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Próteses dentárias implantossuportadas parafusadas e cimentadas: revisão de literatura

Resumo

Com o avanço das pesquisas relacionadas à osseointegração, a Implantodontia tornou-se um tratamento de prognóstico bastante satisfatório em Odontologia. Todavia, para se alcançar um sucesso mais duradouro no trabalho protético, é de suma importância a escolha adequada do tipo de retenção da prótese — se cimentada ou parafusada. O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura sobre próteses cimentadas e parafusadas, tratando de suas vantagens e desvantagens, abordando quesitos como estética, passividade, reversibilidade, retenção e aspectos oclusais. A escolha entre prótese cimentada ou parafusada é de interesse do profissional, pois contribuirá para o sucesso em longo prazo do tratamento.

Palavras-chave: Prótese cimento-retida. Prótese parafuso-retida. Reversibilidade. Passividade. Aspectos oclusais.

Próteses dentárias

Introdução

Com o crescente avanço relacionado à osseointegração, aliado ao aumento da expectativa de vida e exigência estética e funcional dos pacientes, a Implantodontia tornou-se realidade na Odontologia atual1,2. O primeiro protocolo de reabilitação foi em casos de pacientes edêntulos totais inferiores com implantes osseointegráveis. A indicação desse tipo de prótese cresceu muito, passando a ser utilizada também em casos unitários e parciais, em maxila e em mandíbula3,4. A busca por resultados previsíveis em longo prazo tem trazido diversas questões relativas aos materiais utilizados, bem como às técnicas. Uma das questões diz respeito ao tipo de ligação prótese-implante5: parafusada, cimentada, ou uma combinação de ambos, como por exemplo as próteses cimentadas com parafuso por lingual ou palatina?

Inicialmente, foram utilizadas as próteses parafusadas, que consistem em um intermediário parafusado ao implante, sobre o qual é posicionada uma coroa, presa a um parafuso de ouro ou de titânio3. O protocolo clássico de Brånemark, proposto em 1965, já fazia o uso desse tipo de união. Com o passar dos anos, as próteses cimentadas surgiram e estão ganhando cada vez mais espaço na Implantodontia, gerando dúvida entre os clínicos sobre qual sistema de fixação usar. Contudo, em comparação com as próteses parafusadas, as restaurações cimentadas têm limitada documentação científica5.

A evolução das próteses cimentadas começou depois de uma modificação do abutment UCLA, durante a fabricação de pilares personalizados para superar a estética e problemas de angulação do implante5. Lewis et al.30 foram os primeiros a descrever técnicas para restaurações cimentadas. Assim, para se alcançar um bom prognóstico em prótese sobre implante, o sistema de retenção deve ser escolhido ainda no planejamento pré-cirúrgico, visando um melhor posicionamento do implante6. Por exemplo, em uma prótese fixa parafusada, os implantes anteriores são instalados mais para a lingual do que para uma restauração cimentada, pois o orifício de acesso para o parafuso protético deve ser inserido no cíngulo. A correção de um implante instalado muito para vestibular em uma restauração parafusada é mais difícil e pode levar a um comprometimento estético incontornável — daí a necessidade de, previamente à cirurgia, se estabelecer o sistema de retenção a ser utilizado.

Tendo em vista esse questionamento, o presente estudo busca na literatura artigos de relevância que discutam as vantagens e desvantagens das próteses cimentadas e parafusadas, abordando fatores biomecânicos, como passividade, reversibilidade, retenção, aspectos oclusais e, também, fatores estéticos, a fim de discutirmos as melhores indicações e limitações de cada uma delas.

Revisão de literatura

A utilização de implantes na Odontologia ganhou a confiança dos profissionais a partir da década de 80, quando foram apresentadas pesquisas longitudinais em longo prazo, resultando em uma alternativa de tratamento previsível e satisfatório. O sucesso era devido, principalmente, à osseointegração e às conexões parafusadas sobre os implantes. Nessa época ainda não eram usados intermediários para próteses cimentadas2.

Com o passar dos anos, como em todas as áreas, as exigências, principalmente as estéticas, foram aumentando, levando ao surgimento dos pilares para próteses cimentadas. Isso fez com que a gama de alternativas para prótese sobre implantes aumentasse consideravelmente, deixando a dúvida: devo cimentar ou parafusar determinada prótese sobre implante?

Além de uma preferência pessoal, o profissional deve saber as vantagens e desvantagens de cada uma dessas opções protéticas a fim de eleger o componente adequado para solucionar o caso7.

A partir de agora, serão abordados os fatores biomecânicos e estéticos que devem ser considerados no planejamento de uma prótese sobre implante.

FATORES BIOMECÂNICOS

Passividade de adaptação

A adaptação passiva tem se mostrado um pré-requisito essencial para a manutenção da interface osso-implante e para o sucesso longitudinal das próteses sobre implantes. É definida como o contato máximo entre a base da infraestrutura sobre os pilares intermediários, sem que se gere tensão entre eles1. Existem inúmeros fatores que afetam diretamente a adaptação e passividade das próteses sobre implantes, entre eles, a precisão de todo o processo de fabricação, incluindo moldagem, fundição, além da habilidade do operador e do técnico em prótese4,8.

Em próteses fixas convencionais, os dentes se movimentam para compensar pequenos erros de adaptação da prótese. No caso dos implantes, isso não ocorre. Portanto, a ausência de adaptação passiva ocasiona o aumento das forças transmitidas ao osso, podendo haver falhas protéticas, como afrouxamento ou até fratura do parafuso, fratura da armação metálica ou da cerâmica, acúmulo de bactérias, mucosites, perimplantites e até perda da osseointegração1,4,5,8,9.

Sabe-se que a confecção de uma prótese parafusada passiva é virtualmente impossível de se obter. Restaurações parafusadas podem criar deformações permanentes nos implantes de duas a três vezes maiores que nas próteses cimentadas6. Alguns autores também afirmam que, tanto as próteses cimentadas como as parafusadas não possuem adaptação totalmente passiva, podendo produzir tensão de baixa magnitude nos implantes10,11.

A passividade das próteses parafusadas é difícil de ser conseguida devido às discrepâncias dimensionais inerentes ao processo de fabricação — o que não ocorre com as próteses cimentadas, pois a película de cimento tem a capacidade de compensar discrepâncias pequenas, facilitando a adaptação protética, auxiliando para que todas as forças sejam transferidas ao longo de todo o sistema prótese-implante-osso4,6,10,12.

Percebe-se que as fundições passivas têm uma vantagem considerável nas próteses cimentadas. Os espaçadores para troqueis deixam uma interface abutment-coroa de mais ou menos 40µm, que compensa um pouco a alteração dimensional dos materiais de laboratório, na qual se depositará o cimento, permitindo uma adaptação mais passiva nas próteses cimentadas4.

Vários autores afirmam que a ação dos agentes cimentantes, absorvendo impactos e reduzindo tensões transmitidas ao osso e implante, faz com que as próteses cimentadas tenham uma adaptação mais passiva do que as parafusadas13,14. Porém, nota-se que as próteses parafusadas possuem menor gap na interface entre suas conexões do que as cimentadas4,14. O trabalho de Keith et al.15, quantificando a discrepância marginal na interface abutment-coroa em próteses parafusadas e cimentadas, confirma essa afirmação. Como consequência, nas próteses cimentadas há maior risco de colonização do espaço com microflora e dissolução do cimento, além de inflamação gengival. Essa melhor passividade obtida pelas próteses parafusadas se dá às custas de uma secção da infraestrutura em partes e à solda a laser12.

A secção da infraestrutura metálica tem que respeitar certas dimensões específicas, a fim de garantir a precisão da soldagem (0,008”). Um espaço excessivo causa a contração da solda e uma união enfraquecida; já um espaço reduzido pode causar distorção por expansão durante o aquecimento da fundição. A união das peças separadas requer mais tempo, e o paciente tem que retornar para outra consulta após o processo de soldagem no laboratório. Devemos considerar que esse espaço de 0,008” é necessário nos casos de solda convencional, já que nas soldas pontuais (laser ou TIG) observamos que quanto menor o espaço melhor é a resistência da solda e menor é a distorção (alteração dimensional)6.

Alguns autores avaliaram o ajuste entre o abutment e a infraestrutura de uma prótese parafusada de três elementos. O grupo de monobloco foi o que apresentou maiores lacunas marginais, enquanto os grupos de solda convencional e solda a laser tiveram graus semelhantes de desajustes e com melhor distribuição de tensões, sem diferenças significativas entre eles16. Outro trabalho mostrou haver diferenças estatisticamente significativas entre as soldas a laser, TIG e a brasagem17.

A amplitude de contração do metal durante o processo de confecção de uma infraestrutura é variável e depende do fabricante e da técnica, mas aproxima-se de 1,5%, considerando que a contração das ligas semipreciosas pode ser o dobro dessa quantidade. Portanto, durante a fundição da infraestrutura, fundições separadas e soldadas são necessárias para se obter uma estrutura mais passiva. A fundição da infraestrutura em partes e posterior soldagem a laser normalmente fornece uma estrutura mais passiva do que a fundição em monobloco. Quando uma estrutura em monobloco é fundida e não apresenta passividade, é necessária sua secção com um disco fino (a dimensão de corte deve ser mais fina que uma carta de baralho) na região dos abutments desajustados. Depois de separados, deve-se testar a passividade desses componentes isoladamente, e, aí sim, proceder ao processo de união com Duralay, para posterior soldagem6.

Outros autores realizaram um estudo comparando a passividade de adaptação de quatro técnicas de construção de infraestruturas de próteses parafusadas: método de fundição única (a peça é encerada, fundida e fixada em uma única peça); corte e soldagem (a peça é encerada, fundida, seccionada, soldada e fixada); soldagem (estrutura encerada em partes, fundida, soldada e fixada); e adaptação passiva (em que há uma associação da técnica parafusada com a cimentada). Houve geração de estresse em todos os métodos de fixação das próteses; a tensão foi maior no método de fundição única, seguido pelo método de corte e soldagem e pelo método de soldagem. A menor tensão ocorreu com o método de adaptação passiva18.

Também foi feito um estudo avaliando a discrepância marginal e a passividade de ajuste em próteses parafusadas e cimentadas antes e depois do torque no parafuso e/ou cimentação. Não houve diferença significativa na adaptação marginal entre os grupos, antes do aperto do parafuso e/ou cimentação. Após o aperto do parafuso e cimentação, as aberturas marginais foram bem menores nas próteses parafusadas. Em relação à geração de estresse, as próteses parafusadas apresentaram maior geração de estresse que as cimentadas19.

Um estudo in vitro mediu a capacidade de compensação de desadaptações de infraestruturas protéticas de três sistemas: CerAdapt (coroa cimentada) e sistemas Standard e Estheticone (coroas parafusadas). Dispositivos adaptados aos implantes simulavam erros de rotação (torção e inclinação) e de translação (altura e distância). Os autores concluíram que o sistema CerAdapt (cimentado) apresentou melhor capacidade de compensação de erros de translação. Para os erros de rotação, o sistema Standard obteve os melhores resultados, com o sistema Estheticone apresentando os piores valores20.

Reversibilidade

A reversibilidade é descrita por vários autores como a principal vantagem das restaurações parafusadas5,21,22. Esses e outros autores consideram que a praticidade na remoção e reposicionamento das próteses parafusadas facilita as sessões de controle para reparos, modificações da reabilitação após perda ou insucesso de um implante, manutenção da higiene — principalmente em pacientes idosos, que já não têm tanta coordenação — e monitoramento dos tecidos peri-implantares. Considerando isso, a facilidade em remoção da prótese torna-se importante para a durabilidade do trabalho.

Apesar de muitos profissionais considerarem que as próteses cimentadas não podem ser removidas, existe a possibilidade de removê-las utilizando cimentos provisórios. Esses cimentos, se usados em interfaces metálicas, com adaptação e área de superfície adequada, oferecem boa retenção, além de proporcionarem a remoção para eventuais controles6,12.

Como afirmado anteriormente, a grande vantagem das próteses parafusadas é a remoção. Porém, devido às várias desvantagens, alguns autores sugerem a retenção à base de cimentos temporários ou o uso de um parafuso lateral, que, quando apertado, promove o rompimento da película de cimento, permitindo a remoção da prótese3.

Alguns autores citam o uso de cimento provisório associado a vaselina para facilitar a remoção da prótese. Eles também observaram que as próteses parafusadas foram desenvolvidas em resposta à necessidade de remoção da prótese num período em que havia uma taxa de apenas 50% de sucesso nos implantes. Hoje em dia, esse índice aumentou para 90%, diminuindo a significância clínica da reversibilidade12.

Em contrapartida, outros autores13 concordam que hoje em dia, com a evolução dos materiais, o afrouxamento do parafuso torna-se menos frequente, mas também afirmam que com o aumento no volume de pacientes tratados, o número de episódios de afrouxamento tende a aumentar. Como a remoção da prótese cimentada às vezes só se torna possível com a destruição da restauração, esses autores acham mais indicado o uso de restaurações parafusadas, que são de remoção mais fácil.

Porém, verifica-se que as próteses unitárias parafusadas têm maiores complicações reversíveis que as próteses cimentadas, com taxas de insucesso de 36,3 e 2,9%, respectivamente23. O estudo de Jemt e Petterson24 corrobora esses resultados, citando que as próteses parafusadas podem possuir maior afrouxamento do parafuso devido à falta de passividade25.

Sabemos que para se remover uma restauração parafusada em que o orifício de acesso é coberto por resina composta, o dentista deve remover a restauração oclusal, o algodão subjacente e o parafuso da prótese. Depois de reinserida a prótese, o parafuso é substituído, dá-se o torque e o orifício oclusal é restaurado novamente. Esse procedimento despende um tempo considerável. Seria, então, mais fácil e mais rápido remover e recimentar uma prótese que esteja fixada com um cimento temporário6.

Para facilitar esse processo, é descrita uma técnica em que é utilizada uma fita de politetrafluoretileno (PTFE), conhecida como fita de encanador, para selar o acesso ao parafuso do pilar. Trata-se de um material radiopaco, fácil de manipular, que não ocasiona mau cheiro como o algodão. Essa técnica permite sua remoção rápida em uma única peça, quando necessário. Pode ser esterilizada em autoclave e inserida com um calcador no interior do orifício de acesso, sobre a cabeça do parafuso26.

Em relação às próteses cimentadas, podemos afirmar que os cimentos ditos definitivos não se aderem ao abutment de titânio com a mesma tenacidade com que se aderem aos preparos sobre dentes. Consequentemente, um cimento mais resistente pode ser usado nos implantes, e esses ainda podem ser removidos com certa facilidade. As próteses implantossuportadas podem ser vedadas com cimentos de variadas resistências, sendo esses selecionados de acordo com a localização, altura, largura, grau de convergência, retenção e formato do abutment. Deve-se usar a restauração provisória como um guia para encontrar um cimento que permita posterior remoção, mas que não solte durante a função6.

Contrariando essa afirmação, alguns autores dizem que ao usarmos a técnica de cimentação progressiva descrita por Mish6, estaremos aumentando o tempo clínico, mesmo que seja durante a fase de provisórios. Assim, serão necessárias mais visitas do paciente ao consultório, não só para descobrir a consistência ideal do cimento, mas também para recimentar trabalhos que se soltaram7. Outro item considerado é a dificuldade que há para remover completamente o excesso de cimento em torno da prótese, podendo ocasionar ranhuras na peça ou até inflamação nos tecidos adjacentes.

Alguns autores4 concordam que as próteses podem ser de difícil remoção até mesmo com a utilização de cimento provisório. A conicidade ideal do abutment, juntamente com sua parede longa, permite o uso de cimento provisório por um longo tempo.

Aspectos oclusais: transmissão de cargas

Em relação à oclusão, alguns autores9 descrevem que devido a pouca elasticidade dos componentes cimentados ou parafusados sobre implantes, deve-se fazer um planejamento cuidadoso para evitar a sobrecarga.

A prótese cimentada e o corpo do implante podem receber carga axial, reduzindo, assim, a carga sobre a crista óssea. Já para a prótese parafusada, a carga deve ser aplicada na região do parafuso oclusal que está coberto por uma camada de resina. Isso ressalta a vantagem das restaurações cimentadas em decorrência de uma melhor distribuição de forças oclusais ao longo eixo do implante, estabelecendo contatos diretamente sobre a coroa e não sobre a resina de obliteração do orifício oclusal das próteses cimentadas6.

Normalmente, os orifícios para o parafuso medem 3mm de diâmetro, representando 30% ou mais da superfície oclusal total dos dentes posteriores e 50% da área funcional, pois apenas dois terços da mesa oclusal estão localizados nas regiões funcionais de cargas. Os parafusos normalmente estão na região de contato primário; portanto, para direcionar as cargas ao longo eixo do corpo do implante, ajustes oclusais são feitos no parafuso oclusal ou na restauração em resina composta sobre o parafuso. Alguns autores também sugerem a transferência do ponto de contato (carga) para uma região lateral à área do parafuso oclusal. Essas restaurações exigem tempo clínico adicional e se desgastam mais rapidamente que a porcelana ou o metal — que são os materiais para contato usados nas próteses cimentadas6. Vale lembrar que o material restaurador usado em próteses parafusadas afeta a direção da carga oclusal, fazendo com que as forças sejam distribuídas lateralmente ao invés de axialmente sobre o implante14.

Também em relação à prótese cimentada e à oclusão, é necessário lembrar da mesa oclusal íntegra, que permite estabelecer muitos contatos oclusais em articulador, reduzindo o trabalho de ajuste na boca do paciente. O centro da mesa oclusal permite uma melhor transmissão e absorção das forças axiais pela interface osso-implante. Também deve ser lembrado que quando se confecciona próteses cimentadas anteriores, as coroas são feitas com região palatina normal e sem sobrecontornos, possibilitando que os movimentos excursivos da mandíbula sejam realizados sem interferência. Além disso, podemos ressaltar que para uma prótese cimentada é possível estabelecer contatos oclusais ideais que permaneçam estáveis por um longo período de tempo5,9.

A literatura dá evidências de que o carregamento não-axial pode causar elevada incidência de falhas dos componentes, ou ao desaperto do parafuso. Autores relatam que a melhor forma de evitar problemas com a oclusão é deslocar ao máximo possível o orifício de acesso para fora da mesa oclusal, fazendo-o o menor possível13.

Um estudo21 foi feito para avaliar a resistência a fratura de próteses cimentadas e parafusadas. Foram realizadas forças de compressão sobre as coroas. A análise estatística mostrou não haver diferença significativa entre os dois grupos (cimentadas e parafusadas). Todas as amostras sofreram fraturas coesivas da porcelana. As coroas parafusadas mostraram microfissuras no nível do acesso ao parafuso oclusal e extensas fraturas em toda a espessura da porcelana. As coroas cimentadas foram afetadas por fraturas marginais da porcelana, apresentando maior resistência a fratura que as parafusadas.

Outro estudo27 foi desenvolvido avaliando a resistência a fratura de três tipos de prótese: cimentadas (controle), parafusadas com suporte metálico no orifício de acesso do parafuso e de porcelana. As coroas foram submetidas a cargas dinâmicas e estáticas até o limite de resistência das coroas. Observou-se maior resistência a fratura para o grupo cimentado; porém, não houve diferença estatisticamente significativa entre os dois grupos de próteses parafusadas. Constatou-se que a descontinuidade oclusal das coroas parafusadas afeta sua resistência, independentemente de ser ou não ser com suporte metálico no orifício de acesso ao parafuso.

Retenção

A retenção de uma prótese implantossuportada é um fator importante que influenciará na longevidade do trabalho reabilitador9. Alguns autores12,13,14 já relataram que a retenção protética depende de vários fatores, como: angulações do preparo, área da superfície, altura do pilar, rugosidade superficial e tipo de agente de cimentação.

A principal vantagem de uma estrutura parafusada é a possibilidade de se confeccionar uma prótese sobre abutments com baixo perfil de retenção, ou seja, quando o espaço interoclusal é reduzido. As próteses cimentadas necessitam de um componente vertical de, pelo menos, 5mm de altura para oferecer retenção e resistência. Quando o intermediário é de 4mm, a retenção diminui em 40%. Podemos concluir, então, que o sistema parafusado é mais resistente às forças oclusais que o cimentado quando a altura desse é inferior a 5mm6,13.

Em relação às próteses cimentadas, como já visto no tópico “Reversibilidade”, Michalakis et al.5 citam que os cimentos utilizados para fixar as próteses podem ser definitivos ou provisórios. Os cimentos definitivos aumentam a retenção e proporcionam bom selamento marginal da restauração. Os cimentos provisórios têm como principal função a facilidade de remoção.

Para uma retenção efetiva, o cimento precisa de preparos com paredes longas e paralelas o máximo possível. Segundo Southan e Jorgensen31, a inclinação ideal das paredes de um preparo deve estar próxima a 6°, evitando, assim, a perda de retenção friccional. Esse conceito pode ser empregado tanto para preparos e dentes quanto para abutments sobre implantes. A maioria dos fabricantes de implantes produz pilares com inclinação de 6°. Assim, a retenção conseguida com a prótese sobre implante cimentada é cerca de três vezes maior que a conseguida com dentes naturais, haja vista que a maioria dos profissionais consegue preparar dentes naturais com uma angulação de 15 a 25°, reduzindo consideravelmente a retenção da prótese (75%)5,9,12.

Complementando a afirmação anterior, podemos citar que, em virtude dessa angulação de 6° presente nos abutments de próteses cimentadas, não torna-se necessário fazer retenções adicionais com pontas diamantadas ou jateamento abrasivo, deixando a superfície do intermediário mais rugosa, aumentando ainda mais a retenção12,14.

Autores relatam a utilização da técnica de cimentação progressiva para casos em que não há a retenção almejada. Essa técnica preconiza a utilização de cimentos cada vez mais fortes até que se obtenha a retenção esperada12. Em acréscimo a esse estudo, Mish6 salienta que a restauração provisória pode orientar o profissional a encontrar um cimento adequado, que não solte enquanto função.

Em relação à prótese parafusada, a retenção é obtida por meio da fixação do parafuso, e sua perda por meio de seu afrouxamento. Diversos fatores — como torque insuficiente do parafuso, sobrecarga, forças fora do longo eixo do implante, desadaptação da prótese, entre outros — afetarão a retenção do parafuso e, consequentemente, da prótese14.

Para alcançar a força suficiente de fechamento do parafuso, deve-se dar o torque conforme as especificações do fabricante. Também é indicado outro torque no parafuso 5 minutos após o torque inicial e, novamente, algumas semanas mais tarde. Sobrecargas, forças fora do longo eixo do implante e desadaptação prótese-implante devem ser ajustados, pois aumentam o estresse no parafuso, levando ao seu afrouxamento14.

FATORES ESTÉTICOS

No quesito estético, vê-se que a maioria dos autores considera as próteses cimentadas superiores às parafusadas5,6,12,21. As próteses cimentadas permitem a localização cirúrgica do implante mais relacionada ao longo eixo do elemento dentário, obtendo coroas de anatomia mais natural28.

A ausência do orifício oclusal para o acesso do parafuso nas próteses cimentadas evita que haja uma alteração no design, comprometendo a estética1. Hebel e Gajjar12 consideram que a principal desvantagem estética da prótese parafusada é o orifício de acesso ao parafuso, uma vez que esse orifício faz com que uma área da superfície oclusal apresente um material diferente do material da coroa, resultando em uma tonalidade diferente. A coroa cimentada torna fácil a confecção da forma e de uma superfície mastigatória funcional e estética6.

Outros autores9 afirmam que a integridade das superfícies é, sem dúvida, a maior vantagem das próteses cimentadas. É possível que o técnico confeccione uma prótese estética semelhante à fixa convencional, pois não requer a presença de orifícios de acesso ao parafuso de retenção; e, ainda, em tratamentos cujos implantes foram colocados vestibularizados, pode ser realizada a correção da angulação. Para próteses parafusadas, a correção da angulação pode ser feita por meio da instalação de pilares angulados; entretanto, isso poderá ocasionar uma intervenção esteticamente negativa na região cervical. Todavia, para Shadid e Sadaqa14 o implante colocado na posição ideal permitirá bons resultados estéticos tanto com as próteses cimentadas quanto com as parafusadas.

Os implantes anteriores devem ser instalados mais para lingual em próteses parafusadas do que em restaurações cimentadas, para que o orifício de acesso localize-se mais na região do cíngulo6.

O perfil de emergência de uma coroa cimentada anterior pode ter um resultado estético satisfatório, pois o implante pode ser inserido sob a borda incisal ao invés do cíngulo. Isso facilita o preparo de um abutment ligeiramente angulado para vestibular, assim como um dente natural. Uma restauração parafusada sobre um implante posicionado ligeiramente para vestibular não pode ser modificada sem a presença de um abutment angulado. Se o corpo do implante for modificado, um abutment personalizado, com consultas e custos adicionais, torna-se necessário6.

Malinverni3 relata que uso de resina composta para mascarar o orifício de acesso ao parafuso pode resolver totalmente o problema estético das próteses parafusadas, desde que a escolha da cor seja feita de maneira correta.

A estética depende, em grande parte, da seleção do paciente, do tipo e volume de tecido que envolve o implante e de sua posição. A trajetória do implante simplesmente determinará o método de retenção. A retenção por cimento pode ser usada mais universalmente, já a restauração parafusada pode ser utilizada somente quando permite um acesso ao parafuso em áreas não-estéticas13.

Weber et al.29 realizaram um estudo avaliando, além das condições dos tecidos moles peri-implantares, o desempenho estético de restaurações sobre implante em 80 pacientes. Os pacientes não apresentaram preferência estética estatisticamente significativa entre os dois tipos de prótese sobre implante, enquanto os cirurgiões dentistas mostraram maior satisfação com as coroas cimentadas1,29.

Conclusão

Sabemos que na área de saúde não existem verdades universais nem princípios extrapoláveis para todas as situações. A decisão entre parafusar ou cimentar uma prótese é um desses exemplos. Fica claro, após a presente revisão de literatura, que ambas as técnicas possuem prós e contras, cabendo ao profissional decidir, dentro de cada caso específico, qual tipo de fixação utilizar. Essa decisão deve ser baseada no conhecimento e na experiência do profissional — sempre alcançada pela busca de evidências científicas —, bem como nas necessidades do paciente.

Como citar este artigo:

Scur RE, Pereira JR, Sanada JT. Cement-retained versus screw-retained dental prostheses: Literature review. Dental Press Implantol. 2013 Apr-June;7(2):39-48.

» Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

 

Endereço para correspondência

Jefferson Ricardo Pereira

E-mail: jeffripe@rocketmail.com

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