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Estratificação natural com resinas compostas em restauração classe IV de dente anterior

Paciente do sexo feminino, 22 anos, livre de lesões cariosas, relatou insatisfação com a estética do sorriso após ter sido submetida a restaurações diretas recentemente, que foram realizadas devido a fratura coronária extensa mas sem exposição pulpar no elemento 22 e fratura menor no 21.

Durante o exame clínico, foi verificado que as restaurações em resina composta classe IV no incisivo central esquerdo e incisivo lateral esquerdo não se apresentavam em harmonia com os homólogos em cor, forma e contorno.

O procedimento restaurador realizado previamente continha resina composta opaca em toda a extensão e não houve a utilização de resina com propriedades óticas para simular a região de opalescência incisal, bem como mamelos dentinários, importante quando se trata de dentes jovens e naturais, comprometendo assim o resultado final.

Após realização de exame clínico detalhado, foi feito o protocolo fotográfico inicial (Figura 1-3).

Figura 1 – Aspecto inicial do sorriso (vista frontal).
Figura 2 – Aspecto inicial do dentes anteriores.
Figura 3 – Aspecto dos incisivos homólogos que serviram de referências.

O plano de tratamento proposto consistiu em substituir as restaurações de resina composta pré-existentes através da técnica de estratificação. Um guia de silicone foi confeccionado através da moldagem e enceramento reproduzindo as superfícies linguais das estruturas dentárias remanescentes. A seleção de cor foi realizada com o sistema CLEARFIL™ AP-X ES-2 (Kuraray Noritake Dental, Japan), se atentando a mimetizar a óptica dental dos dentes naturais da paciente (Figura 4-6).

Pequenas amostras das resinas foram colocadas na superfície dental, e fotografadas, sendo então as imagens editadas para preto e branco (Figura 5), e alto contraste (Figura 6), tornando possível escolher valor e croma das resinas respectivamente.

Figura 4 – Seleção de cor das resinas compostas (Kuraray Noritake Dental, Japan). No 11,
na parte cervical, da distal para mesial temos XW, A1, A1D; no terço médio temos A1E, WE,
A2E. Na incisal do 21, de mesial para distal temos: Amber, Blue e Clear.
Figura 5 – Edição da fotografia 5 para preto e branco, tornando possível ver a quantidade
de branco em cada amostra de resina e a definição do Valor.
Figura 6 – Edição da fotografia 5 para alto contraste, tornando possível ver a cromatização
em cada amostra de resina e a definição do Croma.

Após as referidas fotos terem sido realizadas montou-se o mapa cromático com as resinas selecionadas (Figura 7).

Figura 7 – Mapa cromático indicando local de aplicação das resinas selecionadas.

Após realizada a anestesia local por infiltração, foi feito o isolamento relativo e removidas as restaurações existentes no incisivo lateral esquerdo e no incisivo central esquerdo (Figura 8). Um bisel de esmalte funcional-estético foi preparado utilizando broca 2200 (KG Sorensen, São Paulo, Brasil).

Figura 8 – Preparo dos elementos.

Seguiu-se a aplicação seletiva de ácido fosfórico a 37% (Maquira, Paraná, Brasil) sobre esmalte por 15 segundos, respectivamente (Figura 9) e enxague abundante por 60 segundos, sendo em seguida a seco com papel absorvente. O sistema adesivo CLEARFIL™ S3 BOND Universal Quick (Kuraray Noritake Dental, Japan) foi aplicado em esfregaço ativo em 1 camada e fotoativado após evaporação do solvente por 20s (Figura 10).

Figura 9 – Aplicação do ácido fosfórico.
Figura 10 – Aplicação do adesivo.

Aplicou-se uma fina camada palatina de resina Amber (Clearfil AP-X ES-2 Transparent Amber, Kuraray Noritake Dental, Japan) no guia de silicone palatino e, em seguida, o mesmo foi assentado na posição e seguido por fotopolimerização (Radii Xpert, SDI, Austrália) (Figura 11).

Figura 11 – Aplicação de resina Amber no guia de silicone palatino.

Antes da remoção do guia de silicone, uma fina camada de resina flow (Clearfill AP-X Esthetics – Flow, B1, Kuraray Noritake Dental, Japan) foi aplicada na interface da concha palatina com o remanescente dental, e fotoativada por 20s. Posteriormente, foi utilizado matrizes pré-fabricadas UNIMATRIX (TDV, Paraná, Brasil) para restaurar as paredes e contatos proximais com a mesma resina Amber (Figura 12-14).

Figura 12 – Concha lingual de resina Amber.
Figura 13 – Uso de matrizes pré-fabricadas para confecção das paredes proximais.
Figura 14 – Paredes proximais prontas em resina Amber.

A construção do terço médio foi realizada com a aplicação da resina A1 (Clearfil AP-X ES-2 A1, Kuraray Noritake Dental, Japan) e, após a fotopolimerização do incremento, foi adicionada a resina W (Clearfil AP-X ES-2 W, Kuraray, Japan) até alcançar a região incisal. Nesta etapa foram esculpidos os mamelos dentinários com esta resina WD (Clearfil, AP-X ES-2 W, Kuraray Noritake Dental, Japan) e fotopolimerizada por 20s. A resina blue (Clearfil AP-X ES-2 Transparent Blue, Kuraray, Japan) foi aplicada no terço mais incisal da concha palatina entre os mamelões dentinários para reproduzir o efeito opalescente natural da paciente (Figura 15-18).

Figura 15 – Aplicação da resina A1.
Figura 16 – Aplicação da resina W.
Figura 17 – Anatomia interna dentinária com resina W.
Figura 18 – Aplicação da resina Blue.

Sobre todos esses incrementos, preencheu-se com resina WE (Clearfil AP-X ES-2 WE, Kuraray Noritake Dental, Japan) até subsistir apenas um estreito espaço para aplicação final da resina Amber (Clearfil AP-X ES-2 Transparent Amber, Kuraray Noritake Dental, Japan) (Figura 19-20).   

Figura 19 – Aplicação da resina WE.
Figura 20 – Aplicação da resina Amber.

Após a polimerização desta camada por 40s, uma lapiseira fina foi utilizada para estabelecer as posições dos ângulos das linhas de transição de acordo com os planos dos dentes.

O processo de acabamento foi iniciado com discos grossos e médios (Sof-lex, 3M ESPE), seguido do uso da ponta diamantada finas e extrafinas para textura e microanatomia (KG Sorensen, São Paulo, Brasil). Tiras de acabamento (Sof-lex, 3M ESPE) foram usadas interproximalmente para eliminar excessos e, após o ajuste oclusal, borrachas de polimento foram usadas na sequência: borracha grossa a base de óxido de alumínio (DHPro, Brasil), borracha de granulação média à base de Carbeto de Silício (DHPro, Brasil), Espiral diamantado Diacomp Plus Rosa e Bege (Eve, Alemanha) e brilho final com pasta Opal L (Renfert, Alemanha) aplicada com Escova de Crina de Cavalo (DHPro, Brasil), e Feltro Diamond Flex (FGM, Brasil).

Figura 20 – Aspecto final imediato do sorriso (vista frontal).
Figura 21 – Aspecto final imediato dos elementos restaurados.

Em uma segunda consulta os detalhes anatômicos foram aperfeiçoados com o uso de brocas multilaminadas de 12 e 32 lâminas (9904 e 7905) e diamantadas finas e extrafinas (2135F, 2135FF) (Fig. 22-24). Posteriormente a mesma sequencia descrita anteriormente foi feita para o polimento final.

Fig. 22- Desenho em grafite para criar anatomia secundária
Fig. 23 – Pontas multilaminadas para ajustes de forma
Fig. 24 – Superfície após ajustes anatômicos
Fig. 25 – Resultado final
Fig. 26 – Resultado final

 

Considerações finais

O estudo das técnicas incrementais e de estratificação das diferentes camadas de resina são requeridas na formação do profissional que objetiva garantir o mimetismo óptico dental. Além do mais, o conjunto e sistema de materiais escolhido devem dispor de diferentes graus de croma, opacidade, saturação e efeito opalescente, que juntamente ao treinamento do operador, terão o propósito de garantir o sucesso clínico na reprodução das características dentais. O resultado final dependerá da abordagem e sequência clínica aplicada na estratificação das resinas até o acabamento e polimento final.

 

Prof. Rodrigo Borges Fonseca

Coordenador do projeto Especialista em Prótese Dentária – UFU.

Mestre em Reabilitação Oral – UFU.

Doutor em Materiais Dentários – UNICAMP. Professor Associado III da Área de Dentística e Materiais da UFG.

CEO e produtor de conteúdo da 5W

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