Por: Alberto Consolaro
A juventude pulsa em nós. Em reunião de amigos ou familiares, fale de alguém adulto que teve ou tem um dente decíduo. Em um passe de mágica, ocorrerá uma inquietação com três pessoas se apressando em dizer que têm também, e logo mostram seus dentes de leite. Estão a dizer que ainda são crianças e jovens com esta lembrança de um tempo ido e feliz.
Os dentes decíduos são menores que os permanentes, tem formas, cor e tamanhos diferentes, com carga mastigatória menor a absorver. As forças oclusais de um adulto são lesivas para os tecidos periodontais do decíduo, gerando um trauma oclusal se houver reanatomização, acelerando a rizólise.
Quando um decíduo, ou “aquele que cai”, permanece no adulto, ele tende a ficar em infraoclusão, um nível de mordida mais baixo que os demais. Os vizinhos se inclinam vagorosamente em sua direção, pois são menores. A linha média se desvia, a oclusão se altera e atrapalha a mastigação e fonética.
ENQUANTO DURA
Quando completa sua formação, as células internas e externas do dente decíduo desreprimem o gene p53 que todas as células têm para controlar o seu tempo de vida. Uma vez liberado, o gene p53 vai comandar processos internos para que as células sofram algo semelhante ao maracujá na fruteira. Vai se enrugando e perdendo pedaços como pétalas de uma flor ou folhas no outono, o que em grego significa “Apoptose”. Na biologia celular, este termo significa “morte geneticamente programada” e controlada para nossa saúde.
Em todos os dentes decíduos, depois de sua formação, as células vão morrendo por “Apoptose”, deixando exposta a parte mineralizada, o que atrai os clastos do osso para reabsorver o dente, iniciando a rizólise. É inevitável e acontecerá com todos os decíduos.
A rizólise é um processo lento, demora meses e até anos. Quando se tem um dente permanente por baixo, entre as raízes dos dentes decíduos, o processo se acelera, pois em volta da coroa do dente permanente, tem uma membrana chamada folículo pericoronário que tem muito epitélio e libera o mediador chamado EGF que acelera a atividade dos osteoclastos e o processo da reabsorção decídua (Fator de Crescimento Epitelial). A rizólise se acelera muito e o decíduo fica sem a raiz e se exfolia.
ANODONTIA PARCIAL
Apoptose é o gatilho da rizólise, mas quem dita o ritmo e acelera é o dente permanente. Ao redor de 25% das pessoas tem falta congênita de pelo menos um permanente, a chamada anodontia parcial. Nestas pessoas, a falta do permanente sucessor faz a rizólise daquele decíduo ser bem mais lenta e durar anos, mas é inevitável. Não vale a pena manter este dente na boca, pois o tamanho e a cor são diferentes e a posição dos permanentes vizinhos modificam-se.
Sem as células na raiz pela “Apoptose”, o osso encosta no dente e integra-os em sua estrutura e vai substituindo-o, até ficar completamente sem raiz. Depois de um ano sem a rizólise acelerada pelos permanentes, a tendência é do dente decíduo entrar em anquilose e reabsorção por substituição, pois os restos epiteliais também morrem por “Apoptose”. Isto também faz parte da rizólise e se chama anquilose e reabsorção dentária por substituição.
Nos dentes permanentes o osso não encosta e nem provoca anquilose e reabsorção por substituição, pois as células epiteliais dos Restos de Malassez, liberam o EGF que mantem e afasta o osso do dente. A não ser que, um traumatismo dentário elimine os Restos Epiteliais de Malassez, mas isto é outra história.
REFLEXÃO FINAL
O ideal em casos de anodontia parcial, é planejar sobre qual é o melhor momento para tirar o decíduo e fechar o espaço ou quando aplicar um implante. Isto envolve o odontopediatra, ortodontista, implantodontista, periodontista e outros. Mas, deixar o dente decíduo indefinidamente no local não é a melhor opção em todos os sentidos. A sua rizólise é inevitável e começa assim que acaba sua formação.

