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O que faz avançar: ousadia ou ciência? – por Alberto Consolaro

Alberto Consolaro

Livre docente e Professor Titular de Patologia na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP)

E me perguntaram: a humanidade avança pelas evidências científicas ou pelo conhecimento empírico e ousado na tentativa de acertar e errar até se aprender de forma exímia? Os mestres carpinteiros, cucas, cervejeiros e de obras se tornam exímios em sua arte a partir de 10 mil horas de treinamento.

Quem construiu o mundo foi o conhecimento empírico! A partir da concepção de Descartes de que tudo deve ser comprovado pelo método, as comprovações vieram a confirmar ou desmentir o que o dia a dia revela. A ciência requer reprodutibilidade e publicação dos detalhes que levaram ao resultado. A ciência é pública! É arte da comprovação de conhecimento por um método que possa ser reproduzido em qualquer parte do mundo nas mesmas condições. Pesquisadores são pessoas metódicas, quase neuróticas; cientistas são malucos, impetuosos e ousados, quase psicopatas!

As invenções primariamente não são científicas. Antes do inventor apresentar seu produto, muitos testes foram feitos! Só o protótipo final se apresenta à opinião publica. Registra-se a patente, marca registrada e assume-se a propriedade e o lucro a ser gerado. Foi assim com internet, celulares, lâmpada elétrica, carro, roda, armas, computadores e os aplicativos que tanto usamos nos celulares. E não foram publicadas, então não é científico: quando ocorre esta atividade não pública ela se chama tecnologia. Eis a diferença entre ciência e tecnologia.

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Para criar produtos e técnicas se junta, organiza e dá sequência lógica às ideias que surgiram fragmentadas no tempo e espaço. Esta organização de conhecimento aleatório nas publicações pode fazer um cientista, pesquisador ou leigo inteligente criar processos, técnicas e até inventar! Quando se publica, doa-se ao conhecimento universal, o resultado. O verbo é mesmo doar, dar, perder a propriedade ou entregar de mão beijada! Publicou é do mundo e se não quer que seja assim, engula o que sabes e leve-o para o túmulo com seu corpo!

Mas quem pode pegar todos estes conhecimentos fragmentados e usar para construir produtos, inventar, gerar processos, protocolos e técnicas? Qualquer cidadão do mundo! O microscópio foi descoberto por um comerciante de tecidos incomodado com os fungos que os impregnavam! Evidências científicas caem como conta gotas no tanque do conhecimento, são conhecimentos quase em pó. De vez em quando cai uma cachoeira, balde ou temporal neste tanque do conhecimento, mudando realidades estabelecidas a partir de criações, invenções e modelos que eram empíricos e jorram como águas aos cântaros!

O conhecimento empírico, sensorial e outros são tão valiosos quanto o científico. O avanço do mundo, aquele que modifica a vida das pessoas, não mais são publicados nas revistas científicas! Muito antes disso, a Nasa, Harvard, Mit, Caltech e outros centros de pesquisa apresentam o avanço convocando a multimídia mundial, oferecendo coquetéis para comemorar juntos. Apenas depois de meses e anos começam a ser publicados os trabalhos científicos sobre o assunto nas revistas como Science e Nature.

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Quando a ciência impressiona muito com suas evidências, cuidado pode ter itens condenáveis: 1) Na descoberta da estrutura do DNA por Watson e Crick descobriu-se que quem realmente desvendou foi Rosalind Franklin, a “mãe do DNA”. Seus resultados foram observados sobre a mesa do chefe e os dois correram a publicar sem ela! 2) Nos padrões de hereditariedade de Mendel se estranhou que os resultados eram números redondos e as pesquisas em suas anotações pessoais revelaram que não era bem assim! 3) O projeto genoma prometeu ler todos os genes humanos e desvendar a origem das doenças até 2002. Até hoje não chegou-se nem perto!

Me parece que ciência atua melhor quando corre atrás da ousadia para comprovar a veracidade, precisão ou modificar o que foi apresentado! As ciências como estatística, física, química, biologia e matemática são ferramentas de humanos para melhorar as coisas, mas o que faz avançar é a eterna e romântica criatividade com a arte de ousar sem medo de errar, sempre com muita honestidade!

Viva o inventor e ou cientista: quase sempre um ousado sem medo de ser feliz!

*Publicado originalmente no Jornal da Cidade de Bauru

E você, o que acha? A humanidade avança pelas evidências científica ou pela ousadia? Deixe seu comentário aqui!

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