Dental Press Portal

O ensino não está mudando, já mudou! – por Oswaldo Scopin

oswaldo scopin

Oswaldo Scopin de Andrade

Mestre e Doutor em Prótese Dental pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp), Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Odontologia Estética do Centro Universitário do SENAC, São Paulo, e Editor-chefe do Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR), da Dental Press.

A educação mudou e nunca mais será a mesma. Outro dia, peguei-me pensando sobre qual tinha sido o primeiro contato com a educação que mudou minha vida drasticamente. Pensei em vários momentos, mas não encontrei um específico. Sou filho de um casal de professores, que sempre me guiaram; ainda assim, esforcei-me muito para lembrar de algo, mas não consegui. Fiquei imaginando o porquê dessa falta de memória específica.

Após dias indo e voltando em pensamentos e devaneios, lembrei-me da minha professora do “ginásio”, em um mapa-múndi impresso, pendurado no quadro negro, explicando onde era a Mesopotâmia e a razão daquela região ter sido um dos berços da civilização. Era preciso muito talento e treino para explicar isso no mapa, despertando o interesse e a imaginação na cabeça dos jovens alunos.

Assim que me lembrei dela, fui para o computador de 22 polegadas em 4K e abri o Google Earth; no mesmo momento e quase simultaneamente, abri o History Channel e fui ver sobre a Mesopotâmia. Seria impossível, mesmo para qualquer futurólogo da época, imaginar que, em um período tão curto, o mundo da informação e da educação fosse mudar tanto.

Mesopotâmia, ou a “terra ente os dois rios”, entre os rios Tigre e Eufrates; o berço da civilização (Imagem: Reprodução)

O mundo é grande, as riquezas são mal distribuídas, as guerras e a violência continuam a nos assombrar, mas a mudança não tem volta.

Hoje, uma criança em idade escolar é totalmente diferente da minha geração, 40 anos atrás. Diferente porque, no momento em que uma criança vai para a escola, ela já teve contato com TV, computador, tablets, games e coisas inimagináveis em décadas passadas.

Com frequência, vejo postagens e publicações, dizendo:

»Nossa infância é que foi boa…

»Nossa escola é que ensinava…

»A juventude de hoje está perdida…

Mas a questão é que isso é normal na evolução do conhecimento. Toda mudança gera um certo desconforto.

Quando dizemos isso, estamos nos referindo aos 40 anos em que a evolução da tecnologia chegou a um nível de velocidade e geração de dados tão grande que nem as máquinas e computadores atuais conseguem processar. E as crianças de hoje estão nesse mundo… E os dentistas também!

Crianças e a tecnologia: a mudança não tem volta (Foto: Freepik)

Assim, o ensino da Odontologia tem que mudar! Não são postagens, nas mídias sociais, de um antes e depois; propagandas bem elaboradas para clínicas e cursos; masterclass disso ou daquilo… Refiro-me a uma estrutura educacional elaborada em padrões digitais, para o mundo atual e para o que virá!

Sou um educador e atuo nas áreas de educação continuada e pós-graduação para profissionais, além de minha clínica privada. Vejo que a mudança deve ser em todos os níveis. Primeiramente, a maioria dos profissionais que se forma sai despreparada em pontos indispensáveis para qualquer área. A área de atuação do cirurgião-dentista é ampla: atendimento no serviço público, em clínicas privadas ou de terceiros, “academia”, entre outras. Entretanto, no geral, o ensino em tópicos sobre gestão de um negócio e de pessoas é incipiente, isso quando está na grade curricular. Outro ponto falho é a pouca exposição à tecnologia digital, desde a entrada na graduação.

Tecnologia digital não quer dizer ter computador na faculdade! Tecnologia digital na educação é ensinar a usar dados de maneira aplicável para a profissão escolhida e fazer da utilização desses algo rentável do ponto de vista financeiro e aplicável com precisão e ética, do ponto de vista clínico e laboratorial. Vejo muita gente confundir tecnologia com “celular” de última geração, tablets, etc. Sim, esse é o meio para alcançar a educação! Mas o gerenciamento disso de maneira eficaz é que faz a diferença.

Revistas e livros têm sua importância como se fossem “bíblias” do saber odontológico, mas temos que ir adiante, mudando formatos, ajustando tendências, agregando conteúdo real em cursos de graduação e pós-graduação. Senão, corremos o risco de estar ensinando Geografia e História ainda em um mapa-múndi pendurado em um quadro negro. Essa mudança está acontecendo em outras áreas: em algumas, mais devagar; em outras, tão intensamente que é difícil até acompanhar ou mesmo entender.

Por exemplo, no Vale do Silício, na Califórnia (EUA), há uma faculdade de programação de computadores sem professores ou curso formal, fundada por empreendedores donos de empresas de vanguarda na era atual, com uma proposta totalmente diferente: a University 42 é uma inovação ímpar no processo educacional, e há outros formatos e meios em diversos locais do mundo.

E nós, do meio odontológico, temos que aprender e entender que mudou. Escolas, professores, técnicos em prótese dental, empresas da área de Odontologia, estão, sim, trabalhando, mas, a meu ver, o meio odontológico tem que mudar e se integrar mais de forma digital, com utilização de: processos de escaneamento intraoral e em laboratório, impressão 3D, comunicação integrada de desenvolvimento de planos de tratamento com radiografia digital e uma infinidade de novas ferramentas pouco utilizadas e aplicadas. Um novo universo se abre para a Odontologia, de maneira totalmente diferente, e teremos que nos adequar e redescobrir como área de atuação.

A impressão 3D já é uma realidade na Odontologia (Foto: Stratasys)

Com esse turbilhão de possibilidades, deixo nesse editorial a minha mensagem de como foi engrandecedor ter sido editor-chefe desta revista, ao lado de grandes nomes da Odontologia e de uma editora sempre visionária. A partir de agora, e por decisão exclusivamente minha, deixo de ser editor-chefe e passo a me dedicar a outros projetos educacionais, mas sempre presente e acreditando que um periódico é indispensável para o crescimento de qualquer profissional da área odontológica.

Boa leitura e sucesso a todos!

*Texto originalmente publicado na edição v15n1 da Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR)


Gostou do conteúdo? Assine agora a JCDR!

Sair da versão mobile