Dental Press Portal

Leia na íntegra o 1° editorial do Dr. Oswaldo Scopin para a revista JCDR

Captura de Tela 2016-05-05 às 11.00.34      A BUSCA

No final do século 19, Londres era uma das principais cidades da Europa. Com a explosão da revolução industrial, milhares de pessoas mudaram-se para essa metró- pole, criando um local propício à explosão de uma das maiores epidemias da história da humanidade. A sujeira, a falta de saneamento básico, a ausência de políticas públicas de saúde e o desconhecimento da sociedade científica fizeram com que a “praga”, que era o cólera, se espalhasse matando um número imenso de pessoas em curto espaço de tempo. Naquela época, a Medicina conhecia muito pouco sobre microrganismos ou sobre o mecanismo de propagação das doenças; enfim, a ciência estava engatinhando, e isso custava vidas humanas. Com a evolução das áreas médicas no século passado, os antibióticos e as vacinas nos deram a impressão de que estaríamos livres para sempre de doenças infectocontagiosas. A certeza era tanta que, duas décadas depois da descoberta da penicilina, um médico-pesquisador dos Estados Unidos afirmou que a humanidade entrava em uma nova era, onde ninguém mais morreria em decorrência de uma infecção.

Hoje sabemos que isso não aconteceu e a situação é bem diferente da previsão. A cada ano, milhões morrem de doenças infectocontagiosas em todo o mundo, e as epidemias de gripe, AIDS, entre outras, costumam assombrar e dizimar muitas vidas. Isso quer dizer que, nesse ponto específico, a BUSCA não acabou.

Voltamos, então, para Londres, mais de um século atrás. No livro “O Mapa Fantasma” (The Ghost Map), o autor, Steven Johnson, descreve, de maneira investigativa, como duas pessoas mudaram as políticas públicas e a forma como vivemos nas grandes cidades. Essas duas pessoas eram um médico e um padre, que, mesmo com a ausência de dados científicos, conseguiram mapear a doença e descobrir como ela ocorria, salvando milhares, ou talvez milhões de vidas. A descrição detalhada de como foi a interpretação dos dados nessa época onde a ciência engatinhava é um aprendizado ímpar.

A BUSCA por uma explicação, por uma razão do porquê algo ocorre, é a base de qualquer área científica. E na Odontologia isso não é diferente: os milhares de artigos científicos disponíveis, englobando todas as especialidades, são uma prova de como é a ciência. Nas áreas da saúde, a variabilidade é impressionante, e a afirmação de que há “literatura” para justificar praticamente todo procedimento pode ser considerada uma verdade. Mas a existência de um número imenso de artigos não muda o que é mais importante: A BUSCA.

Essa BUSCA é que faz a diferença entre pro- fissionais de todas as áreas e que guiou os protagonistas da obra citada no começo desse editorial. O cérebro humano é um dispositivo de armazenagem praticamente infinito (durante o tempo em que vivemos na Terra, como seres humanos) e, quando unimos isso com a emoção e a percepção, associadas ao instinto do saber, tudo fica mais interessante e, poderíamos dizer, surpreendente. Essa BUSCA por algo novo, mais completo, é um estímulo constante na mente e na vida de qualquer humano, e também o é para o corpo editorial dessa publicação. Nossa ideia foi unir duas publicações em uma, com um visual atual, novas colunas, abordagem mais profunda, com temas e assuntos que englobem a Odontologia Restauradora, a Periodontia e a Implantodontia, de modo científico unificado e que sirva de referência em nível mundial. Esse é o desafio do novo corpo editorial quanto ao posicionamento desse periódico. Em uma época em que os especialistas se tornam cada vez mais mergulhados em suas áreas específicas, queremos que a Odontologia de forma integrada seja realmente a referência para a pesquisa e a prática clínica.

A avaliação do risco e da necessidade real do paciente é cada vez mais discutida nos meios acadêmicos, para que nenhum tratamento seja feito de maneira desnecessária, assim alertando aos profissionais sobre a importância da discussão das modalidade terapêuticas com enfoque científico, sem esquecer o lado da percepção humana do paciente. Para exemplificar o que é consenso na maneira de pensar desse corpo editorial, podemos usar como exemplo a superexposição e o exagero de procedimentos estéticos em Odontologia, que se proliferam nas redes sociais e em algumas revistas.

Obviamente, a área estética guia todo o planejamento da Odontologia Restauradora e da Implantodontia; porém, o que está havendo é um foco excessivo, midiático e pouco científico sobre um tema de extrema importância. Quando restauramos a região anterior da maxila com laminados cerâmicos, ou mesmo com implantes dentários, a longevidade — que é o que buscamos em todo tratamento — não está relacionada somente a quanto tempo a estética será mantida. Há fatores além do contexto cosmético e visual, como a análise dos materiais, dos tecidos periodontais e o impacto que o tratamento restaurador irá causar no conjunto dos dentes e da articulação temporomandibular; enfim, na oclusão. O tratamento estético da região anterior pode mudar a vida de uma pessoa; porém, se não planejado adequadamente, essa mudança pode causar uma iatrogenia irreversível.

Com essa nova abordagem e esse novo desafio, queremos tentar justificar, com base em evidências científicas, os procedimentos odontológicos que envolvem as ciências restauradoras e a Implantodontia. Queremos que essa revista seja referência e sirva de suporte para todos os leitores, na prá- tica clínica. Queremos que pesquisadores se sintam encorajados a dividir seus resultados, publicando suas pesquisas nesse periódico. Queremos, enfim, de alguma maneira estimular todos os leitores a entender que a BUSCA pela melhor prática clínica, quando decisões são tomadas baseadas em pesquisa e ciência, nunca acaba, e é a base de todo o conhecimento humano.

 

©Dental Press Publishing – J Clin Dent Res. 2016 jan-mar;13(1):5-6

 

Sair da versão mobile