Por: Alberto Consolaro
Ser professor é formar gente com capacidade para analisar ideias de forma crítica, para que tire suas próprias conclusões, sugerindo soluções para resolver questões. É passar conhecimentos para que as pessoas possam refletir e tirar conclusões. Ensinar a análise da literatura ou um diagnóstico ou técnica, é formar pessoas e profissionais analíticos e críticos.
O preparar uma palestra, requer planejamento mental por escrito. Se não for assim, você pode se expor e se fazer conhecido, mas pode fracassar no objetivo principal: formar gente! Se não gosta desta missão ou não se acha preparado, o melhor é declinar o convite ou emprego.
Ser bom professor implica em reexaminar tudo o que ensina, mesmo que sejam ideias antigas que se adaptam e ganham novas formas. O bom aluno escuta o professor e adapta seus ensinamentos à sua vida, mas sem segui-los literalmente. Em minutos de aula, se descobre a formação de quem está ali como professor. É só lembrar Voltaire, que disse: “A ignorância afirma ou nega veementemente, a ciência sempre duvida.” Um professor e ou cientista jamais tenta ser dono de verdades absolutas.
SER PROFESSOR
Ao terminar a aula ou conferência, alguém vem me dizer que ensinar é uma arte e que eu tenho este dom. Se for procurar nos dicionários, lá estará escrito que dom é: 1. Donativo, dádiva, presente; 2. Dote ou qualidade natural, inata; 3. Mérito, merecimento, vantagem; 4. Poder, virtude, privilégio.
Não concordo com a pessoa e de forma bem elegante, explico. Dar uma boa aula não requer dom, e sim muito trabalho, treinamento e disponibilidade.
Ensinar exige uma disponibilidade para amar. Existem várias formas de amar, uma delas consiste em dar, repassar, recriar, processar e redimensionar conhecimentos, pensamentos e opiniões para transferir ao próximo, fazendo crescer as próximas gerações.
Sem pieguices, acredito que isto possa ser feito com profissionalismo. Mas, não me venham com o ditado popular que diz “ser professor é doar sempre, é um sacerdócio”, muito usado pelos donos de escolas para pagarem mal os professores, o que me parece cinismo velado.
Só ensina quem sabe, quem tem reflexões acumuladas. As informações incorporam-se no intelecto depois de reflexão, análise crítica e certa dose de sensibilidade com os fatos e buscas de cada dia, por menores ou insignificantes que possam parecer.
Provocar a sensibilidade deve ser uma postura permanente frente à vida para a realização pessoal. A interação da capacidade de amar, com o saber e com uma capacidade ou disponibilidade razoável para o trabalho, induz soluções criativas na forma de ensinar.
Arte e criatividade andam juntas e ambas estão relacionadas com saber e paixão! A criatividade coaduna com inteligência. Ordenar conhecimento para ensinar com emoção resulta no aprender e isto será inevitável!
REFLEXÕES FINAIS
1. Se desde criança, for permitida a convivência com os variados fatos e tipos de padrões humanos, sem preconceitos, bem como se a curiosidade for estimulada, teremos uma pessoa criativa que poderá ser um excelente professor, se esta for sua proposta de vida.
2. A arte de ensinar exige tolerância com a contradição, com a dúvida e com a ambiguidade. Deve-se aceitar as diferenças com naturalidade em um ambiente de cordialidade, lealdade e respeito as regras estabelecidas. Pitadas de ousadia, vaidade e constante insatisfação com o pressuposto, favorecem a habilidade de ensinar.
3. Se quiseres ser um bom professor, tente viver intensamente e procure ver nos brilhos dos olhos dos que contigo aprenderem, a recompensa por tamanha doação. Isto não é um dom divino. Além de trabalho, treinamento e disponibilidade, também é um exercício de amor e respeito ao próximo. E o mais importante, é que tudo isto se aprende na ciência da didática e na arte do amor!
Alberto Consolaro – Professor Titular pela USP e Colunista de Ciências do JC.