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Má oclusão e apinhamento surgiram há 12 mil anos, sugere estudo

Olivia Cheronet
Cientistas acreditam que as diferenças entre as populações podem estar ligadas a mudanças na dieta de cada grupo (Foto: Olivia Cheronet)

Humanos caçadores-coletores quase não tinham má oclusão e apinhamento dentário. A condição se tornou comum entre os primeiros agricultores do mundo cerca de 12 mil anos atrás, no sudoeste da Ásia, de acordo com resultados publicados na revista PLoS ONE.

Ao analisar as mandíbulas inferiores e as dimensões das coroas de dentes de 292 esqueletos arqueológicos do Levante, Anatólia e Europa, de 28 mil a 6 mil anos atrás, uma equipe internacional de cientistas descobriu uma clara separação entre os caçadores-coletores europeus, do Oriente Próximo; caçadores-coletores semi-sedentários anatolianos e agricultores de transição; e os agricultores europeus, com base na forma e estrutura dos seus maxilares.

“Nossa análise mostra que as mandíbulas inferiores dos primeiros agricultores do mundo, da região do Levante, não são apenas versões menores das mandíbulas dos antecessores caçadores-coletores. O maxilar inferior passou por uma série de mudanças complexas de forma, compatíveis com a transição para a agricultura”, diz o principal autor do estudo, Ron Pinhasi, professor da Escola de Arqueologia e do Instituto Terra, da University College Dublin.

“Nossos resultados mostram que as populações de caçadores-coletores tinham uma harmonia quase perfeita entre as suas mandíbulas e dentes”, explica ele. “Mas essa harmonia começa a desaparecer quando se examina as mandíbulas e os dentes dos primeiros agricultores.”

No caso de caçadores-coletores, cientistas da University College Dublin, Israel Antiquity Authority e da Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo, encontraram uma correlação entre os ossos mandibulares interindividuais e distâncias dentais, sugerindo um estado de equilíbrio quase perfeito entre os dois. Enquanto no caso de caçadores-coletores semi-sedentários e no grupo  de agricultores não foi encontrada tal correlação, sugerindo que a harmonia entre os dentes e o maxilar foi interrompida com a mudança para práticas agrícolas e sedentarismo na região. A equipe internacional de cientistas acredita que as diferenças entre as populações podem estar ligadas a mudanças na dieta de cada grupo.

A dieta do caçador-coletor era baseada em alimentos duros, como vegetais silvestres crus e carne, enquanto a dieta básica do agricultor sedentário era baseada em alimentos macios, cozidos ou processados, como cereais e leguminosas. Com alimentos macios cozidos há uma menor exigência da mastigação, que por sua vez diminui o tamanho das mandíbulas, mas sem uma redução correspondente nas dimensões dos dentes. Assim, não existe espaço adequado nas maxilas e isso, muitas vezes, resulta em má oclusão e aglomeração dentária.

A ligação entre mastigação, dieta e padrões de desgastes dentários relacionados é amplamente conhecida na literatura científica. Atualmente, má oclusão e apinhamento dentário afetam cerca de uma em cada cinco pessoas em todo o mundo. No estudo, a condição foi descrita como a “doença da civilização”.

Referência:

Ron Pinhasi, Vered Eshed, Noreen von Cramon-Taubadel. Incongruity between Affinity Patterns Based on Mandibular and Lower Dental Dimensions following the Transition to Agriculture in the Near East, Anatolia and Europe. PLOS ONE, 2015; 10 (2): e0117301 DOI:10.1371/journal.pone.0117301

Fonte: Science Daily

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