Renata Pascotto
Doutora em Dentística pela Universidade de São Paulo (USP), professora da Universidade Estadual de Maringá (UEM), no Programa de Pós-Graduação em Odontologia Integrada. É membro do corpo editoral de diversas publicações científicas, entre elas o Journal of Clinical Dentistry and Research (JCDR) e Revista Clínica de Ortodontia Dental Press. Faz parte do corpo docente dos programas Excelência Dental Press.
Há alguns anos, assistindo à apresentação de um colega num evento de Odontologia Estética, fiquei preocupada com a orientação dada por ele à plateia ávida por informações sobre como “despertar” nos clientes o desejo por um sorriso perfeito. Entre as “dicas”, sugeria que ao terminar o curso, os colegas passassem na livraria ao lado e adquirissem um atlas com sorrisos transformados por procedimentos ditos minimamente invasivos, como as lentes cerâmicas associadas a técnicas de clareamento e cirurgias periodontais de aumento de coroa clínica.
Eu, que pessoalmente já tinha tido a oportunidade de folhear o livro sugerido, fiquei incomodada com a situação, pois o exemplar realmente mostrava casos de pessoas comuns que foram transformadas em beldades após passarem pelos referidos tratamentos estéticos. E para reforçar a ideia de sucesso e sedução dos novos sorrisos, as modelos apresentavam-se muito produzidas, sempre abocanhando uma fruta – que parecia ainda mais suculenta pelo tratamento da imagem com o Photoshop.
A sugestão do palestrante era que o livro fosse deixado estrategicamente na sala de espera, a fim de que o paciente pudesse folheá-lo enquanto aguardava o seu atendimento, estimulando-o inconscientemente a querer receber o mesmo tratamento (como se a sua felicidade dependesse exclusivamente da satisfação desse desejo).
Foi então que me lembrei dos inúmeros alunos com quem tive a oportunidade de trabalhar nos últimos 15 anos, a que ministrei cursos de aperfeiçoamento em Odontologia Estética. Embora uma boa parte deles contasse com vários anos de atendimento em consultório, ainda carecia de experiência clínica e habilidade para realizarem procedimentos estéticos mais complexos na região anterior.
Ao fazerem um marketing com imagens do livro sobre tratamentos bem sucedidos, realizados por profissionais experientes, correriam o risco de criar uma grande expectativa em seus clientes. Caso não conseguissem atingir o resultado esperado, pela inexperiência profissional ou mesmo pela falta de comunicação efetiva com o paciente, a frustração seria consequência direta – e capaz de transformar o sonho em um terrível pesadelo.
Uma expectativa não atendida numa rotina competitiva e estressante é capaz de transformar uma pessoa, até então tranquila com a sua aparência, em alguém insatisfeito e infeliz, podendo trazer arrependimento ao profissional que sugeriu, indiretamente com a leitura do livro estrategicamente deixado na sala de espera, o sonho de um sorriso perfeito.
Segundo uma citação retirada do livro do prof. Baratieri (1995), apenas 30 a 40% das pessoas adultas que apresentam desarmonia nos dentes anteriores estão insatisfeitas com seus sorrisos. Assim, muitos dentes são restaurados desnecessariamente na busca de um padrão de beleza, devido a atitudes baseadas na opinião e referência do dentista.
Diante disso, uma orientação segura seria procurar ouvir mais atentamente o paciente na consulta inicial e tentar analisar se é possível com os procedimentos que cada um é capaz de oferecer, atender as suas expectativas. Para isso, após analisar criteriosamente cada caso, a sugestão seria que o profissional apresentasse imagens de casos clínicos realizados por ele próprio a fim de auxiliar o cliente a avaliar o resultado de casos clínicos semelhantes ao dele e criar uma expectativa de resultado mais próxima da realidade.