Possivelmente, a tendência do homem em ser destro existe há muito mais tempo do que imaginavam os cientistas. Examinando estrias encontradas nos dentes de um fóssil de um Homo habilis que data mais de 1,8 milhões de anos, investigadores fizeram uma nova descoberta e encontraram a primeira evidência registrada em um fóssil que favorece essa “tendência destra”.
David Frayer, prestigiado professor emérito de antropologia da Universidade do Kansas (KU), é autor principal deste estudo que foi recentemente publicado online no Journal of Human Evolution. O estudo mostra que foram encontradas estrias movidas da esquerda para a direita, o que os investigadores acreditam ser marcas derivadas do uso de uma ferramenta. A mesma era utilizada com a mão direita para tentar cortar o alimento, enquanto a mão esquerda puxava o alimento da boca.
A descoberta foi feita após uma análise dessas pequenas marcas de corte ou estrias vestibulares, que estão na parte do lábio próxima aos dentes anteriores de um fóssil intacto de uma mandíbula superior, conhecido como OH-65, e que foi encontrado em um canal do córrego Olduvai Gorge na Tanzânia.
“Acreditamos que isso nos diz mais sobre a lateralização do cérebro”, disse David Frayer. “Já sabemos que o Homo habilis teve a lateralização cerebral e era mais aparentado com nós do que com os macacos. E isto estende-se à mão, que é a chave.”
Frayer disse, ainda, que entre a rede de estrias profundas encontrada apenas no lado da face onde estão os lábios dos dentes superiores, a maioria das marcas de corte se posiciona da esquerda para a direita. A análise das marcas torna provável esta hipótese de que elas tem origem de quando o Homo habilis da mandíbula OH-65 usava a tal ferramenta para cortar os alimentos. Os arranhões podem ser vistos a olho nu, mas um microscópio foi usado para determinar seu alinhamento e para quantificar sua angulação.
“O trabalho experimental mostrou que esses arranhões provavelmente foram produzidos quando uma ferramenta de pedra foi usada para processar o material preso entre os dentes anteriores, e a ferramenta ocasionalmente atingiu a face vestibular deixando uma marca permanente na superfície do dente”, disse Frayer.
Com base na direção das marcas, é evidente que o Homo habilis era destro. É apenas uma amostra de um fóssil, mas como esta é a primeira evidência potencial da dominância da lateralidade destra de um pre-Neanderthal, Frayer disse que o estudo poderia levar a uma pesquisa por estas marcas em outros fósseis.
“A lateralidade das mãos e a linguagem são controladas por diferentes sistemas genéticos, mas há uma frágil relação entre as duas porque ambas as funções se originam no lado esquerdo do cérebro”, disse ele. “Apenas um espécime não é um caso incontroverso, mas à medida que mais pesquisas e descobertas são feitas, nós prevemos que a lateralidade direita (tendência destra), a reorganização cortical e capacidade de linguagem serão mostrados como componentes importantes na origem da nossa espécie”.
Várias linhas de pesquisa apontam para a probabilidade de que a reorganização cerebral, o uso de ferramentas e o uso de uma mão dominante ocorram no início da linhagem humana. Hoje, os pesquisadores estimam que 90% dos seres humanos são destros, e isso difere dos macacos que estão mais próximos de uma proporção 50-50%. Até agora, ninguém havia procurado a direcionalidade das estrias nos espécimes mais antigos que representam nossa linhagem evolutiva.
“Achamos que temos as evidências para a lateralização do cérebro, para a lateralidade das mãos e possivelmente para a linguagem, então talvez tudo se encaixe em um mesmo quadro”, disse Frayer.
Leia o artigo na íntegra em inglês aqui.
Fonte: ScienceDaily