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Pesquisa da USP desmistifica tratamento odontológico em pacientes com HIV

Atendimento odontológico no Centro de Atendimento de Pacientes Especiais (CAPE) da Faculdade de Odontologia (FO) da USP | Foto: Cecília Bastos/USP Imagens

Uma pesquisa realizada na USP (Universidade de São Paulo) está  focada em desmistificar o atendimento odontológico em pacientes que são portadores do vírus HIV. Pacientes contaminados com esse vírus, além de terem uma perspectiva de vida mais longa, estão apresentando menos doenças bucais, que se valem da baixa imunidade causada pela doença.

A pesquisa foi feita no Cape (Centro de Atendimento a Pacientes Especiais) da FO (Faculdade de Odontologia) da USP, em meados do ano passado, e irá auxiliar cirurgiões-dentistas na realização de procedimentos adequados e na avaliação de comorbidades (existência de doenças simultâneas) que podem afetar o manejo clínico odontológico.

Orientada pela professora Marina Gallottini, coordenadora do Cape, o trabalho de Maria Fernanda Bartholo Silva foi feito com base em exame e entrevistas com 101 pacientes portadores do vírus HIV – do centro de atendimento – durante os anos de 2016 e 2017. O levantamento também objetivava atualizar informações e compará-las com as obtidas em outra pesquisa semelhante que havia sido feita pelo Cape em 2006.

O estudo mostrou que, devido ao maior acesso às terapias antirretrovirais altamente difundidas na década de 90, houve um aumento da longevidade das pessoas com Aids, que passaram a apresentar incidência cada vez menor de doenças oportunistas bucais. Dos entrevistados (a maioria homens), todos usavam a terapia antirretroviral potente (HAART, sigla em inglês) e grande parte relatou ter sido contaminada via contato sexual havia mais de dez anos.

Muitos apresentaram lipoatrofia facial, ou perda de gordura subcutânea do rosto (32%), seguida por xerostomia – ou boca seca (29%) – e aumento de glândulas salivares (11%), mas sem incidência de doenças bucais oportunistas graves. Em relação ao estudo de 2006, houve um aumento do número de pacientes com doenças metabólicas – pressão alta, alterações de colesterol, triglicérides e glicemia.

Dadas as inter-relações entre saúde bucal e saúde geral do paciente infectado, que envolvem a maioria dos sistemas de órgãos, muitas doenças podem afetar o manejo odontológico, destacou Marina. “A boca pode ser a sede de uma série de alterações relacionadas direta ou indiretamente com a infecção pelo HIV.”

O uso de medicamentos antirretrovirais tem se mostrado eficaz porque as drogas preservam a imunidade do paciente, melhoram a qualidade de vida e reduzem as chances de transmissão do vírus HIV. No entanto, efeitos adversos desses medicamentos surgem quando são utilizados por longo prazo.

É o caso da lipodistrofia, que resulta na má distribuição da gordura no corpo, principalmente nos braços, pernas, face e nádegas. Já em relação às manifestações de lesões oportunistas bucais, as terapias antirretrovirais têm diminuído a incidência destas entre os pacientes infectados, como é o caso da candidíase oral e da leucoplasia pilosa (placas esbranquiçadas na borda lateral da língua).

A consideração de comorbidades é importante na prestação de cuidados odontológicos porque os indivíduos infectados podem apresentar condições de saúde mais complexas. Dessa forma, avalia Marina, é necessário conhecer as comorbidades, para que os profissionais de odontologia verifiquem a necessidade de modificações no tratamento dentário.

Fonte: Jornal da USP, por Ivanir Ferreira

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