Amos Dudley, um estudante universitário dos Estados Unidos, sempre se constrangia ao sorrir por conta de seus dentes tortos. Por ser estudante e afirmar não ter o dinheiro para pagar um tratamento profissional, ele teve uma ideia inusitada: fabricar seu próprio alinhador transparente, utilizando uma impressora 3D a que tinha acesso na faculdade.
Ele pesquisou na internet sobre Ortodontia, descobriu como o sistema Invisalign funciona para deslocar os dentes e como são feitos os alinhadores profissionais. Aprofundou-se no processo de fabricação, aprendendo como as placas são formadas e moldadas para encaixar nos dentes. Assim, ele fez o molde de sua boca e desenvolveu uma maneira caseira de fabricar seu próprio alinhador, que batizou de Orthoprint.
Ao contrário do que se pode imaginar, os alinhadores caseiros fabricados pelo estudante funcionaram, e Amos conquistou seu tão sonhado sorriso.
No entanto, apesar do resultado visualmente correto, será que o americano corre algum risco?
“A movimentação dentária sem critérios, como foi o caso apresentado, leva à chamada instabilidade oclusal, que ocorre quando os dentes de uma arcada não se encaixam adequadamente com os da arcada oposta. Com o passar do tempo, a própria mastigação vai empurrar os dentes para as suas posições iniciais. Portanto não se pode esperar que o resultado alcançado pelo americano seja minimamente estável”, diz o diretor presidente do Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBP), Dr. Carlos Alberto Tavares.
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A presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial (ABOR), Dra. Flavia Artese, concorda. Ela explica que, se o resultado não for contido de maneira correta, é muito provável que não se manterá, já que as contenções ortodônticas são também planejadas pelo ortodontista e individualizadas para cada caso, de acordo com a má oclusão inicial.
Danos permanentes
“Forças inadequadas sobre os dentes podem causar danos permanentes, como as reabsorções de raiz ou perdas ósseas, que podem deslocar os dentes para posições inadequadas”, explica a Dra. Flávia. Por isso, há muitos riscos em imprimir seu próprio alinhador quando não se conhece os princípios mecânicos de movimentação dentária. “Os riscos, aliás, já começam na própria moldagem, para a qual é necessário treinamento para permitir a reprodução de todos os dentes”, completa. Ela explica, ainda, que o estudante poderia ter sofrido retrações nas gengivas e úlceras nas bochechas, por causa dos alinhadores mal recortados.
Os presidentes de ambas as entidades alertam sobre os inúmeros os perigos de movimentar os dentes por conta própria, ou de utilizar qualquer outra forma de “odontologia caseira”. “Qualquer aparelho que seja feito com o propósito de movimentar dentes, que não por um profissional especializado, fica sujeito a todo tipo de erros, seja de força exagerada ou forças em direções e sentidos equivocados, que podem levar a contatos prematuros com os dentes da arcada antagonista, levando a trauma oclusal”, adverte o Dr. Carlos Alberto.
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A Dra. Flávia Artese compara a realização de tratamentos domésticos à automedicação. “O indivíduo leigo não possui informação suficiente para conhecer os riscos de qualquer procedimento, mesmo o simples ato de tomar um comprimido”, observa. As empresas que fabricam alinhadores para os ortodontistas de maneira séria tem um processo entre o diagnóstico e a fabricação, que envolve o profissional. “É o especialista em Ortodontia que determina os passos da movimentação dentária, sua sequência, onde haverá acessórios em resina, se haverá necessidade de desgaste dentário e vários outros fatores. Como seria possível essas informações sem o Ortodontista?”, questiona. “Os danos podem ser muitos, e o que é barato pode sair caro, com estragos permanentes que podem levar até a perdas de tecidos, dentários ou gengivais”, alerta a Dra. Flávia.