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Estudo revela relação das células e formação do dente

Pesquisadores avançaram na compreensão dos mecanismos que orientam o desenvolvimento dos dentes ao demonstrar que a posição das células durante a formação embrionária é determinante para o seu destino. O trabalho, liderado pelo professor Han-Sung Jung, da Faculdade de Odontologia da Universidade de Yonsei, na Coreia do Sul, foi publicado no International Journal of Oral Science e aprofunda o papel das interações celulares ao longo do eixo linguo-bucal.

Há décadas, a ciência descreve o desenvolvimento dentário como um processo progressivo: um pequeno rebento de células epiteliais cresce em direção ao mesênquima, curva-se formando o estágio de “capuz” e, posteriormente, dobra-se novamente até adquirir o formato de campânula, característico de um dente maduro, já envolto por osso e gengiva. O novo estudo amplia esse conhecimento ao demonstrar que não apenas o tempo, mas também a posição das células, influencia diretamente o tipo de tecido que será formado.

Segundo o autor sênior da pesquisa, o objetivo foi compreender como a identidade posicional das células mesenquimais, ao longo do eixo que vai do lado lingual ao bucal, determina diferentes destinos de desenvolvimento. “Essa investigação tem potencial para impactar significativamente a nossa compreensão sobre o desenvolvimento dentário”, afirmou Jung.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores isolaram células mesenquimais dos lados lingual e bucal de embriões de camundongos nas fases de capuz e sino. Em seguida, compararam os perfis de expressão gênica por meio de análises de RNA-seq e estudos de enriquecimento de ontologia genética. As células também foram transplantadas, separadamente, sob a cápsula renal de camundongos imunocomprometidos, permitindo observar em que tipos de tecidos elas se transformariam.

Os resultados mostraram diferenças marcantes. As células do lado lingual apresentaram maior tendência à formação do próprio dente e à modelagem de sua estrutura. Já as células do lado bucal demonstraram maior envolvimento com atividades relacionadas a células-tronco, formação dos tecidos de suporte e processos de crescimento e reparo. Nos experimentos, apenas as células linguais deram origem ao esmalte dentário.

Outro achado relevante foi a capacidade de auto-organização celular. Ao misturar aleatoriamente células linguais e bucais marcadas fluorescentemente, os cientistas observaram que elas conseguiram se reorganizar de acordo com sua posição original. “As células linguais não só encontraram seu lugar, como voltaram a formar dentina e o dente, como antes”, explicou a primeira autora do estudo, Eun-Jung Kim.

A equipe também investigou as moléculas de sinalização envolvidas nesses processos. As células linguais apresentaram maior ativação da via WNT e das proteínas R-spondinas (Rspo1/2/4), além de alta proliferação celular, menor taxa de morte celular e maior capacidade migratória, fatores que favorecem a formação dentária. Em contraste, as células bucais mostraram maior expressão de inibidores de BMP, menor proliferação, maior apoptose e migração mais lenta, características associadas à formação óssea e dos tecidos ao redor do dente.

Com base nos resultados, os autores propõem um modelo em que o posicionamento das células mesenquimais ao longo do eixo linguo-bucal orienta a formação tanto do dente quanto dos tecidos circundantes, mediado principalmente pela sinalização WNT/BMP.

Para os pesquisadores, compreender com mais profundidade essas nuances moleculares pode abrir novos caminhos para a engenharia de tecidos e a medicina regenerativa. No futuro, esse conhecimento pode contribuir para avanços em terapias baseadas em células-tronco, com aplicações promissoras na regeneração, restauração e reparação dentária.

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