriram que os anticorpos dos dentes medievais eram capazes de reconhecer o vírus Epstein-Barr, que causa febre glandular.
“No futuro, poderá ser possível observar como os anticorpos de espécimes antigos reagem a doenças presentes durante esses períodos, como a peste-negra”, disse o professor Anisur Rahman, coautor do estudo.
A descoberta abre novas possibilidades para os cientistas estudarem a história das doenças humanas. Os anticorpos extraídos de dentes antigos podem ser usados para identificar patógenos que já não existem ou que foram erradicados, fornecendo informações valiosas sobre a evolução das doenças infecciosas.