29Um novo estudo realizado pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, indica que o consumo regular de suco de beterraba rico em nitrato pode reduzir a pressão arterial em idosos. O efeito benéfico estaria relacionado a alterações específicas no microbioma oral, conjunto de microrganismos presentes na boca, e não foi observado em adultos mais jovens.
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A pesquisa, publicada na revista científica Free Radical Biology and Medicine, é o maior estudo já realizado sobre o tema e foi financiada pelo BBSRC Industrial Partnership Award. Os cientistas recrutaram 75 voluntários saudáveis, sendo 36 idosos entre 60 e 70 anos e 39 adultos com menos de 30 anos. Todos participaram de um experimento dividido em duas fases: em uma delas, consumiram suco de beterraba concentrado e rico em nitrato duas vezes por dia, durante duas semanas; na outra, ingeriram uma versão placebo, sem o composto. Entre as fases, houve um intervalo de duas semanas para eliminação dos efeitos anteriores.
Os resultados mostraram que o grupo mais velho apresentou uma redução significativa da pressão arterial após o consumo do suco com nitrato – algo que não ocorreu com o grupo mais jovem. Segundo os pesquisadores, essa diferença pode estar ligada a mudanças no microbioma oral, observadas por meio de análises genéticas da composição bacteriana da saliva dos participantes.
Bactérias benéficas ganham espaço
Após o consumo do suco rico em nitrato, os idosos apresentaram uma queda nos níveis da bactéria Prevotella, associada a efeitos inflamatórios, e um aumento da presença de Neisseria, considerada benéfica à saúde vascular. Essas alterações não foram observadas da mesma forma nos adultos mais jovens.
O nitrato, substância naturalmente presente em vegetais como beterraba, espinafre, rúcula, aipo, funcho e couve, é convertido em óxido nítrico no organismo – processo que depende da ação de bactérias orais. O óxido nítrico desempenha papel essencial no relaxamento dos vasos sanguíneos e na regulação da pressão arterial.
A professora Anni Vanhatalo, líder do estudo, explica que, com o envelhecimento, a produção natural de óxido nítrico diminui, o que pode contribuir para o aumento da pressão arterial em idosos. “Sabemos que uma dieta rica em nitrato tem benefícios comprovados para a saúde cardiovascular. Nosso estudo mostra que incentivar os idosos a consumir mais vegetais ricos nesse composto pode trazer vantagens significativas a longo prazo”, afirma.
Potencial para novas abordagens terapêuticas
O professor Andy Jones, coautor da pesquisa, destaca que os resultados vão além da simples redução da pressão arterial. “Os alimentos ricos em nitrato alteram o microbioma oral de maneira que pode diminuir a inflamação e melhorar a saúde vascular nos idosos. Esses achados abrem caminho para estudos maiores que investiguem como fatores como estilo de vida e sexo biológico influenciam a resposta à suplementação alimentar com nitrato.”
A pesquisa contou com apoio do NIHR Exeter Clinical Research Facility e da Exeter Clinical Trials Unit. A análise genética das amostras bacterianas foi essencial para identificar as mudanças no microbioma antes e depois da intervenção.
Para o Dr. Lee Beniston, diretor associado de Parcerias Industriais e Pesquisa Colaborativa do BBSRC, o estudo representa um avanço importante. “É um ótimo exemplo de como a biociência pode nos ajudar a entender melhor as conexões entre dieta, microbioma e envelhecimento saudável. O apoio a parcerias entre universidades e a indústria é fundamental para transformar conhecimento científico em benefícios reais para a população.”
Com o aumento da expectativa de vida e da incidência de doenças cardiovasculares em idosos, os resultados do estudo reforçam o potencial da alimentação como ferramenta preventiva e terapêutica. A inclusão de vegetais ricos em nitrato na dieta de pessoas mais velhas pode ser uma estratégia simples e eficaz para melhorar a saúde do coração e a qualidade de vida.