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Dr. Luiz Meirelles

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Muitos brasileiros sonham em um dia estudar no exterior. Talvez fazer uma carreira em outro país ou, simplesmente, fazer ao Brasil uma contribuição verdadeira para o  campo da ciência e tecnologia. E se essa contribuição puder influenciar positivamente na melhoria de um produto que beneficie centenas de pacientes? Nesse caso, estaremos falando de um jovem prodígio chamado Luiz Augusto Meirelles, que nos concedeu essa maravilhosa entrevista. Foi no ano de 2007 que tivemos a grata surpresa de conhecer o Luiz. Organizamos um grupo que foi até Gotemburgo, na Suécia, participar do primeiro Brazilian Day (Rev Dental Press Periodontia Implantol, v. 1, n. 3, p. 110-111, jul./ago./set. 2007). Tivemos várias palestras ministradas por professores da Suécia e do Brasil, num intercâmbio científico muito proveitoso para todo o grupo. No dia seguinte, assistimos à defesa de tese do nosso entrevistado. Na verdade, vimos um jovem ser verdadeiramente massacrado com perguntas objetivas, às vezes agressivas, de seu arguidor (Prof. Lyndon Cooper, EUA), a respeito de seus trabalhos em superfícies dos implantes, especialmente no campo da nanotopografia. Mas, para nossa satisfação, ele não apenas se saiu muito bem, mas também foi aplaudido por seus compatrícios e pelos suecos presentes ao final dos trabalhos.

Hoje temos um amigo, que exerce a docência e a pesquisa na Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e que aos 37 anos já é citado, pelos mais renomados pesquisadores, como uma das maiores autoridades mundiais no campo das superfícies dos implantes osseointegrados.

Luiz Meirelles se formou em Odontologia em 1998, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, e trabalhou em diferentes projetos de pesquisa na área de osseointegração durante a iniciação científica. Em 2001, iniciou o mestrado na Faculdade de Piracicaba (Unicamp), analisando a distribuição de tensão em implantes por meio de análise fotoelástica. Concluiu o mestrado em março de 2003 e iniciou o doutorado, na Universidade de Gotemburgo, em 2003. Seu programa de doutorado foi concentrado em modificações da superfície de implantes dentários, caracterizando as nanoestruturas com um modelo inovador. Defendeu sua tese de doutorado em 2007, sendo um dos pesquisadores pioneiros na avaliação da resposta óssea em função da nanotopografia. Hoje, trabalha na Universidade de Rochester como professor assistente do Eastman Institute for Oral Health e da Faculdade de Bioengenharia. É diretor de um laboratório de pesquisas na área de biomateriais, e trabalha com pacientes na área de reabilitação. Luiz Meirelles é casado e pai de gêmeas.

 

Luis Rogério Duarte

 

 

Como você iniciou o processo de estudos em osseointegração?

Um dia, andando pela Faculdade de Odontologia da UFRJ, encontrei um anúncio em busca de estagiário para atuar em um projeto da Capes, com a participação da Fiocruz, do Instituto Militar de Engenharia e do Instituto Brasileiro de Implantodontia. O projeto foi um dos primeiros que avaliou implantes dentários de titânio fabricados no Brasil. A ideia era desenvolver a indústria nacional e tornar os implantes produzidos no Brasil competitivos em relação aos importados.

A bolsa do estágio não saiu, mas eu, achando o projeto fantástico, ofereci-me para trabalhar assim mesmo. Foi  meu primeiro contato com pesquisa científica, no segundo ano de faculdade. Conheci, nessa época, os professores Carlos Nelson Elias e José Henrique Cavalcanti, entre outros que faziam parte desse projeto pioneiro.

 

Já existia uma política governamental achando que aquilo era, realmente, um nicho de desenvolvimento científico industrial?

Com certeza. Mas a indústria nacional, naquela época, estava iniciando a fabricação de implantes dentários. Já existia a fabricação de componentes protéticos, mas implantes ainda não eram uma realidade concreta e aceita por todos. Existia uma necessidade no mercado, a necessidade de se desenvolver a indústria nacional. Os implantes importados custavam um preço altíssimo e ainda sofríamos com o problema de estoque e reposição de componentes. Foi nessa época que comecei a trabalhar com coelhos e experimentação animal no IME e na Fiocruz, entre 1995 e 1996. Eu ia para a biblioteca do Fundão depois do horário das aulas e ficava lendo os artigos e estudando sobre osseointegração. Um monte de referências dos professores Brånemark e Albrektsson! Fiquei louco com aquilo e, naquele momento, decidi estudar e aprender com eles. Isso já era algo decidido em minha cabeça.

 

Quais eram os seus planos?

Em 1999, em meu primeiro ano de formado, fui a um congresso, na Dinamarca, da Academia Europeia de Osseointegração. Naquele momento, eu já havia decidido que faria doutorado em Gotemburgo. Entrei em contato com algumas pessoas por e-mail, apresentando-me, e disseram que existia a possibilidade, mas que eu teria que levantar dinheiro porque eles não poderiam me pagar.

 

Então você já havia contatado Gotemburgo?

Sim. Enviei um e-mail apresentando minhas ideias para o doutorado. Antes do congresso na Dinamarca (EAO, 1999), eu trocava e-mails com alguns pesquisadores da área, sondando como poderia ser feito. Tive ajuda do professor Cláudio Fernandes  e consegui visitar algumas universidades na Escandinávia. Esse primeiro contato foi importante e consegui definir metas do que precisava ser feito. Visitei a Universidade de Gotemburgo e conversei com algumas pessoas do Departamento de Prótese Dentária. Então, literalmente, bati à porta de Stig Karlsson — que era o chefe de Prótese —, e falei que queria trabalhar com implante. Ele disse que tinha uma pessoa ali que trabalhava exatamente com o que eu estava falando.

Fui apresentado à professora Ann Wennerberg (minha futura orientadora) e, a partir desse encontro, já tinha algumas metas para o meu doutorado. Voltei ao Brasil e inscrevi-me na CAPES, em 1999. Meu projeto e o meu currículo foram aprovados, mas não ganhei a bolsa, sob o argumento de que eu era muito novo e não possuía mestrado.

 

Assim, você decidiu fazer o mestrado?

Decidi contrariado, pois ninguém no Brasil estava fazendo o que eu queria e nem tinha tecnologia para fazê-lo. Quando estive em Gotemburgo, eles acharam muito interessante a ideia, mas disseram que não tinham dinheiro. Na verdade, eles não queriam financiar um cara que nem sequer conheciam. Fiz o mestrado na Unicamp, já com a intenção de ir a Gotemburgo fazer o doutorado. Nessa época, eu já havia publicado alguns artigos. Fiz um mestrado produtivo, fui estagiário do Fundão por um bom tempo, dei aulas em lugares importantes, publiquei bastante e, às vezes, escrevia para a Ann Wennerberg dizendo que o projeto estava de pé e que, assim que eu terminasse o mestrado, iria para lá.

 

A essa altura você já sentia a receptividade de Gotemburgo?

Eu nunca me fiz essa pergunta. Vou encontrar com o Tomas Albrektsson, em Chicago na semana que vem, e vou até perguntar isso a ele, é uma pergunta interessante!

Quando eu estive lá, a impressão que tive é que eles me acharam muito determinado.

 

O que aconteceu ao final de seu mestrado?

Quando terminei o mestrado na Unicamp, inscrevi-me para o doutorado pleno pela CAPES e pelo CNPq. A CAPES aprovou o doutorado pleno e eu tive chance de fazer o doutorado em Gotemburgo. Defendi a tese na Unicamp em março de 2003. Em setembro de 2003, comecei o meu doutorado.

 

O Elias teve alguma influência nisso tudo?

O professor Elias (Carlos Nelson Elias) é um pesquisador de destaque e mandou uma carta de recomendação. Quando uma pessoa como ele faz uma recomendação, dizendo que sou competente e que tenho condições de terminar o doutorado, eles levam em consideração.

 

Como foi o início na Suécia?

Para ser sincero, já em setembro de 2003 eu peguei o projeto aprovado pela CAPES, traduzi para o inglês, reformatei nos padrões exigidos pela Universidade de Gotemburgo e apresentei para Ann Wennerberg. Esse projeto teria que ser aceito na Universidade de Gotemburgo como um projeto de doutorado. Fizemos várias alterações e, mais ou menos nessa época, o Prof. Tomas Albrektsson começou a participar de nossas reuniões.

 

 

Sua pesquisa de mestrado foi na área de Osseointegração ou na área de Prótese?

Foi um pouco das duas. Eu queria avaliar a influência do micromovimento na resposta óssea. A minha ideia era determinar que esse valor provavelmente mudaria dependendo do estágio de cicatrização do implante. Era um projeto ambicioso para tese de mestrado e, junto com a professora Altair Cury, decidimos por um modelo in vitro, avaliando a distribuição de tensão entre implantes com conexão externa e interna, através de análise fotoelástica.

 

Havia algum brasileiro vinculado a Gotemburgo nessa época?

Não que eu saiba, mas o Prof. Maurício Araújo havia defendido seu doutorado no Departamento de Periodontia. Conversamos algumas vezes por telefone antes de mudar-me para lá. Ele foi muito generoso, dando um monte de dicas sobre a cidade, o que me tranquilizou bastante.

 

Qual a sensação de saber que trabalharia  com o Prof. Albrektsson?

A primeira vez que sentei para conversar com ele foi uma experiência única. Eu era um desconhecido, então, no começo, todos ficaram receosos. Eu teria que provar para quê fui. Eles acharam que quatro anos seriam um período muito curto para a finalização, e que eu teria que começar a trabalhar imediatamente. Um ou dois meses após minha chegada, o projeto já havia sido aceito como tese de doutorado, apesar de que lá, normalmente, teses de doutorado levam mais do que quatro anos. Todos ficaram empenhados em que eu terminasse no tempo determinado. Por isso, tudo foi muito rápido. Profissional e eficiente, o Tomas Albrektsson é uma pessoa rara. O raciocínio dele é diferente, ele avalia tudo sob um ângulo com que não estamos acostumados. Foi um grande aprendizado e uma experiência muito produtiva. Hoje esforço-me e busco focar os problemas sob esse mesmo ângulo. Não tenho certeza se consigo, mas se eu pedir sua opinião ele dirá que estou no caminho certo. Ele sempre te estimula, deixa claro que o processo de amadurecimento profissional envolve  a tomada de decisões, certas ou erradas, não importa. Foi incrível escutar, de um pesquisador como ele, uma resposta muito simples durante as discussões de projeto: “Não sei, vamos ter que esperar os resultados”. Hoje, muitas inovações que estamos usando foram desenvolvidas sob a orientação do Tomas. É incrível você avaliar como a impressão digital dele está presente em vários produtos.

 

Já era seu projeto estudar a nanotecnologia?

Não, era um projeto que avaliaria a biomecânica de interface osso–implante.

 

Como foi sua primeira adaptação cultural?

Em horário comercial, das 8:00 às 17:00, tudo era uma maravilha: eu tinha a minha sala, meu computador. Disseram-me como comprar um laptop e como começar a trabalhar com o projeto. Tive muita dificuldade para arrumar apartamento, e coisas simples se tornam complicadas para um recém-chegado. Mas acho que isso faz parte do crescimento.

 

As regras de lá para o doutorado são semelhantes às do Brasil?

Depende de sua dedicação. Há profissionais que fazem doutorado em meio período, um modelo muito interessante. São pessoas que trabalham na universidade e que podem, em paralelo, se dedicar 50% ao doutorado, mantendo seu salário integral. Muita gente faz assim e, por isso, as teses de lá saem tão fortes. Você é pago e tem tempo para ler e estudar. Sempre há reunião de comitê de pesquisa. Todos discutem as ideias, é uma vivência muito boa. No Brasil, é uma correria. Você revisa a tese de doutorado enquanto almoça, você pega a tese de doutorado de alguém e está manchada de café… Falta apoio e sobra dedicação.

 

Quando entrou no projeto da nanotecnologia?

No primeiro artigo de minha tese, eu queria saber o limite de movimento vertical que iniciaria a perda óssea. Muito do que foi publicado nessa área é com análise de elementos finitos, o que não dá a resposta biológica final; há várias limitações. Há alguns poucos trabalhos que foram feitos em animais, mas ainda não estou convencido dos valores que são propostos. Acho que temos que investigar isso, especialmente se levarmos em conta o estágio de cicatrização do osso.

Minha ideia era colocar o implante dentro da tíbia de coelho, colocar carga com diferentes graus de força e  determinar qual é o limite que o implante aceita. Esse foi meu primeiro artigo de tese: coloquei um implante liso solto e outro preso. A minha ideia, muito simples, era mostrar que o implante solto não osseointegraria; isso serviria de base para meu outro trabalho, em que eu colocaria diferentes tipos de carga nos implantes que estavam soltos. Porém, o implante que estava solto formou mais osso do que o outro, o que eu entendi como distúrbio do coágulo, onde o implante solto gerava mais sangramento e, por isso, gerava um calo ósseo maior.

 

 

Na mesma época, entre 2003 e 2004, a nanotecnologia surgia na área de ciência de materiais, com algumas potenciais vantagens à formação óssea. A Profa. Ann Wennerberg tinha um histórico maravilhoso de avaliação de microestrutura. Então, conversando, surgiu a hipótese de colocarmos nanoestrutura nesse modelo desenvolvido no primeiro artigo, sendo esse o modelo perfeito para colocação de nanoestrutura e avaliação apenas do efeito da mesma; pois a estabilidade era controlada independentemente da superfície. Enfim, foi um pouco ao acaso que surgiu a oportunidade: estar na hora certa, no lugar certo, com o modelo certo.

Em paralelo a isso, a avaliação da superfície do implante com força atômica que eu desenvolvi foi fundamental para a minha tese, porque com essa análise eu consegui provar que a nanoestrutura modificava a superfície do implante, o que ninguém acreditava na época, simplesmente porque não era visível a olho nu. Eu provei que mudava-se a nanotopografia e quantifiquei cada nanoestrutura. Quando você modifica a microestrutura, você consegue ver; mas a nano você não vê a olho nu.

A briga, na época, foi convencer as pessoas. Eu mostrava minhas imagens e provava que existia alteração; podia ser pequena, mas existia. Essa foi a grande contribuição: caracterizar a nanoestrutura como fiz e provar que ela está ligada à topografia, e não só à química.

 

Como você encarou nós, brasileiros, assistindo sua defesa de tese?

A princípio, quando Tomas me contou, eu achei que isso poderia me tirar o foco, e pedi para defender em data diferente da visita de vocês — porque tive medo de muita interferência e do aumento do estresse natural do momento. Eu convidara o Prof. Lyndon Cooper, apesar dos suecos me prevenirem de que os americanos são arguidores muito agressivos, bem mais que os suecos, que tratam o momento mais como uma atividade de confraternização, não como uma prova final. Mas o Lyndon Cooper disse que era aniversário do filho dele e que ele prometera ao filho não mais faltar a esse dia; assim as datas acabaram coincidindo. Então me convenci de que não havia jeito e esperava que não houvesse problemas. Realmente foi uma ótima surpresa, muita  gente bacana. O Prof. Elias também estava lá, o qual eu considero como a prova viva de que a genialidade e a humildade podem estar presentes no mesmo homem. E a festa depois foi muito boa.

 

Tomas Albrektsson o convidou a ficar como professor lá?

Foi Ann Wennerberg, que era do departamento de Prótese, quem me convidou para ficar como Research Assistant. Fiquei por cerca de dois anos.

 

Como você decidiu ir para Rochester?

A princípio não era minha ideia vir para cá e, sim, continuar em Gotemburgo. Mas acabei decidindo vir para um projeto maior e conduzir o meu próprio laboratório. Acho que estava num momento de minha vida que caminhava para isso, para poder crescer e fazer as coisas que eu queria. Apesar do meu bom relacionamento com todos, eu precisava de espaço para fazer as minhas coisas, e para isso tive total apoio deles.

 

Você trabalha somente com Prótese ou opera também?

Eu trabalho na clínica com Prótese e faço pesquisa aplicada em diferentes modelos animais.

 

Você, hoje, é professor de Prótese ou de Biomateriais?

Sou professor da Faculdade de Odontologia, no departamento de Prótese, e professor da Faculdade de Bioengenharia. Trabalho com biomateriais que são usados para implantes e para próteses. São áreas muito próximas.

 

Mas a sua pesquisa é na área de biomateriais?

Sim, eu tenho um laboratório com interferômetro, microscópio de força atômica e todo equipamento para fazer a parte de histologia. O mesmo tipo de equipamento que eles têm na Suécia.

 

Dessa forma, pode-se dizer que você tem condição de fazer trabalhos de pesquisa do mesmo nível que eles fazem por lá?

Sim, isso foi uma condição que eu impus ao pessoal da universidade porque estava numa fase da vida em que não podia parar de publicar, em que precisava continuar trabalhando. Portanto, para eu sair de lá e vir para cá eu precisava das mesmas condições que tinha lá, no mínimo.

 

Se fosse aqui no Brasil, você teria que apelar para a CAPES ou o CNPq para tentar financiar os aparelhos. E nos EUA, como funciona? Há fomento do governo ou é iniciativa privada?

Há os dois. Aqui é uma universidade particular da Ivy League, que é a liga americana de excelência em ensino.

É a maior universidade particular americana de pesquisa. Quando eles detectam uma pessoa que tem potencial, eles simplesmente correm atrás — aqui nos Estados Unidos é assim. Se você vier para cá dar uma aula, ficar uma semana, fizer pesquisa aqui, demonstrar interesse em ficar e eles o identificarem como potencial, eles vão atrás de você.

 

Como é o sistema de Rochester? Você dá aula, pesquisa, mas tem tempo de clinicar também?

A universidade americana é muito eficiente para dar retorno tanto para o profissional quanto para a instituição. Por exemplo, quando eu vim para cá, eles perguntaram-me como viabilizariam financeiramente a minha vinda. Eu disse que gostava de fazer Prótese, que queria voltar para a clínica, pois sentia falta, já que não clinicava em Gotemburgo. Queria ter o meu próprio laboratório de pesquisa e que também poderia trabalhar com alunos, que seria importante para a faculdade. O meu tempo se dividiria nisso.

A universidade americana está passando por uma mudança muito grande. Hoje, todo profissional que está em faculdade tem que justificar o seu salário; então, quando uma pessoa é contratada por uma universidade, eles vão querer dividir os horários, para que seja produtivo. Você dá aula, instrui os alunos em clínica, faz revisão de literatura e pesquisa, mas também atende na clínica particular, para gerar receita ao departamento.

 

Você tem alunos de mestrado e doutorado?

Tenho um aluno de mestrado e um de doutorado, e recebo alunos visitantes de vários países, do Brasil ao Japão.

 

Quais os resultados que você já tem da nova micro-nano superfície da P.I. Brånemark Philosophy, que foi desenvolvida por você?

Esse projeto começou em 2009. Fizemos vários testes para conseguir chegar aos parâmetros ideais. São várias características que foram observadas. Há várias coisas sobre as quais não posso me aprofundar, pois ainda não foram publicadas, que mostram que, além das características de topografia e de química — que são muito interessantes —, ela tem uma característica de integridade de superfície que é única. A gente precisa ter a superfície intacta ao longo de todo o processo. É a mesma linha de raciocínio que tinha desde 1999, quando tive a ideia do projeto inicial, de estudar o comportamento da interface, sendo que essa superfície também tem um bom desempenho quando está sendo submetida à carga.

 

Qual o significado para o Brasil da superfície criada por você e o impacto que isso poderá ter no mercado mundial de implantes?

O Brasil, hoje, está numa fase de crescimento, com destaque em todo mundo. Mas ainda falta investimento público e privado no desenvolvimento de novas ideias. O projeto da nova superfície durou vários anos e teve investimento por parte da empresa até o lançamento, sem retorno imediato. Eu aceitei essa tarefa, acreditando que poderíamos fazer algo inovador, ao invés de simplesmente repetir o que já está sendo utilizado; um risco menor, mas que não traria nada de novo.

 

Temos visto outros países investindo em pessoas para que elas se aperfeiçoem fora e retornem trazendo conhecimento e tecnologia às suas nações. Como você vê a política brasileira em relação a isso?

Eu não posso colocar isso como responsabilidade do Ministério da Educação ou do Ministério da Ciência e Tecnologia. Eu acho que não são os órgãos apropriados porque têm de preocupar-se em educar uma camada enorme da população com ensino fundamental e médio. Caberia aos órgãos de desenvolvimento, como a Finep ou fundos de investimentos, estabelecer mecanismos que viabilizassem laboratórios de alta tecnologia no Brasil. Hoje, as parcerias são fundamentais para o sucesso de um projeto, mas você não pode depender 100% de colaboradores para seu projeto caminhar. Um projeto de sucesso depende de uma grande ideia, de equipamentos apropriados e, é claro, de sorte ao longo do caminho.

 

Enviado: 23/06/2012

Revisado e aceito: 26/06/2012

Como citar esta seção: Meireles L. Interview. Luiz Meireles. Dental Press Implantol. 2012 July-Sept;6(3):8-16.

 

 

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