Autores: Priscila Dias Peyneau, Lívia Gravina Teixeira de Oliveira, Pollyanna Moura Rodrigues Carneiro, Flávio Ricardo Manzi
Resumo
Introdução: devido à íntima relação dos ápices radiculares dos dentes posterossuperiores com o seio maxilar, algumas sinusites maxilares podem ser de origem odontogênica, como extrações dentárias e lesões periodontais e periapicais (abscessos, granulomas e cistos radiculares. A tomografia computadorizada é o exame de escolha no auxílio do diagnóstico das sinusopatias. Objetivo: o objetivo desse trabalho é avaliar os aspectos que caracterizam uma sinusite odontogênica por meio de um relato de caso clínico.
Palavras-chave: Seio maxilar. Infecção focal dentária. Diagnóstico bucal. Sinusite maxilar.
Introdução
A sinusopatia inflamatória tem sido considerada a doença crônica de maior prevalência em todas as faixas etárias, e é a quinta maior causa de uso de antibióticos. Pode-se considerar frequente a ocorrência de sinusopatias inflamatórias agudas recorrentes e sinusopatias inflamatórias crônicas em crianças de faixa etária entre um e sete anos1,2. As sinusites podem se desenvolver como resultado da inflamação da membrana sinusal, em consequência de doenças infecciosas sistêmicas ou gerais do organismo, tais como resfriados, gripes, pneumonias, sarampo, entre outras. A inflamação sinusal pode ocorrer, também, pela propagação de um foco infeccioso de origem odontogênica.
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Outro fator que pode contribuir para o desenvolvimento das sinusopatias, principalmente as de caráter crônico, é a consequência de uma lesão periapical instalada em algum dente sem vitalidade, geralmente com processo infeccioso (abscesso periapical crônico), que pode promover a ocorrência de fístulas bucoantrais, definidas como a comunicação entre a cavidade bucal e o seio maxilar. Outra infecção odontogênica que pode se disseminar e levar a uma sinusopatia é a lesão endoperiodontal, caracterizada pela associação de doença periodontal e pulpar em um mesmo elemento dentário; dessa forma, novamente, a proximidade dos dentes com o seio fará com que a infecção se dissemine.
A sinusite odontogênica abrange de 10 a 12% dos casos de sinusite maxilar. A origem odontogênica da sinusite deve ser considerada em pacientes com história de infecção odontogênica, cirurgia dentoalveolar ou periodontal. Cerca de um décimo de todas as sinusites corresponde a sinusite maxilar, devido à relação de proximidade que o seio maxilar possui com os dentes superiores, e pelo fato de ser mais suscetível à invasão de microrganismos patogênicos.
É importante realizar uma análise aprofundada para determinar se a doença sinusal é de origem odontogênica ou não. Diagnosticar a doença sinusal de origem odontogênica exige uma avaliação clínica completa e radiográfica, dando atenção à história do paciente e a sintomatologias, que incluem dor de cabeça, sensibilidade maxilar e congestão nasal.
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A tomografia computadorizada é um exame complementar de escolha no auxílio do diagnóstico das sinusopatias, uma vez que é possível visualizar a cavidade sinusal principal, o assoalho do seio, todas as suas paredes e o teto ou borda superior, permitindo a comparação dos dois lados e imagens de tecidos duros e moles e identificar o local exato da lesão e de eventuais defeitos na parede do seio, com isso, as informações são mais precisas.
Assim, o objetivo do presente trabalho foi relatar de um caso clínico de sinusopatia de origem odontogênica, evidenciando informações clínicas e tomográficas, classificando essa condição patológica e formas de tratamento.
Relato de caso
Paciente do sexo feminino, de 56 anos de idade, procurou um otorrinolaringologista com queixa de pressão interna, sensação de cabeça pesada do lado direito e dificuldade de respiração pela narina direita, com história de sinusite recorrente. Após a antibioticoterapia, não houve remissão dos sintomas. O profissional suspeitou de sinusite de origem odontogênica. Questionando a paciente, essa relatou episódio de gosto amargo na boca.
Foi realizada a tomografia computadorizada em tomógrafo volumétrico, obtendo reconstruções coronais, axiais e sagitais com espessura e intervalo de 5mm. Foram realizadas, ainda, as reconstruções panorâmicas e transversais na região dos dentes posterossuperiores do lado direito com espessura e intervalo de 1mm.
Foi observado, nesse exame tomográfico, material de densidade de partes moles (opacificação/velamento) ocupando praticamente todo o seio maxilar direito, estendendo-se para o infundíbulo principal de drenagem do mesmo, que se encontra obliterado. Algumas células etmoidais anteriores do lado direito apresentam-se com espessamento mucoso e/ou parcialmente veladas, e os septos intercelulares apresentam-se com aspecto de normalidade. O seio frontal desse lado apresenta-se, também, com tal velamento. Os recessos frontonasal e esfenoetmoidal do lado direito apresentavam-se obliterados. Os demais seios paranasais, assim como seus contornos e vias de drenagens, apresentam-se dentro dos aspectos de normalidade. Foi observado, ainda, aumento hiperplásico do corneto nasal inferior do lado direito, diminuindo a via área nasal desse lado, além do desvio do septo ósseo nasal com a convexidade voltada para o lado esquerdo.
Nas reconstruções panorâmicas, transversais (Fig. 1A) e coronal (Fig. 1B), observou-se rarefação óssea parcialmente difusa periapical e região de furca no dente 16, com tratamento endodôntico com material obturador aquém do ápice radicular, compatível de lesão osteolítica de origem inflamatória/infecciosa. Esse processo inflamatório/infeccioso promoveu a descontinuidade da cortical vestibular do processo alveolar e do assoalho do seio maxilar, resultando na disseminação dessa condição para os seios paranasais do lado direito. Pode-se concluir que essa sinusite crônica recorrente é de origem odontogênica.
O tratamento proposto foi a exodontia do elemento 16, com remissão do quadro de sinusopatia crônica; assim, uma nova TC para controle do caso foi solicitada.
Discussão
A sinusite odontogênica é uma condição patológica que, muitas vezes, tem sua prevalência subestimada, onde as infecções dentárias são responsáveis por 5% a 10% dos casos de sinusite maxilar. Na sinusite odontogênica crônica, observa-se, muitas vezes, um desenvolvimento assintomático, ou apresentando poucos sintomas, incluindo cefaleias que aumentam ao se movimentar a cabeça e drenagem de secreções através da cavidade nasal. A resolução de casos com essas características depende da junção de tratamentos médicos e dentistas1.
É importante realizar uma análise aprofundada para determinar se a doença sinusal é de origem odontogênica ou não. Diagnosticar a doença sinusal de origem odontogênica exige uma avaliação clínica completa e radiográfica, dando atenção para a história do paciente e sintomatologias, que incluem dor de cabeça, sensibilidade maxilar e congestão nasal4.
A tomografia computadorizada é um dos principais exames complementares, que auxilia os profissionais no diagnóstico de uma sinusite de origem odontogênica, sendo solicitada pelo otorrinolaringologista quando a causa de uma doença sinusal for desconhecida, ou quando não há remissão dos sintomas3,4,5. É de extrema importância que haja uma relação interdisciplinar entre dentista, otorrinolaringologista e radiologistas médico e odontológico para que sejam realizados procedimentos que direcionem o caso para um diagnóstico e tratamento adequado2.
O tratamento proposto para a paciente foi a remoção da causa, que era o elemento 16, e nova TC para controle. A resolução de casos com essas características depende da junção de tratamentos médicos e odontológicos, tendo em vista que a paciente procurou a o cirurgião dentista após ter sido avaliada por um otorrinolaringologista e encaminhada por esse para avaliação de outro profissional. O dentista, nesse caso, participa do diagnóstico, detectando o dente que está causando a sinusopatia, e, com o uso de suas habilidades, cuida para que esse seja tratado ou removido, atuando diretamente na origem do problema.
Conclusão
É importante salientar que a TC é um dos principais exames complementares que auxilia os profissionais no diagnóstico de uma sinusite de origem odontogênica, sendo solicitada pelo otorrinolaringologista quando a causa de uma doença sinusal for desconhecida, ou quando não há remissão dos sintomas após antibioticoterapia. Contudo, é de extrema importância que haja uma relação interdisciplinar entre dentista e otorrinolaringologista, para que sejam realizados procedimentos que direcionem o caso para um diagnóstico e tratamento adequado.
» O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
Endereço para correspondência:
Flávio Ricardo Manzi
Av. Dom José Gaspar, Prédio 45 – Clínica de Radiologia
Coração Eucarístico, Belo Horizonte/MG – CEP: 30535-901
E-mail: manzi@pucminas.br