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Inflamação e o caso Ana Hickmann

Dá para comparar as células azuis e amarelas (em A) com as casas da cidade. As ruas seriam os vasos sanguíneos, em vermelho, entre elas.

Dá para comparar as células azuis e amarelas (em A) com as casas da cidade. As ruas seriam os vasos sanguíneos, em vermelho, entre elas.

Casas são células e as ruas, os vasos sanguíneos do corpo, como fosse a cidade
inteira. Toda casa tem problemas e há uma tendência de uma ajudar a outra na
necessidade. Pelas ruas circulam ambulâncias e policiais, mas em geral só fazem
vigilância, não precisam agir. No corpo, os policiais são componentes líquidos e células
no fluxo sanguíneo.
Às vezes, uma casa ou célula tem problemas internos sérios, caem paredes e até
com mortes ou necroses. Nestes casos mais graves, a polícia tem que intervir, ou seja, os
componentes do sangue saem das ruas, ou vasos, e adentram nas casas para achar o
agressor e eliminá-lo. Neste momento juntam-se muitas pessoas e policiais com um
certo tumulto no local, mas depois de algumas horas ou dias tudo vai voltando ao
normal. No corpo, este tumulto local, se traduz em aumento de volume e calor na área,
além de dor.
O estresse celular é quando nas casas existe uma tensão por trabalho excessivo ou
muita agitação, quase sempre, por estímulos benéficos. Isto pode estimular uma reforma
na casa, aumentando ou diminuindo o que se chamaria de hipertrofia ou atrofia. Pode
fazer, ainda, com que a casa ou as células proliferem mais, o que se chamaria hiperplasia.
Tudo para a célula se adaptar a esta agitação aumentada.
Muitas vezes, este estresse faz com que a parte não executada do trabalho, leve ao
acúmulo de produtos no interior da casa ou da célula. Ora acumula gordura, ora
pigmentos, quando não, proteínas não metabolizadas. Em uma visita a esta célula ou
casa se percebe que está um tanto desorganizada e, se não tomar providência, a casa
pode cair ou a célula, morrer. Se não morrer se chama de “agressão subletal” ou pré-
morte. No caso de morte, vai se chamar “necrose”.

COMEÇOU

Até a necrose, os agentes do sangue, ou os policiais das ruas, não interviriam na
casa, mas agora, algo deve ser feito. Jatos de água ou líquidos cheios de substâncias
químicas plasmáticas serão jogadas dentro e fora das casas para atenuar o agressor e
diminuir os danos. Minutos depois, entram os policiais que, no sangue, são chamados de
leucócitos, glóbulos brancos ou células imunológicas. Entres os produtos químicos estão
os anticorpos e enzimas como se fossem produtos de limpeza desinfetantes.
Em quase todos os casos, isto fará aquela comunidade voltar ao normal em alguns
dias ou semanas e este processo será chamado de inflamação e a reconstrução a ser feita
em seguida como parte do processo, é o reparo. A maioria das células serão preservadas

e, algumas casas, reconstruídas. No caso de Ana Hickmann foi assim e teve um momento
que vizinhos e policiais tiveram que interferir para que nem se cogitasse uma morte
naquela casa. Agora, aquela casa, interna ou externamente, decide se será reconstruída
ou substituída por outra.

REFLEXÕES FINAIS

Na depilação, “pelling”, movimento dentário, restauração dentária e outros
procedimentos medico-odontológicos se induz estresse celular, e a inflamação só ocorre
quando há excessos que levem a agressões celulares subletais ou letais. Já nas cirurgias,
ocorrem mortes celulares pelas manobras e a inflamação será necessária, até para
reconstruir e reparar a área operada.
Na vida e no corpo, é difícil definir quando é hora de intervir e suspender o
processo, ou quando é apenas um estresse mais intenso. Muitas vezes, os vizinhos e
parentes terão que acionar a inflamação ou a polícia para estancar a agressão.
Já faz um certo tempo que perdeu validade o dito popular que dizia: “em briga de
marido e mulher, não se mete a colher” ou “em briga de parceiros não se mexe em
vespeiros”. Têm casos, que a inflamação é inevitável, mas depois vem o reparo!

(Alberto Consolaro – Professor Titular da USP e Colunista)

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