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Peri-implantite pode ser uma doença sintética, diz parceiro de pesquisa de Brånemark

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Tomas Albrektsson é professor emérito do Departamento de Biomateriais da Universidade de Gotembrugo, na Suécia (Foto: Divulgação)

O sueco Tomas Albrektsson, professor emérito do Departamento de Biomateriais da Universidade de Gotemburgo, começou a trabalhar com Per-Ingvar Brånemark, considerado o “pai da osseointegração”, em 1967 para ajudar a desenvolver implantes orais osseointegrados, craniofaciais e ortopédicos. Desde então, ele publicou diversos artigos sobre osseointegração e contribuiu significativamente para o entendimento do mecanismo biológico subjacente e para o desenvolvimento dos implantes dentários. No congresso deste ano da Associação Europeia para Osseointegração (EAO), que será realizado no fim de setembro em Paris, Albrektsson apresentará suas últimas descobertas acerca da osseointegração e da perda óssea peri-implantar marginal.

O site Dental Tribune teve a oportunidade de discutir esses tópicos com ele antes do evento, entrevista que o Portal Dental Press traduziu livremente na íntegra. Confira:

Há mais de 50 anos, Brånemark descobriu o processo de osseointegração, fornecendo a base para a implantodontia. Desde então, o conceito ganhou aceitação e muitas pesquisas foram feitas sobre a osseointegração e o mecanismo subjacente. Quais são as últimas descobertas?

Durante as primeiras décadas, a osseointegração foi percebida como uma resposta natural do tecido aos implantes de titânio comercialmente puros. A incorporação destes implantes ao osso foi interpretado como um fenômeno simples de cicatrização. No entanto, esta explicação foi refutada por novas pesquisas. Hoje, vemos osseointegração como uma reação ao corpo estranho para proteger o corpo de algo potencialmente prejudicial, tais como o titânio ou implantes de cerâmica.

Em suas pesquisas, você enfatiza que a compreensão da base biológica da osseointegração, do papel da biologia óssea e dos aspectos imunológicos são importantes para melhorar o resultado do tratamentos com implantes. Até que ponto chegaram as pesquisas neste campo e o que ainda precisa ser estudado?

Nós, certamente, precisamos de mais pesquisas. Dito isso, muitos trabalhos científicos que pesquisam a indução de uma reação de corpo estranho, na forma de ligaduras colocadas ao redor de implantes, apresentaram dados sobre a combinação viciosa de dois corpos estranhos – o implante e a ligadura. Na pesquisa clínica, foi observada uma outra combinação de corpos estranhos, quando as partículas de cimento acidentalmente adentram o tecido mole ao redor do implante. Pode-se dizer que um implante colocado com sucesso está num estado delicado de equilíbrio, descrito como um equilíbrio de corpo estranho. Se outro corpo estranho ou certas características do paciente, como o tabagismo, a genética ou a ingestão de medicamentos (como antidepressivos) estão presentes, o equilíbrio pode ser perturbado e pode ocorrer reabsorção óssea. Além disso, fatores como o vazamento de implante iônico (desgaste das partículas), força excessiva ou componentes quebrados podem agravar a situação e resultar em reações osteolíticas, devido à ativação do sistema imune.

A condição de peri-implantite tem sido muito debatida nos últimos anos e ainda não há consenso sobre se ele deve ser classificada como uma doença ou uma complicação na colocação de um corpo estranho na cavidade oral. Qual é o principal problema a este respeito e qual é a sua opinião sobre o assunto?

Na minha opinião, a peri-implantite pode ser uma doença sintética baseada numa assumida, mas falsa, similaridade entre dentes e implantes. O osso ao redor do implante pode ser perdido através de uma reação asséptica; macrófagos vão influenciar no equilíbrio delicado entre os osteoblastos de formação óssea e os osteoclastos de reabsorção óssea, em favor do último. Os osteoblastos e os osteoclastos são células ósseas, bem como células que pertencem ao sistema imunitário.

No entanto, implantes problemáticos que perdem osso interfacial existem – mesmo que em números muito menores que no passado. Considerando que os clínicos sejam bem treinados  e saibam utilizar os sistemas de implantes devidamente documentados, a incidência real de perda óssea marginal compromete cerca de 1 a 2% de todos os implantes colocados, quando acompanhados por dez anos ou mais. Portanto, não é tão surpreendente que um estudo recente tenha relatado que mais de 95% dos implantes supostamente infectadas em outro estudo sobreviveram uma média de nove anos de follow-up, e que mais de 90% dos implantes supostamente infectados não apresentaram mais nenhuma perda óssea marginal, mas manteve-se num estado estável no que diz respeito a uma maior reabsorção óssea.

Como as últimas descobertas em biologia óssea e osseointegração podem ajudar implantodontistas na prática clínica, particularmente no que diz respeito ao tratamento de perda óssea peri-implantar?

Atualmente, não temos um meio eficaz de tratamento de todos os casos de perda óssea que comprometem o implante. Mesmo se os problemas imunológicos, em combinação com vários fatores adversos, são responsáveis pela perda óssea marginal, as bactérias podem exacerbar a situação ao longo do tempo. Por esta razão, devem ser utilizados antibióticos. Nós não sabemos o papel que as bactérias desempenham neste contexto. Será que elas representam apenas uma colonização oportunista secundária? Será que eles ativam as células de reabsorção óssea semelhantes às anteriormente ativas durante a perda asséptico? Será que elas, juntamente com os biofilmes, constituem ainda a indução de uma reação de corpo estranho, resultando na perda óssea?

Além disso, os dentistas precisam ser pró-ativos em entender por que o osso está sendo perdida. Partículas de cimento poder ter causado o problema? Os componentes do implante foram fraturados? Dito isso, relatórios anteriores – alarmistas e incorretos – levaram a um tratamento excessivo em muitos casos. Às vezes, pode ser suficiente acompanhar os implantes dos pacientes frequentemente e de forma cuidadosa, para determinar se a condição vai piorar ou se um novo estado estável se estabelecerá para não haver mais perdas ósseas.


O professor Tomas Albrektsson apresentará o artigo intitulado “O que é a osseointegração em 2016 e por que estamos perdendo osso ao redor dos implantes?” na sexta-feira, 30 de setembro, no Amphithéâtre Bleu no Palais des Congrès de Paris.

Fonte: Dental Tribune

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