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Lentes de contato: Uma técnica minimamente invasiva

Intro.: A Odontologia vive um momento intenso na busca da preservação dos tecidos dentários e pela perfeição na conclusão dos tratamentos. Graças a profissionais dedicados, que atuam com precisão em seus diagnósticos e planejamentos, novas técnicas e protocolos de trabalho podem ser desenvolvidos, melhorando a abordagem clínica e científica do tratamento reabilitador. A técnica que mostraremos é a de confecção de laminados cerâmicos extremamente delgados, mais comumente conhecidos como “lentes de contato”. Ela é indicada para casos específicos, onde pacientes, geralmente jovens e adultos de meia idade, com dentes hígidos, desejam uma transformação estética ultra conservadora, em busca de um sorriso agradável. Na maioria dos casos onde são necessárias pequenas correções dentárias, em dentes hígidos, muitos profissionais optam pelo uso de resinas compostas em detrimento às cerâmicas, para conclusão do tratamento.

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Quando trabalhamos com cerâmicas dentárias extremamente delgadas, existe uma dificuldade do profissional em realizar desgastes seletivos, quando necessários, além da alta complexidade da confecção laboratorial e dos cuidados que devem ser tomados com o manuseio da peça para cimentação. Porém, quando comparamos lâminas em cerâmicas feldspáticas sobre refratário com as resinas compostas, percebemos um ganho substancial com relação ao comportamento óptico, estabilidade de cor, forma e lisura de superfície, além de melhores propriedades mecânicas e físicas desse material, que se aproxima de forma bioemulativa ao tecido dentário que estará sendo substituído ou reparado: no caso, o esmalte dentário.
A técnica de confecção para esse tipo de laminados em cerâmicas feldspáticas sobre refratário é previsível quando feita sob um correto diagnóstico e planejamento clínico-laboratorial, através da comunicação interdisciplinar entre o ceramista, dentista e o paciente, a tríade da comunicação eficiente para sucesso em casos de alta exigência estética.

Caso Clínico

O caso que será apresentado junto à técnica de estratificação é de uma paciente jovem, com 29 anos de idade (Fig. 1), que procurou atendimento odontológico pois gostaria de um sorriso mais agradável e atraente. O início do processo de transformação do sorriso, sob um olhar minimamente invasivo, nos levou a realizar um protocolo fotográfico inicial, seguido da análise de sorriso e o DSD (Digital Smile Design) (Fig. 2), que é um planejamento feito com o uso de programas de computador com finalidade de guiar um enceramento baseado em linhas e estruturas anatômicas (Fig. 3, 4). Por meio desses procedimentos iniciais, foi diagnosticada a necessidade de aumento de coroa clínica (recontorno periodontal) (Fig. 5), clareamento dentário e o enceramento diagnóstico para confecção de guias de silicone e um mock-up com resina acrílica, que orientaram a realização dos desgastes seletivos (Fig. 6) para a conclusão das restaurações com laminados cerâmicos ultradelgados.

 

A técnica: Estratificação em duas camadas

Nas restaurações do tipo “lentes de contato”, a complexidade do trabalho é maior quando comparada à de outros trabalhos com cerâmica, devido aos procedimentos iniciais laboratoriais, como vazagem dos modelos, sempre respeitando o tempo de pressa e as proporções de água e pó; a confecção e duplicação dos troquéis e sua reprodução em refratário; além da atenção extremamente apurada que o técnico necessita ter para confecção e refino das estruturas muito delgadas, em média de 0,8 a 0,2mm de espessura. Para elaboração das peças cerâmicas, a principal referência a ser seguida é o modelo encerado (Fig. 8), ou o modelo do provisório, caso o enceramento tenha sido alterado em boca. Isso nos possibilita a confecção de um guia em silicone palatino, com as referências de largura real do dente a ser confeccionado, assim como o longo eixo pretendido e também o corte da muralha seguindo a terceira inclinação da face vestibular dos dentes envolvidos, que auxiliará na estratificação da cerâmica (Fig. 6).

Para garantir um trabalho assertivo, é ideal trabalhar com boas fotografias intra- e extrabucais, além de fotografias com escala de cor referenciando a cor do substrato e dos demais dentes, determinando o mapeamento de cor (Fig. 7). Com esse tipo de laminado, a confecção sobre dentes escurecidos é contraindicada, devido à falta de espessura necessária para opacificar o substrato. Portanto, nesses casos é necessário um maior desgaste da estrutura dentária, permitindo a confecção de um laminado cerâmico com espessura maior que 0,8mm, uma faceta cerâmica convencional.

Para obter sucesso com a técnica, é ideal realizar as restaurações cerâmicas em duas queimas, a fim de evitar queimas desnecessárias, pois em queimas acessórias existe sempre o risco de perda de qualidades ópticas da cerâmica.

Na técnica proposta, a primeira estratificação (Fig. 11 a 15) seria a cor do matiz escolhido para reproduzir o dente e todas as suas caracterizações intrínsecas, como caracterizações cervicais, nuances e mamelos. A segunda estratificação e queima (Fig. 16 a 19) tem o objetivo de completar a anatomia morfológica do esmalte, reproduzir manchas e trincas de superfície. Após as estratificações concluídas e as queimas realizadas, iniciamos o trabalho minucioso de acabamento e texturização, iniciando com um leve jateamento com óxido de alumínio 25μm na superfície da cerâmica queimada; assinalamos com crayon vermelho a área de espelho existente nos artefatos cerâmicos; e com o crayon azul assinalamos a área de espelho desejada (Fig. 20). Sob uma luz de contraste lateral, fazemos o desgaste superficial com uma broca troncocônica diamantada fina para obter uma área de reflexão correta (Fig. 21).

A microtexturização é realizada com uma broca diamantada de ponta reta, com a qual criamos as estrias de Retzius e os relevos característicos de cada dente e de cada caso. Por fim, criamos pequenas manchas e pigmentos com caracterizadores e cobrimos com uma fina camada de glaze, que será rapidamente queimado a 930°C (Fig. 22). Após a queima do glaze, usamos borrachas específicas para cerâmicas refratárias para melhorar o aspecto de brilho superficial dos laminados (Fig. 23).

A desinclusão dos laminados cerâmicos dos refratários é realizada na câmera de jateamento, com pouca pressão e de forma que o óxido de alumínio 50μm seja disparado contra a superfície interna das lâminas em angulação de 45° com muito cuidado, evitando o inconveniente da formação de irregularidades, perfuração ou a quebra da lâmina delgada.

O ajuste final de todo o trabalho é realizado no modelo sólido (não troquelado) para evitar contatos interdentários em excesso e acertar a disposição geral dos artefatos cerâmicos (Fig. 24, 25). Esse conceito de trabalho é fundamental e muito previsível para quem busca excelência de qualidade em seus trabalhos, tendo a certeza de estar preparado para um novo mercado odontológico de alto nível.

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