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Exposição do paciente aos raios-X depende de como os dentistas são pagos

Projeto surgiu após a reabertura do debate sobre lei que impede dentistas de realizarem raio-x (Foto: Pixabay)

Uma pesquisa relatada no Journal of Health Economics examinou dados extensos de dentistas e pacientes ao longo de 10 anos e encontrou um aumento significativo no número de raios-X administrados aos pacientes quando os profissionais foram pagos com uma taxa pelo “serviço”, no qual cada item de tratamento entregue é cobrado, em comparação com quando eles estão com um plano fixo.

Os pesquisadores ainda detectaram que pacientes isentos de cobranças eram submetidos mais vezes a exames de raio-X. “Talvez porque os pacientes isentos oferecerem menos resistência e podem até receber procedimentos adicionais”, afirma o coautor do estudo, o professor Martin Chalkley, do Centre for Health Economics, da University of York.

Riscos do uso abusivo do raio-X

Enquanto os raios-X são uma ferramenta de diagnóstico útil para permitir que os dentistas examinem os ossos e os tecidos dentários, também expõem à radiações potencialmente nocivas. Sendo um carcinógeno conhecido, pode causar danos ao DNA e inibir os mecanismos que as células usam para se reparar.

“Os raios-X dentários fornecem uma dose muito pequena de radiação, mas não existem níveis seguros. Qualquer fragmento de radiação é potencialmente prejudicial. Cada dentista tem que pesar os riscos versus os benefícios antes de tomar a decisão de utilizar o raio-X, e nossas descobertas indicam que esse cálculo está sendo distorcido por incentivos financeiros”, diz Chalkley.

Embora fee-for-service (pagamento por procedimento) seja um sistema de cobrança prevalente na Odontologia em todo o mundo, a pesquisa examinou um conjunto de dados de dentistas escoceses e pacientes, reunido entre 1998 e 2007 pelo NHS Scotland (sistema de saúde público da Escócia), devido aos detalhamento das informações do país.

A Escócia emprega uma mistura de dentistas remunerados e atendidos. Isso significa que alguns dentistas podem cobrar separadamente por cada serviço que eles fornecem – um custo que normalmente é compartilhado entre o paciente e o NHS – enquanto outros dentistas recebem um salário fixo independentemente dos tratamentos que eles fornecem. A presença dos dois métodos de pagamento na Escócia permitiu aos pesquisadores comparar seus efeitos sobre o comportamento do dentista.

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O acompanhamento dos dentistas e dos pacientes durante um longo período de tempo permitiu que os pesquisadores observassem os mesmos profissionais alternando entre o “pagamento por serviço” e o pagamento assalariado, bem como os pacientes que mudaram de  profissional e passaram de copagamento para isenção de cobranças. Isso permitiu que os pesquisadores isolassem o pagamento como fator de influência no número de raios-X, pois as tendências observadas pelo estudo não podem ser explicadas por diferentes abordagens profissionais e tipos de personalidade entre os dentistas ou as demandas de diferentes pacientes.

Embora as raios-X dentais sejam uma ferramenta de diagnóstico importante e sejam importantes para alguns procedimentos, para o autor principal do estudo, professor Stefan Listl, os regulamentos e diretrizes atuais indicam que qualquer exposição desnecessária deve ser evitado. “Não podemos dizer se o nosso estudo observou excesso de raios-X, mas podemos dizer que a quantidade de pedidos pelo exame diferiu de acordo com o arranjo financeiro”.

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Os pesquisadores sugerem que há uma série de reformas que abordariam as questões que as pesquisas levantaram por baixo custo. Isso exigiria ações concentradas de reguladores, financiadores e governo. Por exemplo, as melhorias nos sistemas administrativos e de TI poderiam aumentar o compartilhamento de registros dentários entre práticas que levam a uma redução no número de raios-X nos momentos em que os pacientes são mais propensos a receber um, como quando vão a um novo dentista.

Richard Niederman, professor e presidente de epidemiologia e promoção da saúde em New York University College of Dentistry e diretor do WHO Collaborating Center for Quality-improvement & Evidence-based Dentistry, sugere que os reguladores precisam prestar mais atenção na forma de monetização dos clínicos para garantir a saúde dos pacientes. “Além dos reguladores de cuidados de saúde, os desenvolvedores de diretrizes de raios-X dentais também precisam ser conscientes desses incentivos financeiros para médicos e pacientes. É inaceitável, moral e eticamente, que interesses financeiros substitua a segurança do paciente “.

Fonte: Science Daily

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