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Risco de morte em UTI cai em mais de 20% com cuidados odontológicos

Pesquisadores da FMRP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto), da USP (Universidade de São Paulo) e da Escola de Enfermagem da mesma instituição, compravaram que a adequada higienização da boca, associada ao tratamento odontológico, em pacientes de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) pode reduzir o risco de morte durante o período de hospitalização.

O estudo foi feito em duas unidades intensivas do Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto. Uma delas na UTI geral clínico-cirúrgica, que recebe pacientes com doenças crônicas descompensadas ou em pós-operatório, e outra numa UTI especializada em emergências, que atende pacientes que sofreram politraumatismo ou infecções graves. A interveniência de profissionais da odontologia foi feita em 2019 e a análise comparativa dos dados retroativos foi deita de 2016 a 2018, nas mesmas unidades.

“É um tipo de pesquisa que avalia se a implementação de uma intervenção modifica a tendência de um desfecho de interesse, comparativamente ao observado anteriormente à implementação da intervenção, na mesma população”, explicou ao Jornal da USP. Wanessa Teixeira Bellissimo Rodrigues, dentista com pós-doutorado pela FMRP.

A mortalidade dos pacientes, segundo a pesquisadora, caiu em mais de um quarto, quando comparado o período sem suporte de profissionais da odontologia nas UTIs.

“Na UTI clínico-cirúrgica, a mortalidade caiu de 36,28% para 28,52% após a intervenção, o que significa uma redução relativa de 21,4%. Entretanto, essa queda não foi uniforme entre as unidades, já que na UTI de emergência a redução não foi estatisticamente significativa”, explica Wanessa. Os pesquisadores apontam que uma possível explicação para a diferença dos resultados entre as UTIs de estudo esteja na diferença do perfil dos pacientes atendidos.

Intervenções na saúde bucal

Entre 2016 e 2018, o procedimento padrão do hospital que foi utilizado como parâmetro era de higiene bucal com limpeza três vezes ao dia com swab ou espátula envolta em gaze com solução de clorexidina. Esse procedimento era realizado não por dentistas, mas pela equipe de enfermagem.

Na UTI clínica cirúrgica os pacientes recebiam visitas de dentistas de acordo com as necessidades, como remoção de dente comprometido ou drenagem de abcessos, por exemplo. Já na emergência, os profissionais prestavam os mesmos cuidados, mas apenas quando a equipe de enfermagem solicitava.

“Antes de iniciar o estudo em 2019, os profissionais de enfermagem da UTI foram capacitados pela equipe odontológica para promover adequada limpeza mecânica da cavidade bucal, com base em um novo protocolo. Este protocolo foi elaborado pelo nosso grupo de pesquisa, em parceria com o Serviço de Odontologia e a Comissão de Controle de Infecção Hospitalar da instituição. Nos baseamos em técnicas específicas desenvolvidas e testadas ao longo dos últimos dez anos”, conta Wanessa.

Já a partir de 2019, o grupo de pesquisadores passou a adotar o novo processo de assistência odontológica horizontal, ou seja, os pacientes foram seguidos durante todo o período de permanência na UTI, da internação até a alta, por dentistas. Além disso, continuavam recebendo a limpeza diária da equipe de enfermagem.

“A frequência dos atendimentos pela equipe de dentistas estava atrelada à demanda de cuidados odontológicos individuais dos pacientes, sendo que cada um deles recebia ao menos três atendimentos por semana, com duração média de 40 minutos”, conta a cirurgiã-dentista.

O artigo descrevendo a pesquisa, Impact of a dental care intervention on the hospital mortality of critically ill patients admitted to intensive care units: a quasi-experimental study financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), foi publicado no American Journal of Infection Control (Ajic).

Fonte: Giovanna Grepi – Jornal da USP

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