Por: Marcio Almeida
“O entusiasmo é a maior força da alma. Conserva-o e nunca te faltará poder para conseguires o que desejas”
(Napoleon Hill).
Novos desafios, novos tempos e um objetivo a ser atingido: contribuir com nossa querida Ortodontia Brasileira. Inicio essa nova jornada com muita alegria, entusiasmo e, ao mesmo tempo, com um sentimento de enorme responsabilidade. Indubitavelmente, assumir o cargo de Editor-chefe da mais prestigiada revista clínica de Ortodontia do Brasil é um grande desafio. A analogia que se pode fazer é com a aviação, que tanto aprendi a admirar. E os caros leitores poderiam perguntar: Mas o que tem a ver a aviação com o editor de uma revista?
Na verdade, o piloto de avião e o editor de uma revista representam uma simbiose “quase” per- feita no sentido figurativo da palavra. Sabe-se que para pilotar uma aeronave, antes de qualquer voo, o piloto deve obedecer a um rigoroso “checklist” para que se tenha segurança durante o voo. Outros sim, se todos os comandos do avião estiverem funcionando a contento, deve-se incontestavelmente, analisar itens como: 1) o NOTAM (Notice To Airmen), ou seja, o “Aviso aos Aeronavegantes” que tem por objeto divulgar modificações de qual- quer instalação, estabelecimento, procedimento ou perigo aeronáutico, cujo conhecimento será essencial para a operação de voo; 2) o METAR e/ou TAF que são relacionados a meteorologia do trecho a ser voado; e, finalmente, 3) preencher corretamente o plano de voo, fatores esses considerados fundamentais para alcançar um voo seguro.
Porquanto, se compararmos a função do Editor-Chefe a do piloto, “pilotar” uma revista pode ser considerado quase tão desafiador quanto voar um avião com segurança e responsabilidade. O editor, juntamente dos editores associados, deve obedecer a um extenso checklist para garantir a qualidade dos artigos publicados a cada edição. De acordo com o Dicionário Aurélio, a palavra “editor” significa; pessoa que edita por sua conta; indivíduo que nas empresas jornalísticas assume a responsabilidade dos artigos publicados. Essa irrefutável responsabilidade remonta às reminiscências do meu primeiro voo solo de avião, ainda um neófito aluno dezoito anos atrás no aeroclube de Bauru-SP. Ouvi do meu instrutor, um pouco antes de sentir a experiência mais incrível que um piloto pode ter, a seguinte frase: “agora é com você; bom voo e boa sorte…. você está solo!” Pacientemente, o meu instrutor desceu do avião e fechou a porta. Naquele momento, repousava apenas um par de mãos sobre o manche da aeronave, percebi que havia chegado a hora da aeronave estar inteiramente sob meu co- mando e responsabilidade.
Analogamente, na nossa mãe natureza não é diferente, pois você sabe como a águia ensina o seu filhote a voar? A águia, propositadamente, escolhe e faz seus ninhos no alto de um pico ou montanha rochosa. Abaixo, visualiza-se somente o abismo e em volta percebe-se as correntes dos ventos ascendentes chamadas térmicas, que por sua vez, darão sustentação às asas dos filhotes. Quando a águia mãe percebe que seus filhotes já estão prontos para voar, enche-se de coragem e num ato impensável, empurra-os do ninho penhasco abaixo, mesmo contra a vontade deles, pois ela sabe que enquanto seus filhotes não descobrirem suas asas, não entenderão o propósito de sua vida. Os filhotes de águia caem por alguns instantes, sem entender muito bem o que está acontecendo, inertes, até descobrirem repentinamente do que são capazes de fazer. A cena é atentamente observada pela confiante águia mãe. Os pequenos filhotes, inexperientes na arte de voar, num dado momento abrem as suas asas com respeitável envergadura e, ainda confusos com a habilidade recém-descoberta, alçam voo ganhando os céus vitoriosamente, galgando um novo estágio de maturidade e aprendizado.
Esse é o verdadeiro significado que o voo solo tem para nós pilotos de avião: um sentimento de medo, liberdade e responsabilidade, pois estávamos habituados, enquanto alunos, à presença constante do instrutor. Nesta situação, somos colocados solitariamente à prova de gerenciar o voo e controlar os seus riscos. Na visão do instrutor, “solar” um aluno exige a confiança de um trabalho bem feito, e a certeza de que aquele aluno-aprendiz está pronto para voar com as próprias asas. Para a construção da confiança de um piloto é extremamente importante o voo solo. As- sim, este voo faz do aluno um verdadeiro piloto, tal como o empurrão do ninho precipício abaixo faz do filhote uma águia madura, determinada e pronta para seguir o maior propósito da sua vida.
Paradoxalmente, portanto, sinto-me como as pequenas águias fora dos seus ninhos, prestes a alçar o voo mais importante das suas vidas, assumindo o “comando” para pilotar a Revista Clínica de Ortodontia Dental Press (RCODP), com a convicção de que devemos buscar sempre grandes altitudes em direção a novos horizontes, na vida e na inquietante arte de exercer a tão amável pro- fissão que escolhemos de Ortodontistas. Como diz Leonardo Boff em O Despertar da Águia, “se não buscarmos o impossível, acabamos por não realizar o possível”. Olhemos sempre para frente com olhos e a determinação das águias. Fiquem todos com Deus!30
– Texto publicado originalmente na Revista Clínica de Ortodontia v17n5, escrito pelo Dr. Marcio Almeida –