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O que a Ortodontia Coreana tem? – por André W. Machado

Sorriso

André W. Machado

Professor Adjunto de Ortodontia da UFBA; Professor Colaborador do Mestrado em Ortodontia da UCLA – USA; Doutor em Ortodontia – UNESP / UCLA – USA; Mestre e Especialista em Ortodontia – PUC Minas; professor do Excelência na Ortodontia Dental Press.

 

Recentemente (28 a 30 de Outubro, 2017), tive a oportunidade única de conhecer o Congresso Internacional da Associação Coreana de Ortodontia, na Coreia do Sul (50th Annual Scientific Congress of the Korean Association of Orthodontists – KAO). Experiência inesquecível! Afinal de contas, era minha primeira visita não só a Coreia, mas a Ásia. Durante o evento, muitos colegas e amigos ortodontistas curiosos mandaram mensagens solicitando notícias de lá. Por essa razão, resolvi compartilhar um pouco do que “a Ortodontia Coreana tem.” Meu objetivo não é simplesmente compartilhar o que eles têm, mas também refletir como a Ortodontia brasileira pode evoluir aprendendo com eles.

Nesse texto focarei no evento (a culinária, as belezas naturais, o turismo e outros deixarei como motivação para vocês visitarem a Coreia do Sul). Serei mais veemente: não deixem de conhecer aquela terra especial, de pessoas solícitas, hospitaleiras, educadas e altamente respeitosas. Respeito à ciência, a pontualidade e ao papel social do professor três características que mais me marcaram nesse breve convívio.

Todos sabem que a ancoragem esquelética foi criada na Coreia do Sul. Não somente isso, mas também é recriada e aprimorada constantemente. Um dia antes do evento ocorreu o pré-congresso, com foco específico sobre esse tema. O que eu vi de novo, comparado com o que estamos fazendo em terras brasileiras? O brilhantismo científico! Todos os palestrantes apresentaram estudos científicos com alto nível de evidência, abraçando as mais diversas técnicas contemporâneas de ancoragem esquelética. Voltei reflexivo sobre esse perfil… É assim que a ancoragem esquelética é encarada no nosso país?

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Efeitos colaterais mecânicos foram mostrados de forma transparente e natural. Claro! É assim que deve ser, não é? Clínicos têm efeitos colaterais nos seus consultórios e nas suas escolas. E por que isso não é, em geral, divulgado? Assisto a casos mágicos mostrados em congressos e mídias sociais… Resultados milagrosos, tempos recordes, mecânicas matematicamente impossíveisFunção e estética perfeitos como num passe de mágica. Onde está o processo real que traz os resultados que praticamos de forma transparente e respeitosa? Os coreanos brilharam nesse ponto!

Presenciei casos clínicos de severidade extrema, com indicação cirúrgica, camuflados com o auxilio da ancoragem esquelética. Os coreanos dominam os mini-implantes de forma maestral e tratam com celeridade incrível. Sabe quantos palestrantes atribuíram a redução do tempo de tratamento a bráquetes ortodônticos ou a técnicas de vibração? Zero.

Por quê? Eles não usam? Eles não conhecem? É simples. Eles valorizam evidências científicas, acima das experiências pessoais. Compactuam com a Ciência!  

Mais uma reflexão: sabe quantas palestras tinham cunho comercial? Ou seja, quantos palestrantes ministraram conferências para “vender” materiais, técnicas ou similares? Zero.

Pontualidade. Eles são demais nesse aspecto! Seguem à risca os horários para tudo. O Congresso iniciou num sábado às 13h, horário local. Cheguei mais cedo, a pedido dos organizadores e… às 13h, o evento começou! Alguns participantes já sentados, outros no processo de inscrição, algumas mesas sendo organizadas… Não importa, o início se deu às 13h.

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Esse mesmo cuidado foi seguido pelos palestrantes: terminaram suas aulas antes do prazo estipulado. Eles consideram a pontualidade uma manifestação de respeito com o tempo do colega. Confesso a você: sofri com a vergonha por ter terminado minha conferência com dois minutos de atraso. Aprendizado difícil para um brasileiro habituado a não perceber o valor de “só” dois minutos.

Por fim, gostaria de compartilhar e refletir o papel social do professor. Nesse ponto, nosso Brasil perde com placar mais vergonhoso que o histórico 7 x 1. Como eles valorizam o educador naquele país. De matar de inveja! Alunos, palestrantes, coordenadores de cursos, chairman de renomadas universidades praticam reverências honrosas a seus mestres.

Há de haver uma explicação histórica para esse comportamento cultural, mas eu me arriscaria a um palpite um tanto clichê… Sabe aquele ditado: respeito gera respeito? Foi o que constatei. Os alunos são tratados como material de aprimoramento valioso. Sem hierarquias forçosamente instituídas. Sem usar o medo como forma de obter respeito. Acessibilidade, humildade e exemplo são seus instrumentos para se fazerem mestres merecedores de tantas honrarias.

Deixo aqui, colega, um pouco da minha frutífera experiência no Congresso da Associação Coreana de Ortodontia e resumo em uma palavrinha o que trouxe como lição: Respeito! À ciência, aos colegas, aos pacientes e, sobretudo, aos mestres!

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