Por: Alberto Consolaro
As vezes, a pessoa estuda e atende tantos casos de câncer e outras neoplasias, que esquece de se atualizar sobre a inflamação e aí quando vai falar ou escrever sobre o assunto, comete algumas gafes cientificas básicas, tal como achar que inflamação e infecção são sinônimos. E não são, e nunca foram. A infecção viral da hepatite e do HPV provocam câncer, a inflamação não!
Outra gafe cientifica é confundir reparação com regeneração. Depois que a inflamação consegue eliminar o agressor, as suas células e substâncias acionam a reparação na derme, submucosa, osso, cartilagem, etc. Assim começa a proliferação de vasos, nervos, e células do local para devolver a normalidade ao tecido vascularizado. Em dias, volta-se ao normal sem cicatriz, mas tem casos que ficam sinais. Esta reconstrução depois da inflamação, chama-se reparação. Se ficar marcas pode ser chamado de cicatrização, o que acontece na minoria de casos.
A regeneração é outro processo que independe da inflamação. Ela ocorre em tecidos não vascularizados como epitélio da pele e mucosas, nervos periféricos, glândulas e vísceras, como o fígado. Quando estas partes são lesadas, ocorre proliferação e reconstituição sem inflamação e isto se chama regeneração. Mas, quem não estuda há muito o tempo o assunto, confunde reparação ou regeneração como sinônimos.
Temos de 36 trilhões de células proliferando todas as horas. As neoplasias benignas ou malignas são defeitos na proliferação celular, e quase todos tecidos dão origem ao câncer, exceto a polpa dentária.
No reparo de uma área inflamada, tem proliferação celular, assim como em qualquer momento nos tecidos. A proliferação celular é incessante: a medula óssea e o epitélio da língua são os campeões em mitoses. Não é justo dizer que porque no reparo tem proliferação celular, ali vai se ter mais câncer do que em outras áreas, todas as áreas podem tê-lo.
MITOS E CRENÇAS
Dizer que células ficam cansadas, se desgastam e podem dar origem ao câncer, não condiz com a realidade da biologia. Quando a célula está envelhecida ou “desgastada” ela entra em apoptose, uma morte geneticamente programada com esta finalidade.
Falar que na inflamação crônica, a regeneração faz as células proliferarem muito, constitui outro erro. Na inflamação crônica não se tem regeneração e se tivesse este processo de reconstrução depois de uma inflamação, seria reparação. Dois erros primários em uma única frase.
Mutações no DNA podem ocorrer em qualquer mitose e a maioria dos cânceres não aparecem em áreas inflamadas, nem agudas e nem crônicas. No fígado, o que provoca câncer não é a inflamação, mas sim o vírus da hepatite e o álcool; no útero é o HPV bem como na orofaringe. No pulmão não é a inflamação que provoca câncer e sim as centenas de substâncias cancerígenas do tabaco. Não é a inflamação crônica que provoca câncer de intestino e sim as mutações herdadas pelo potencial portador de câncer colorretal. A irritação na pele não gera câncer e sim os raios solares.
REFLEXÕES FINAIS
1. Devemos evitar as verdadeiras causas do câncer. Culpar a irritação e inflamação crônica, mais confunde do que contribui para o esclarecimento e conscientização da população. A inflamação crônica e a reparação não provocam câncer por si só.
2. É igual culpar as mordidas constantes e próteses ou dentes quebrados pelo câncer de boca sem se estudar e pesquisar cientificamente. Tem que se deixar claro que o câncer bucal tem a ver com: 1) várias formas de tabaco, 2) consumo de qualquer dose, frequência e tipo de álcool, 3) radiações solares, 4) HPV, e 5) produtos químicos na alimentação ultraprocessada, assim como os agrotóxicos e os hormônios nas carnes.
3. Fora disto, é crendice popular e apliquemos ciência nela!

