Um estudo recente publicado no Journal of Dental Research utilizou técnicas de inteligência artificial para mostrar que a cárie dentária não se manifesta de forma uniforme na população. Ao aplicar métodos de aprendizado de máquina não supervisionado a dados nacionais de saúde dos Estados Unidos, os pesquisadores identificaram diferentes subtipos de cárie, associados a combinações específicas de fatores clínicos, comportamentais e ambientais.
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A pesquisa analisou informações do Inquérito Nacional de Saúde e Nutrição dos Estados Unidos (NHANES), um dos maiores bancos de dados de saúde pública do país. O artigo, intitulado “Desvendando a Heterogeneidade da Cárie Dentária na NHANES Usando Aprendizagem Automática”, propõe uma nova forma de compreender o risco de cárie, indo além dos fatores tradicionalmente considerados, como consumo de açúcar e hábitos de higiene bucal.
Para lidar com o grande volume e a complexidade dos dados coletados ao longo de vários anos, os pesquisadores desenvolveram um pipeline de limpeza e organização das informações, transformando os registros do NHANES em um conjunto de dados adequado para análises com inteligência artificial. A partir daí, foram aplicados algoritmos não supervisionados, capazes de identificar padrões sem categorias pré-definidas.
O resultado foi a identificação de grupos de indivíduos com perfis semelhantes de cárie dentária e fatores de risco, evidenciando uma grande variabilidade da doença relacionada à idade. Crianças, adultos e idosos, por exemplo, foram classificados em subgrupos distintos, cada um com características próprias que influenciam o desenvolvimento da cárie.
A análise mostrou que o risco de cárie varia significativamente mesmo entre pessoas da mesma faixa etária. Os subtipos identificados diferem não apenas pelo padrão da doença, mas também por aspectos como alimentação, marcadores laboratoriais, exposição ambiental e hábitos de sono.
Entre os achados, o estudo apontou associações entre o estado da cárie dentária e fatores como exposição ao chumbo e a outros poluentes, determinados exames laboratoriais e o consumo de tipos específicos de alimentos. Esses resultados sugerem que existem marcadores adicionais de suscetibilidade à cárie, que vão além dos fatores clássicos amplamente utilizados na prática clínica.
Impactos para a saúde pública
Ao evidenciar a heterogeneidade da cárie dentária, os autores defendem que modelos futuros de previsão e estratégias de prevenção devem abandonar a ideia de um risco único e generalizado. Em vez disso, propõem a estratificação dos pacientes em subtipos baseados em dados, permitindo intervenções mais precisas e eficazes.
Segundo os pesquisadores, a mesma abordagem pode ser aplicada a outras bases de dados nacionais e adaptada para o estudo de outras doenças crônicas, contribuindo para políticas de saúde pública mais direcionadas. A utilização de inteligência artificial, nesse contexto, pode ajudar tanto pesquisadores quanto profissionais de saúde a desenvolver ações preventivas personalizadas, alinhadas aos diferentes perfis de risco da população.
