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Tem ‘Fake News’ até na ciência? – por Alberto Consolaro

Alberto Consolaro

Alberto Consolaro

Livre docente e Professor Titular de Patologia na Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB-USP)

Falsas notícias ou “Fake News” são criadas para prejudicar pessoas, empresas, governos e políticos! Sempre existiram, foram e são muito usadas como ferramentas de domínios de regimes e governos com reis, ditadores e presidentes. Jornalismo é uma coisa, “Fake News” é prática de crime. A internet impulsionou as “Fake News” e empresas como Google e Facebook, de forma tímida e disfarçada, dizem estar se esforçando para combate-las, mas ganham muito dinheiro com elas. Não me importa de que lado estão, os falsários são deploráveis.

Tudo na internet é plenamente identificável, é só ter interesse em localizar. As campanhas políticas são nojentas e sites são criados para gerar “Fake News” pró e anti qualquer um. Entre os anos 80 e 90 criou-se na televisão o jornalismo de opinião pela Fox News e CNN. Jornalismo assim é barato, sem a neurose de checar fontes e fatos “noticiados”. Afinal é opinião e o jornalismo investigativo foi perdendo força e hoje tudo se noticia como verdade, sem critério, na internet. Alguns abusam dos “Fake News” como Dória, Trump e Bolsonaro, embora todos usem.

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Hillary Clinton perdeu a eleição para as “Fake News”, sem elas Trump não ganharia. As “Fake News” anti-Hillary e as pró-Trump vinham da Macedônia e de outros países. No norte da Grécia, a Macedônia fazia parte da ex-Iugoslávia e tem 2 a 3 milhões de habitantes. Pobre, não oferece oportunidades a seus jovens. Como mão de obra barata, os jovens super informatizados passaram a trabalhar para empresas de tecnologia ou informática e transformaram a Macedônia na capital mundial da “Fake News”. Estes jovens de 18 a 19 anos são conhecidos como “Veles Boys” e residem nesta pequena cidade de 50 mil habitantes. Macedônia é a terra de Alexandre, o Grande.

Entre os sites que criavam, os mais populares em cliques ou acessos, eram os que falavam bem de Trump e mal de Hillary. Como Google e Facebook pagam aos sites pelos cliques e como os cliques mais bem pagos são os feitos nos EUA, os “Veles Boys” ganharam muito dinheiro e estas empresas também, pois aumentaram muito a publicidade! Resultado: Trump presidente!

Na ciência!

Notícias plantadas com especulações e interesses são “Fake News” e na política e coluna social são amplamente utilizadas, mas fiquei espantado com a quantidade de pesquisas “científicas” cujos resultados não puderam ser reproduzidos sob as mesmas condições.

Algo para ser científico tem quer ser: 1ª) metodologicamente impecável, 2ª) publicado em algum lugar e 3ª) reproduzível. De nada adianta, se alguém não conseguir os resultados sob as mesmas condições: não deve ser chamado de científico ou evidência cientifica. Pesquisas que precisam de futuros trabalhos, que antecipam resultados antes de publicadas e não são reproduzíveis em outros centros, seriam “Fake News Científicas”. Tem notícias científicas na mídia que ainda são projetos e nem foram publicados!

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Vejam: 1. A empresa de biotecnologia Amgem tentou reproduzir 53 pesquisas sobre tratamento de câncer e só conseguiu replicar 11%. 2. A Bayer tentou reproduzir outros 67 estudos sobre câncer e apenas conseguiu os mesmos resultados em 25%. Em artigo no NY Times, Aaron Carroll relata que em psicologia apenas 1/3 à metade dos trabalhos teve um certo padrão de reprodutibilidade.

Em jornais comuns, Carrol relata que em 243 reportagens sobre pesquisas, apenas 4 foram adiantes e eram verdades. Não se pode fazer festa ou chamar a fanfarra frente ao primeiro resultado, devemos ser criteriosos e céticos. Científico tem quer ser publicado e reproduzido em outros lugares: e tome-lhe ceticismo.

Instituições como ‘Center Open Science’ e Institutos Nacionais de Saúde dos EUA estão preocupados e adotam políticas e condutas para que a ciência tenha cada vez mais notícias verdadeiras e não “Fake News”. Elas servem apenas para se obter recursos ou cargos e vantagens nas universidades e institutos de pesquisas!

Precisamos ser mais criteriosos em classificar o que é científico ou não! Quando alguém fica insistindo que um produto ou resultado é ‘realmente’ científico ou que ‘representa’ uma evidência científica, tome cuidado: pode ser “Fake News”!

*Texto publicado originalmente no Jornal da Cidade

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