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Na pandemia, estudantes da saúde identificaram melhora em algumas habilidades socioemocionais

Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP entrevistaram 954 estudantes da área da saúde, moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil, para um estudo sobre a autopercepção dos impactos da crise mundial na vida acadêmica. O objetivo era identificar como os universitários têm percebido o desenvolvimento ou o aprimoramento de habilidades socioemocionais durante a pandemia.

“Identificamos que os alunos participantes possuem uma forte percepção de que o desenvolvimento e o aprimoramento de habilidades socioemocionais são importantes para o sucesso profissional. Neste sentido, eles perceberam melhora quanto à procrastinação, ao protagonismo nos estudos, à colaboração com os colegas e à abertura para novas experiências”, revela Gilberto Leal, fonoaudiólogo formado pela FMRP e um dos autores do trabalho.

Mesmo, assim, diz Leal, a pandemia afetou negativamente os estudos por gerar sentimentos de frustração e de desmotivação. Os participantes, que responderam um questionário on-line com 25 questões no final de 2020, relataram ainda que viveram sensações de desestabilidade emocional e de diminuição do desempenho escolar durante o primeiro ano de pandemia.

“Frustração e angústia são sentimentos esperados durante períodos de isolamento, como vivenciamos na pandemia. Isso acontece com a população em geral e são causados por fatores estressores, como ausência de liberdade física e menor frequência de interação social. Particularmente entre os alunos, o deslocamento para o remoto contribuiu para a percepção dos sentimentos negativos”, explica Leal.

O fonoaudiólogo aponta que é importante refletir sobre as estratégias acadêmicas para auxiliar os estudantes a lidarem com os desafios. “Muitos estudos têm trabalhado com a temática da saúde mental dos estudantes e é sabido que algumas estratégias podem ser adotadas pelas instituições de ensino, como: desenvolver tutoria para auxiliar no estabelecimento de uma rotina saudável; acompanhar e acolher o estudante, tanto de forma individual quanto em pequenos grupos; e criar encontros virtuais para promover práticas integrativas e/ou complementares”, comenta.

Um exemplo de iniciativa de tutoria é o programa Mentoring, que é coordenado pelo Centro de Apoio Educacional e Psicológico (Caep) da FMRP e tem o objetivo de acolher os alunos da graduação do período de adaptação. Os estudantes são inseridos em grupos que funcionam como espaço de conversa, suporte e direcionamento adequado formado por calouros, pares (peers) e mentores.

Habilidades não cognitivas

Também chamadas de soft skills, as habilidades não cognitivas ou socioemocionais são caracterizadas pelas competências que vão além do conhecimento acadêmico. Entre os principais exemplos estão a autonomia, o controle emocional, a sociabilidade, a capacidade de tomar decisões e até a organização.

“Esse desenvolvimento tem sido tão ou mais valorizado do que o conhecimento teórico e prático no mercado profissional e, por isso, deve ser explorado, explica a professora Tatiane Martins Jorge, docente do curso de Fonoaudiologia da FMRP e orientadora do estudo.

A docente ainda explica que as mudanças no modo de aprender e fazer são oportunidades para se desenvolver as habilidades mencionadas. “Apesar da pandemia e outros contextos inesperados provocarem muito medo e frustração, é importante que a gente comece a perceber o que melhorou em nós, muitas vezes, aprendizados que vamos levar para a vida inteira. ”

Outro ponto importante do estudo é que os alunos identificaram o sentimento de protagonismo em relação aos estudos. “Para que um indivíduo atinja a capacidade de ter um bom gerenciamento de tempo, é preciso desenvolver ou aprimorar habilidades como: definir metas, estabelecer planos, gerenciar imprevistos, cumprir prazos, entre outros. Sendo assim, a autopercepção de autonomia no estudo só foi possível graças à continuidade das atividades, mesmo que de forma remota”, finaliza.

O estudo Self-perception of non-cognitive skills among undergraduate health students during Covid-19 foi publicado na Revista Brasileira de Educação Médica. Além de Leal e da professora Tatiane, o artigo conta com autoria dos professores Edson Zangiacomi Martinez e Patrícia Pupin Mandrá, todos da FMRP.

Fonte: Giovanna Grepi e Karla Rodrigues/ Jornal da USP

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