Editorial publicado originalmente na Revista Estética Dental Press, v16n1, por Ronaldo Hirata
Acho que escrevi esses dias sobre a necessidade das pessoas mostrarem como são felizes e como têm a vida perfeita; acredito que tenha sido nas férias, quando as pessoas tentam convencer todos como são #abençoadas e como o ano não foi terrível (embora deva ter sido, uma vez que os que tiveram um ano ótimo não estão, provavelmente, tentando convencer os outros disso).
Mas acho humano e natural que a propaganda tenha que ser feita; o sucesso é ser feliz, afinal de contas, diria o mestre do marketing. O que isso tem a ver com a Odontologia? O mesmo. Em congressos, vejo só clínicas de sucesso, com pacientes ricos e famosos, casos fantásticos e, mais importante, não vejo erros e falhas clínicas, que é exatamente o que os dentistas buscam em congressos: ver o erro que se pode ter e como os professores aprenderam a evitar. Ir a congressos e ver somente sucesso é como ir ao médico e sair sem receita e recomendações.
Bom, nunca me escondo atrás de críticas que faço, então me incluo nessa massa de professores, mas tenho me esforçado para mostrar o que é real e o que sou de verdade, minhas dificuldades e erros, minhas dúvidas e crises profissionais que os professores de sucesso não têm (ou querem aparentar não ter).
Vejo cada vez mais periódicos sérios, assim como bons congressos e eventos, valorizarem a busca do acerto através da demonstração do erro, dos insucessos, das falhas de raciocínio que existem na busca da evolução. Assim temos percebido dentro da Odontologia, assim temos percebido fora dela. Estamos nos conectando cada vez mais à pessoas que mostram fragilidades e, com essa fragilidade, a verdadeira força e personalidade. Gosto muito de prestar atenção a estas pessoas: são as mais interessantes. Acho a pessoa de sucesso (como descrito na mídia) desinteressante.
Convoco você a duvidar do sucesso que vem sendo vendido a você, por outros e pela mídia social. Convoco você a deixar de ser ingênuo o suficiente para achar que somente a sua clínica tem dificuldade para encontrar o lucro real com todo esse custo trabalhista irreal que temos no nosso país, com a quantidade de impostos aplicados a nossos produtos, que são, na grande maioria, importados; convoco você a perder a inocência e deixar de acreditar em professores fantásticos de 4 anos de graduação e seus casos perfeitos.
Volte a atenção ao que você sente de verdadeiro, a aqueles professores da graduação que tomavam café com você no intervalo e contavam todo seu fracasso, erros e a busca pelo acerto, aquele professor que nem gravata usa, mas te ensinou o caminho menos doloroso, pela exposição da sua própria dor. Um brinde às pessoas de verdade.
Oss e um grande abraço,
Ronaldo Hirata