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IA auxilia na previsibilidade de resultados com implantes

Um novo estudo da Faculdade de Odontologia da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, pode representar um avanço importante no combate à peri-implantite – infecção que acomete os tecidos e ossos ao redor de implantes dentários. A condição, que afeta cerca de 25% dos pacientes com implantes, ainda não conta com métodos confiáveis para prever a resposta de cada indivíduo ao tratamento cirúrgico.

Para enfrentar esse desafio, uma equipe de pesquisadores liderada pela instituição norte-americana desenvolveu um algoritmo de aprendizado de máquina – uma forma de inteligência artificial – capaz de estimar o risco individual de sucesso em terapias regenerativas para a doença. Batizado de FARDEEP, sigla para Fast and Robust Deconvolution of Expression Profiles (em tradução livre, “Deconvolução Rápida e Robusta de Perfis de Expressão”), o sistema analisa amostras de tecido de pacientes com peri-implantite submetidos a tratamento reconstrutivo.

Com base nessas amostras, o FARDEEP mede a presença de bactérias prejudiciais e a quantidade de células do sistema imunológico que combatem infecções. Os resultados revelaram que os pacientes com melhor resposta clínica ao tratamento apresentavam maior quantidade de células imunes especializadas no controle de infecções bacterianas.

“Ficamos surpresos com os achados”, afirmou o professor assistente Yu Leo Lei, autor sênior do estudo. “A literatura tradicional valoriza células imunes envolvidas na cicatrização e na regeneração dos tecidos, mas descobrimos que aquelas voltadas ao controle microbiano estão mais fortemente associadas a resultados clínicos positivos”, explicou o docente, que também atua no Rogel Cancer Center.

Segundo os pesquisadores, o tratamento cirúrgico pode reduzir a carga bacteriana em todos os pacientes. No entanto, apenas aqueles com maior abundância de certos subtipos de células imunes são capazes de impedir a recolonização por microrganismos patogênicos, favorecendo a regeneração do tecido ao redor dos implantes.

Os implantes dentários são considerados uma solução estética e funcional de alto padrão para a reposição de dentes ausentes. Com aparência natural, têm conquistado cada vez mais pacientes e movimentam um mercado global estimado em US$ 6,8 bilhões até 2024. Contudo, a crescente incidência da peri-implantite tem se tornado um obstáculo significativo ao sucesso de longo prazo desses procedimentos, alertam os cientistas.

A doença pode provocar perda óssea progressiva, sangramento, supuração e, em casos avançados, a perda completa do implante e das próteses associadas. Além disso, substituir um implante comprometido por outro novo costuma ser complexo, devido à baixa qualidade óssea e à lentidão no processo de cicatrização.

Por isso, estratégias de prevenção e monitoramento contínuo da peri-implantite têm se tornado parte essencial da rotina clínica em implantodontia.

“A terapia regenerativa para peri-implantite é cara e os resultados ainda são imprevisíveis”, afirma o primeiro autor do estudo, Jeff Wang, professor assistente clínico da Universidade de Michigan e responsável pelo ensaio clínico que deu origem à pesquisa. “Seria muito útil se pudéssemos utilizar essas informações para orientar a decisão terapêutica mais apropriada, ou mesmo optar por substituir o implante antigo, apesar dos desafios.”

O futuro
Segundo os autores, o FARDEEP ainda não está pronto para ser incorporado à prática clínica de forma ampla. Antes disso, são necessários mais ensaios clínicos com seres humanos. No entanto, os resultados obtidos oferecem uma nova perspectiva: a personalização do tratamento para pacientes com peri-implantite.

“Nosso estudo serve como uma prova de conceito de que é possível identificar, de forma precisa, os perfis de pacientes que mais se beneficiam da terapia regenerativa”, afirmou o coautor William Giannobile, professor de Medicina Oral, Infecção e Imunidade e atual reitor da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade de Harvard. Giannobile também atuou na Universidade de Michigan, onde desenvolveu parte significativa da pesquisa.

Além disso, os pesquisadores destacam que, no futuro, a tecnologia pode até mesmo ser usada antes da instalação de um implante, para prever o risco de desenvolvimento da peri-implantite e guiar a decisão de profissionais e pacientes.

Se confirmada por novos estudos, a abordagem pode não apenas otimizar resultados clínicos, mas também reduzir custos e riscos associados à perda precoce de implantes – um problema crescente num mercado em plena expansão.

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