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Quando migrar da resina composta para a cerâmica?

Qual o momento ideal para transitar da resina composta para as cerâmicas? De acordo com o especialista José Arbex Filho, não há uma receita pronta a ser seguida, lembrando que cada paciente possui um plano de tratamento diferente, que vai de encontro com suas necessidades clínicas e psicológicas.

Esse é o tema de um artigo publicado por Arbex Filho na edição v15n1 da Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR), na coluna Clinical Approach. Em parceria com Andrea MontAlverne, Flavia Pedrosa de Melo e Ana Paula Gontijo, ele descreve o caso de uma paciente que apresentava bruxismo severo, a qual ele acompanhou por mais de 20 anos.

resina compostas

“Foi determinante, nesse caso, esse acompanhamento de muitos anos, sempre optando por técnicas conservadoras, de acordo com o desejo da paciente. Agora, ela retornou com 59 anos de idade, decidida a melhorar a estética do seu sorriso, que a incomodava bastante”, conta Arbex Filho.

Mesmo utilizando regularmente a placa protetora noturna, o bruxismo e os hábitos parafuncionais provocaram um grande desgaste nas incisais dos dentes anteriores e mordida em topo. Dez anos atrás, paciente e dentista optaram por um trabalho direto em resina composta, alternando totalmente o ângulo de desoclusão nas palatinas dos dentes anteriores, projetando as vestibulares e definindo uma nova posição das bordas incisais, alterando a estética do sorriso.

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Todo o trabalho foi realizado em resina composta. “Na época, utilizamos a Four Seasons (Ivoclar Vivadent) para reconstrução das palatinas e incisais, e finalizamos com a resina de micropartículas Renamel (Cosmedent)”, lembra o profissional. E escolha se deu porque foi trabalhado somente o segmento anterior, sem alterar a DVO nos dentes posteriores.

“Os contatos na mastigação, movimentos funcionais e parafuncionais foram planejados, na época, para serem com o esmalte natural dos dentes inferiores. Se fossem utilizadas porcelana ou cerâmicas nas palatinas dos dentes superiores, e devido à patologia oclusal, isso poderia, com o passar do tempo, causar um desgaste acentuado no esmalte dos dentes inferiores”, justifica.

Planejamento

Após o sucesso dessa estratégia restauradora em 2008, e a pedido da própria paciente, os profissionais realizaram, no ano passado, um estudo para reabilitação total, com montagem em articulador e enceramento total. Sem queixa de DTM ou qualquer outro tipo de dor, foi decidido por um enceramento diagnóstico para aumento da DVO, como estratégia de apenas regularizar as anatomias perdidas ao longo dos anos, por desgastes acentuados pelo bruxismo, aumentando as cúspides dos dentes posteriores e proporcionando uma oclusão balanceada bilateral.

Trabalho em etapas

Após os estudos, eles decidiram realizar o trabalho de forma segmentada. Na primeira etapa, posicionaram um jig e aumentaram um lado de cada vez, acrescentando resina composta de forma direta em cada dente individualizado, após um tratamento adesivo nas superfícies dos dentes naturais e das porcelanas realizadas ao longo dos anos.

Após duas semanas com a paciente sentido conforto com o aumento estratégico da DVO, eles partiram para o trabalho definitivo no segmento anterior. Todas as resinas vestibulares e palatinas realizadas em 2008 foram removidas adequando os ângulos de inserção das futuras restaurações cerâmicas, com preparos nas interproximais. “Tudo da forma mais conservadora possível”, dizem.

Denominado “full veneers”, esse tipo de preparo é uma uma espécie de laminado que cobre toda superfície, dentro do novo conceito da Odontologia “minimamente invasiva”. As peças foram confeccionadas em dissilicato de lítio (e.max Press, Ivoclar Vi-vadent). A etapa ainda incluiu cimentação adesiva dos oito elementos superiores, além de preparo e cimentação da região anterior inferior, do 33 ao 43.

Nessa fase, foi estabilizada e organizada toda a região anterior, do ponto de vista estético e principalmente funcional, com todos os guias definidos. “Um dos fatores principais que sempre deve ser ressaltado é que toda desoclusão anterior será em contato das cerâmicas superiores com as incisais inferiores no mesmo material restaurador”, explicam os autores.

Os dentes posteriores foram preparados por segmentos, com a mesma filosofia conservadora, e cimentados todos os elementos com a técnica adesiva. Como eram coroas muito finas em espessura, eles tinham duas opções: cimentar com cimentos resinosos fotoativados ou resina composta aquecida termicamente. “Você pode ver, nas fotografias finais, a excelente integração estética e biológica da reabilitação concluída”, demonstra.

De acordo com os autores,  a estética e a função devem caminhar juntas, principalmente quando o objetivo final é a longevidade do procedimento como um todo. “A nossa opção, em um primeiro instante, sempre é a mais conservadora possível, e essa observação longitudinal permite ao profissional ter um embasamento e uma avaliação do comportamento dos materiais na boca de forma diferente de paciente para paciente”, concluem.

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