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Pesquisa revela ligação de bactérias da boca e o Parkinson

Escovar os dentes pode ter um papel ainda mais importante do que se imaginava. Um novo estudo conduzido por cientistas sul-coreanos revelou evidências de que bactérias orais, ao migrarem para o intestino, podem afetar o cérebro e contribuir para o desenvolvimento da doença de Parkinson.

A descoberta foi feita por uma equipe interdisciplinar das universidades POSTECH, Sungkyunkwan e Seul, liderada pelos professores Ara Koh e Yunjong Lee, em colaboração com os doutorandos Hyunji Park e Jiwon Cheon. Os resultados foram publicados no dia 5 de setembro, na revista científica Nature Communications.

A doença de Parkinson é um distúrbio neurológico crônico que afeta de 1% a 2% da população com mais de 65 anos em todo o mundo. Ela é caracterizada por tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e, em estágios avançados, comprometimento cognitivo. Estudos anteriores já apontavam que pacientes com Parkinson apresentam alterações na microbiota intestinal, mas os mecanismos exatos por trás disso ainda eram desconhecidos.

Nesta nova pesquisa, os cientistas identificaram a presença aumentada da bactéria Streptococcus mutans – conhecida por causar cáries dentárias – no intestino de pacientes com Parkinson. Essa bactéria produz uma enzima chamada urocanato redutase (UrdA), responsável por gerar o metabolito propionato de imidazol (ImP).

Segundo os pesquisadores, o ImP entra na corrente sanguínea, alcança o cérebro e pode contribuir para a degeneração dos neurônios dopaminérgicos, que são cruciais para o controle dos movimentos e diretamente afetados pela doença.

Em experimentos com camundongos, os cientistas introduziram a S. mutans no intestino dos animais ou modificaram a bactéria E. coli para produzir UrdA. Os resultados mostraram um aumento dos níveis de ImP no sangue e no cérebro, acompanhado por sintomas semelhantes aos da doença de Parkinson: perda de neurônios, inflamação cerebral, prejuízos motores e acúmulo da proteína alfa-sinucleína, um dos principais marcadores da doença.

Os efeitos foram associados à ativação do complexo proteico mTORC1, que regula várias funções celulares. O uso de um inibidor desse complexo reduziu significativamente os danos cerebrais nos animais, indicando um possível caminho terapêutico.

“Nosso estudo oferece uma explicação mecanística de como microrganismos da boca, ao se estabelecerem no intestino, podem influenciar o cérebro e contribuir para o surgimento do Parkinson”, afirmou o professor Ara Koh.

“Isso abre novas possibilidades para tratamentos que visem a microbiota intestinal e seus metabolitos, oferecendo uma abordagem promissora para o combate à doença”, completou.

A pesquisa recebeu apoio de diversas instituições, incluindo o Centro de Financiamento e Incubação de Pesquisa da Samsung Electronics, o Ministério da Ciência e TIC da Coreia, além de programas dedicados ao desenvolvimento de tecnologias biomédicas e estudos do microbioma.

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