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Reabilitação Oral Adesiva: inúmeras possibilidades – por Oswaldo Scopin

Dr. Oswaldo Scopin é um dos palestrantes do 37º Ciosp

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Oswaldo Scopin

Mestre e Doutor em Prótese Dental pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp), Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Odontologia Estética do Centro Universitário do SENAC, São Paulo, e Editor-chefe do Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR), da Dental Press .

A Odontologia Restauradora atual é adesiva, estética e conservadora. A ordem do que vem primeiro tem gerado interpretações variadas.

Inicialmente, podemos imaginar que todo procedimento adesivo é conservador — laminados ultraconservadores e recontornos estéticos com resinas compostas exemplificam muito bem essa concepção inicial. Um paciente com diastemas, malformação dos dentes anteriores, discrepância de forma e mesmo com necessidade de uma finalização ortodôntica pode ser restaurado praticamente sem desgaste de tecido dentário e/ou com um pequeno acréscimo de material. Esses casos, se bem conduzidos, ficam maravilhosos e causam um impacto profundo na qualidade de vida do paciente; são casos “publicáveis” — isto é, têm belas fotos, em ângulos artísticos, que transformam um caso cotidiano em uma obra de arte da Odontologia.

Mas é importante lembrar que a Odontologia Restauradora não está limitada à dentição anterior. Há alguns anos, a descrição de casos clínicos enfoca, basicamente, áreas anteriores, isto é, somente o sorriso. Obviamente que a região anterior da maxila é a parte crítica, por ser a mais evidente aos olhos humanos e a que causa impacto imediato. Mas, simultaneamente, houve um certo “esquecimento” dos dentes posteriores e de casos de reabilitação e alteração severa do padrão oclusal — por exemplo, como ocorre em pacientes com desgaste dentário. A reabilitação oral clássica sobre dentes naturais englobava conceitos sedimentados em restaurações à base de coroas metalocerâmicas e núcleos metálicos fundidos.

À custa da remoção de muita estrutura dentária, a prótese fixa clássica mutilava esmalte, dentina e polpa, em busca da oclusão perfeita, da estética e do eventual equilíbrio do sistema estomatognático. Logicamente, não há como criticar o que foi feito no passado, analisando os materiais e técnicas disponíveis nas décadas anteriores à que vivemos… mas isso foi no século passado! Com o advento das cerâmicas adesivas (injetadas ou fresadas em dispositivos de última geração), e com a certeza de que os procedimentos adesivos são seguros e longevos, o conceito da  reabilitação tem um enfoque diferente e inovador.

Por serem procedimentos relativamente novos em casos extensos, os laminados e as restaurações adesivas parciais em dentes posteriores ainda enfrentam a resistência de profissionais que consideram que casos reabilitadores complexos ainda devem ser conduzidos da forma clássica, por haver mais literatura científica disponível sobre o assunto. O ponto crítico dessa afirmação é que não há muitos artigos especificamente sobre reabilitação total da forma “clássica”, e sim uma “colcha de retalhos” que serve para justificar qualquer procedimento. Algumas vezes, vejo referências utilizadas de maneira equivocada, devido à interpretação pessoal pura. É, e sempre será, assim! Por isso, devemos mudar o conceito de reabilitação oral como um todo e em todos os níveis!

O importante nesse novo conceito de Reabilitação Oral Adesiva (ROA), que vem sendo utilizado como uma concepção conservadora da Prótese Dentária, é que o dano ao tecido dentário é reduzido ao máximo — somente o suficiente para a execução do procedimento restaurador, seja esse um laminado sem preparo ou uma reabilitação conservadora de um paciente com erosão ácida. Reduzindo ao máximo o dano, preservamos a biologia e damos uma chance ao organismo, tendo em vista um eventual problema que pode ou não aparecer ao longo dos anos. Mesmo se esse “eventual problema” surgir, ele pode ser mais simples de se resolver do que, por exemplo, os danos causados por um preparo invasivo de coroa total com núcleo metálico fundido.

As alterações de protocolo se fazem necessárias e imediatas não somente em consultórios e clínicas privadas, mas principalmente dentro das universidades que, mesmo com toda a evolução de materiais e técnicas, ainda ensinam procedimentos e processos que implicam em desgaste desnecessário de estrutura dentária, fazendo a prótese dentária fixa parecer a última fronteira antes da fixação de um implante. O conceito de ROA é, realmente, uma “mudança de paradigma”. E, em relação a essa frase entre aspas, tal expressão vem sendo usada, há anos, para qualquer “ideia nova”.

Assim, muitas vezes sua repetição, de forma intensa, soa como redundância; na verdade, esse é um termo que deve ser usado para algo com relevância intelectual sem precedentes, quando realmente houver uma ruptura com as velhas práticas, criando uma nova forma de pensamento. Assim sendo, estamos vivendo essa época onde a Odontologia Restauradora e a Prótese Dentária se tornam uma única especialidade, a “Reabilitação Oral Adesiva”, que necessita de novas ideias e novas filosofias educacionais. Isso sim, na minha opinião, é uma “mudança de paradigma”.

Um brinde a Thomas S. Kuhn e à “mudança de paradigma”!

* Editorial publicado originalmente na edição v13n4 do Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR).

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