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Influência da cor na atratividade estética de arcos ortodônticos extrabucais

Resumo

Objetivo / Avaliar a influência da cor na percepção estética de aparelhos extrabucais em crianças na faixa etária entre 10 a 14 anos de escolas públicas e privadas, de ambos os sexos. / Métodos / Um questionário específico foi confeccionado contendo anexas imagens de uma paciente utilizando aparelho ortodôntico extrabucal em diferentes cores, sendo posteriormente aplicado a 200 crianças. As frequências das respostas obtidas e as comparações entre tipo de escola e sexo foram feitas por meio do teste qui-quadrado. Os escores das notas para cada imagem foram comparados utilizando-se o teste U de Mann-Whitney. As médias das notas para cada imagem foram calculadas em cada grupo, a fim de determinar os coeficientes de correlação de Spearman para avaliar a similaridade entre as percepções dos estudantes por tipo de escola e sexo. O nível de significância adotado foi de 5%. / Resultados / A imagem do aparelho extrabucal na cor preta foi ranqueada como a mais atraente pelas crianças. As comparações entre pares mostraram que os estudantes de escola pública pontuaram melhor todas as imagens, comparados com os de escola particular. Com relação ao sexo, não foram encontradas diferenças significativas entre grupos nas imagens com aparelho extrabucal. / Conclusão / A cor apresentada pelo aparelho ortodôntico extrabucal influencia diretamente em sua aceitação e percepção estética, assim como o tipo de escola. / Palavras-chave / Ortodontia. Má oclusão de Angle Classe II. Má oclusão. Aparelhos de tração extrabucal.

 

Introdução

O tratamento das más oclusões de Classe II com o uso de aparelhos ortodônticos extrabucais objetiva a intervenção e reorientação no padrão de crescimento dos ossos da face do indivíduo, ocasionando uma associação entre remodelação dentoalveolar e esquelética1,2.

Em 1947, Silas Kloehn idealizou a utilização de dispositivos ortodônticos extrabucais para o tratamento de más oclusões de Classe II no período da dentição mista. Assim, por meio da intervenção durante o processo de crescimento e desenvolvimento craniofacial, a mandíbula poderia seguir um padrão de crescimento normal, estabelecendo posicionamento harmonioso em relação à maxila3.

Estudos realizados por Poulton4 e, mais tarde, por Baumrind e Molthen5, constataram que a tração cervical reorienta o crescimento e desenvolvimento maxilar, apresentando-se como uma ótima opção para tratamento ortodôntico em pacientes Classe II.

É relatado na literatura que o percentual de pacientes cooperativos é reduzido, sendo que apenas 9% desses apresentaram cooperação satisfatória quando tratados por meio de dispositivos ortodônticos extrabucais6, o que seria imprescindível para o sucesso do tratamento.

Dessa forma, o presente estudo objetiva avaliar a influência da cor na percepção estética de aparelhos extrabucais em crianças na faixa etária entre 10 a 14 anos, tendo como base a hipótese de que a cor apresentada por esses pode influenciar positivamente na aceitação e cooperação do paciente com o tratamento ortodôntico.

 

 

Material e Métodos

Para avaliar as preferências estéticas de crianças de escolas públicas e particulares, de ambos os sexos, em relação a aparelhos extrabucais em diferentes cores, obteve-se imagem fotográfica de um paciente com 11 anos de idade, do sexo feminino, sob uso de aparelho extrabucal com arco facial. A tomada fotográfica foi realizada por meio de câmera digital (Canon Rebel 60 D, Tóquio, Japão), regulada a uma distância fixa entre foco e objeto com o auxílio de um tripé.

A fotografia obtida foi transferida a um software editor de imagens (Adobe Photoshop CS, Adobe Systems Inc, San Francisco, EUA), para alterar a cor dos arcos faciais. As cores obtidas foram: cinza, branca, rosa, laranja, roxa, vermelha, amarela, azul, verde limão, verde musgo e preta, totalizando onze imagens (Fig. 1). As imagens produzidas foram impressas em papel fotográfico e anexadas a um questionário elaborado para ser aplicado durante a pesquisa, como instrumento de coleta de dados.

Foram selecionadas, de forma aleatória, 200 crianças voluntárias, sendo essas pertencentes ao ensino público (n = 100) e privado (n = 100); distribuídas igualmente entre os sexos masculino (n = 50) e feminino (n = 50). Todos os indivíduos avaliados incluíam-se na faixa etária entre 10 e 14 anos de idade. Os questionários foram aplicados em pacientes durante o atendimento nas Clínicas Odontopediátricas do curso de Odontologia da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), campus de Jequié, na Bahia. Os participantes foram instruídos quanto ao preenchimento do questionário, sendo orientados a não prosseguir para a questão seguinte sem ter respondido à anterior, e suas respostas deveriam ser coerentes com a preferência da cor mais atrativa para eles.

A primeira parte do questionário apresentou onze fotografias do paciente com aparelho extrabucal em diferentes cores, dentro de uma sequência aleatória, seguida das perguntas: “Qual a imagem que você mais gosta?” e “Qual a imagem que você menos gosta?” Na parte seguinte, para a determinação da confiabilidade dos resultados, as questões anteriores foram repetidas, porém em ordem alterada. Logo após essa etapa, as onze imagens foram apresentadas de forma individual, e, por meio de uma escala visual analógica (EVA), os indivíduos atribuíram uma pontuação específica para cada uma delas, sendo “0” não atraente, “5” atraente e “10” muito atraente.

 

 

Análise Estatística dos Dados

As frequências das respostas dadas e as comparações entre tipo de escola e sexo foram feitas por meio do teste qui-quadrado. Os escores das notas para cada imagem foram comparados utilizando-se o teste U de Mann-Whitney. As médias das notas para cada imagem foram calculadas em cada grupo, a fim de determinar os coeficientes de correlação de Spearman para avaliar a similaridade entre as percepções dos estudantes por tipo de escola e sexo. O nível de significância adotado foi de 5% (α = 0,05). Os dados foram tabulados e analisados no programa estatístico BioEstat (versão 5.0, Belém/PA).

 

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RESULTADOS

As características dos participantes do estudo são apresentadas na Tabela 1. A média de idade dos participantes foi 11,9 ± 1,2 anos. A distribuição dos participantes de acordo com as suas preferências para cada conjunto de imagens apresentadas é mostrada na Tabela 2.

Em relação à imagem que os participantes gostaram mais, foram observadas diferenças estatísticas nas proporções dos conjuntos de imagens 1 e 2. Para o conjunto de imagens 1; 33,8% dos participantes escolheram a imagem A (correspondente ao aparelho ortodôntico de cor cinza) como a que mais gostaram. Já para o conjunto de imagem 2; 26,4% escolheram a imagem G (também correspondente ao aparelho ortodôntico de cor cinza). Em ambos os casos, o aparelho de cor cinza foi o melhor pontuado (p < 0,001), seguido pelo aparelho de cor roxa (imagem E) no conjunto de imagens 1, e K no conjunto de imagens 2.

Foram observadas diferenças significativas nas proporções entre os grupos de escola particular e escola pública apenas para o conjunto de imagens 1, indicando que a quantidade de crianças que gostaram mais da imagem 1A (aparelho extrabucal na cor cinza) foi maior no ensino privado (50,5%), enquanto nas escolas de ensino público as cores cinza (1A) e roxa (1E) obtiveram a mesma quantidade 17% (Tab. 3).

Em relação ao sexo, foram observadas diferenças significativas nas proporções entre o grupo masculino e feminino para os dois conjuntos de imagens (1 e 2). Para o conjunto de imagens 1, a frequência de estudantes que gostaram mais da imagem A (aparelho ortodôntico na cor cinza) foi maior entre o sexo feminino, enquanto para a imagem K (aparelho ortodôntico na cor preta) foi maior entre o sexo masculino; já para o conjunto de imagens 2, a imagem H (aparelho ortodôntico na cor branca) obteve maior frequência entre o sexo feminino.

Foram observadas diferenças significativas nas proporções entre os grupos de escola particular e escola pública apenas para o conjunto de imagens 1. Os resultados indicaram que a quantidade de adolescentes que gostaram menos das imagens C (aparelho ortodôntico na cor de rosa) e K (aparelho ortodôntico na cor preta) foi maior no ensino público, enquanto que para a imagem G (aparelho ortodôntico na cor amarela) foi maior no ensino privado.

Em relação ao sexo, não foram observadas diferenças significativas nas proporções entre os grupos masculino e feminino para o conjunto de imagens 1. A imagem que gostaram menos foi a imagem G (aparelho ortodôntico na cor amarela) (Tab. 4).

Em relação à atratividade, de forma geral, a imagem K (aparelho ortodôntico na cor preta) foi ranqueada como a mais atraente. A imagem C (aparelho ortodôntico na cor rosa) foi pontuada como a menos atraente pelo grupo do ensino público e pelos participantes de ambos os sexos, enquanto a imagem G (aparelho ortodôntico na cor amarela) foi ranqueada como a menos atraente pelo grupo do ensino privado. As comparações entre pares mostraram que os estudantes de escola pública pontuaram melhor todas as 11 imagens, em comparação com os de escola particular (Tab. 5).

Os coeficientes de correlação de Spearman entre as notas médias dadas às imagens, segundo tipo de escola e sexo, são apresentados na Tabela 6. Não foram verificadas correlações significativas entre as notas dadas pelos adolescentes de diferentes tipos de escola e sexo.

 

 

 

 

 

 

 

DISCUSSÃO

Na execução da intervenção ortodôntica, aparelhos extrabucais com arco facial apresentam-se como opção efetiva de tratamento da má oclusão de Classe II, haja vista que as forças produzidas por esse dispositivo ocasionam alterações ortopédicas essenciais para a correção dessa má oclusão7,8.

Um estudo realizado por Gianelly9 relata os benefícios do tratamento de pacientes Classe II esquelética por meio de dispositivos extrabucais, como redução do tempo de tratamento, diminuição de casos tratados com aparelhos fixos decorrente da intervenção precoce, baixo custo-benefício e fácil acompanhamento do caso.

Todavia, a aceitação das crianças ao tratamento com aparelho ortodôntico extrabucal tem sido dificultada por conta da influência da mídia atual acerca dos padrões estéticos ideais estabelecidos para a sociedade.

Dessa forma, o presente estudo propõe que a apresentação de arcos faciais em diferentes cores pode ser uma estratégia utilizada pelos ortodontistas para melhorar a motivação e cooperação dos pacientes em tratamento. Assim, foi avaliada a preferência estética na cor do aparelho ortodôntico extrabucal em crianças na faixa etária de 10 a 14 anos.

Contudo, algumas pesquisas12,13,14 relatam que indivíduos na fase de pré-adolescência apresentam boa aceitação e cooperação com o tratamento, principalmente aqueles que possuem melhor desempenho escolar. Em contrapartida, McDonald15 afirma não existir relação entre cooperação com o tratamento e idade do paciente. Assim, percebe-se a necessidade de outros estudos acerca do tema.

Além disso, a condição social também pode exercer influência na percepção de crianças acerca da coloração do aparelho extrabucal. Em virtude disso, avaliou-se as preferências estéticas em crianças de escolas públicas e privadas. Os dados obtidos pelo presente estudo demonstraram que os indivíduos inseridos na rede pública e particular possuem percepções divergentes.

Os entrevistados inseridos no sistema de ensino privado apresentaram maior preferência pelo dispositivo ortodôntico na cor cinza em relação aos indivíduos do ensino público. O aparelho ortodôntico na cor amarela foi o que recebeu piores notas pelos participantes de escola privada em relação aos de escola pública. Além disso, os estudantes de escola pública atribuíram pontuações mais altas para todas as 11 imagens.

Clemmer e Hayes16 puderam observar um reduzido nível de cooperação por parte dos pacientes do sexo masculino em contraste ao elevado nível apresentado por pacientes do sexo feminino quando submetidos ao tratamento com dispositivos extrabucais. Assim, verifica-se que indivíduos do sexo feminino possuem maior preocupação com a estética dentofacial.

Pesquisas relevantes17,18 que analisaram os efeitos do aparelho extrabucal de Kloehn no tratamento de alterações esqueléticas em pacientes Classe II de Angle, ao relacionar o resultado obtido e o sexo do indivíduo, não encontraram diferenças significativas. Assim, pode-se concluir que o emprego do tracionamento extrabucal cervical não sofre influência do sexo.

Os resultados obtidos a partir do presente trabalho mostram que o sexo não é um importante fator de divergência nas preferências estéticas. Em relação à atratividade, tanto o sexo masculino quanto o feminino apresentaram maior preferência em relação à atratividade pelo aparelho extrabucal com arco facial na cor preta. Dessa forma, a coloração do dispositivo ortodôntico extrabucal pode influenciar positivamente na cooperação de um paciente, se essa for mais atraente para ele. Por outro lado, o aparelho extrabucal com arco facial na cor rosa foi o menos atraente, tanto para o sexo masculino quanto para o feminino.

A avaliação da cor dos aparelhos poderia ter sido realizada com aparelhos extrabucais reais, sem terem sido coloridos em programa específico de computador, apresentando, assim, as cores reais disponíveis no mercado. No entanto, o uso de imagens em diferentes tempos poderia ocorrer na falta de padronização das imagens, dificultando comparações. Dessa forma, uma mesma imagem teve apenas as cores dos aparelhos modificadas, respeitando fidedignamente as cores de arcos extrabucais, disponíveis comercialmente. Outro ponto que pode ser questionado é o fato de ter sido avaliada apenas a cor do arco extrabucal, sem avaliar a cor da tala cervical e dos casquetes para puxada alta e combinada. A avaliação da alteração da cor desses se faz importante para trabalhos futuros. O objetivo do presente estudo foi apenas avaliar a influência da cor do arco facial na percepção estética.

Por meio dos resultados obtidos na presente pesquisa, pode-se inferir que ao tratar um paciente, o ortodontista deve dar uma atenção maior às suas preferências estéticas e deixá-lo livre para escolher o aparelho ortodôntico na coloração que mais o agrada. Isso pode melhorar a relação entre ortodontista e o paciente, estabelecendo um fator positivo para sua cooperação e motivação, levando ao sucesso no tratamento.

 

 

CONCLUSÃO

Conclui-se com a realização desse estudo que:

» Os indivíduos do sexo masculino e feminino escolheram o aparelho extrabucal com arco facial na cor preta como o mais atraente.

» Os indivíduos do sexo masculino e feminino escolheram o aparelho extrabucal com arco facial na cor rosa como o menos atraente.

» De modo geral, os aparelhos extrabucal na cor cinza e roxa foram apontados como os mais bem avaliados pelos participantes.

A cor apresentada pelo aparelho ortodôntico extrabucal influencia diretamente em sua aceitação e percepção estética, assim como o sexo e o tipo de escola em que as crianças estudam.

 

 

ABSTRACT

Influence of color in the aesthetic attractiveness of headgear orthodontic arches. / Objective / To evaluate the color influence on the aesthetic perception of extraoral appliances in children of both genders aging 10 to 14 years of public and private schools. / Methods / A specific questionnaire was made containing attached images of a patient using extraoral orthodontic appliance in different colors and subsequently applied to 200 children. The frequencies of responses and comparisons between school type and gender were made using the chi-square test. The scores of the notes for each image were compared using the U Mann-Whitney test. The average scores for each image were calculated in each group to determine the Spearman correlation coefficients to assess the similarity between the perceptions of students by school type and gender. The level of significance was set at 5%. / Results / The black extraoral appliance was ranked as the most attractive by children. Comparisons between pairs showed that public school students scored better all images, compared with the private school. With regard to gender, there were no significant differences between groups in the images with extraoral appliance. / Conclusion / The color displayed by extraoral orthodontic appliance directly influences their acceptance and aesthetic perception as well as the type of school.

 

Como citar este artigo: Pithon MM, Ferraz CS, Santos AM, Oliveira GC, Ribeiro AV, Baião FCS, Sant’Anna LIDA, Santos AFS, Coqueiro RS. Influência da cor na atratividade estética de arcos ortodônticos extrabucais. Rev Clín Ortod Dental Press. 2013 dez-2014 jan;12(6):52-61.

Enviado em: 15/08/2013 – Revisado e aceito: 28/11/2013

Endereço de correspondência: Fernando José Lopes de Campos Carvalho

Rua Humaitá, 1680 – Araraquara/SP – CEP: 14801-903 – E-mail: fjlccarvalho@gmail.com

 

Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais, de propriedade ou financeiros que representem conflito de interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.

O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias faciais e intrabucais, e/ou radiografias.

 

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