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Enxerto ósseo: pesquisa propõe melhor tratamento

O estudo inédito de uma equipe de pesquisadores da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP provou que a consolidação de um enxerto no osso é melhor quando este enxerto é desmineralizado superficialmente por ácido cítrico antes da fixação. A técnica pioneira também resultou na formação acelerada de novo osso entre essas superfícies, e poderá impactar a qualidade dos tratamentos em implantes dentários. Um artigo descrevendo a pesquisa foi aceito para publicação na revista Journal of Periodontology, um dos mais conceituados periódicos na área de odontologia.

“As pesquisas se baseiam em um método para não apenas aumentar a consolidação dos enxertos ao osso receptor, como também diminuir o tempo de espera entre a cirurgia de enxerto e a de instalação do implante e, consequentemente, diminuir o tempo de duração do tratamento como um todo”, informa a professora Maria Lúcia Rubo de Rezende, pesquisadora responsável pelos estudos.

A pesquisadora explicou ainda que “quando os dentes são extraídos, com o passar do tempo, o osso que lhes servia de suporte vai diminuindo gradativamente de espessura e altura. Essa diminuição da estrutura óssea dificulta e restringe as possibilidades de reabilitação por meio de próteses tanto convencionais como as suportadas por implantes dentários. Frequentemente é necessário que as pessoas que perderam seus dentes há algum tempo, se submetam a cirurgias de enxerto ósseo para reconstruir o osso perdido antes de receberem implantes dentários”.

O tipo de enxerto mais previsível é o autógeno: aquele em que o doador é a própria pessoa que vai receber o enxerto, mas é necessário esperar cerca de seis meses antes que os implantes sejam instalados na área enxertada. Nesse período, frequentemente o paciente não pode usar nenhum tipo de prótese. Um problema comum entre os profissionais que executam esses procedimentos é que, mesmo que a cirurgia de enxerto tenha sido aparentemente bem sucedida, no momento da colocação do implante no osso enxertado, pode haver destacamento do enxerto e isso ocorre quando o enxerto não se consolida (ou adere) bem ao osso receptor (local enxertado).

“A ideia de desmineralizar o osso partiu do professor Euloir Passanezi, professor aposentado da FOB, que considerou que existem elementos na matriz óssea capazes de acelerar o reparo tecidual, mas que estão impedidos de agir pela presença de minerais como o cálcio”, conta Maria Lúcia. “A hipótese do professor Passanezi está sendo confirmada passo a passo por nossas pesquisas”, afirma a autora do estudo apresentado como tese de livre docência. Os experimentos foram realizados em cobaias.

“O que mais importa é o benefício que poderão receber os pacientes que necessitam de enxertos ósseos à medida que o procedimento for transferido para a clínica, ou seja, diminuição do tempo de duração e aumento do sucesso dos tratamentos empregando enxertos ósseos”, conclui.

Próximos passos

Os próximos passos são a caracterização da superfície desmineralizada e a identificação dos fatores que justificam os resultados já encontrados em nível molecular e celular. Já havia informação suficiente quanto aos benefícios do ácido cítrico na superfície de raízes de dentes com doença periodontal. Esses benefícios se referem à melhor cicatrização do osso e da gengiva que se tornam mais aderidos ao dente depois do tratamento com o ácido. No osso, suspeita-se de que, quando o ácido remove parte do cálcio que faz parte da estrutura mineralizada, algumas moléculas chamadas proteínas ósseas morfogenéticas e outras, chamadas genericamente de fatores de crescimento, passem a atuar estimulando diretamente as células responsáveis pela formação do osso e, talvez, células-tronco.

“Acabamos de enviar uma de nossas doutorandas, Samira Salmeron, para a Universidade do Sul da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, onde ela fará, sob supervisão do professor Homayoun Zadeh, estudos com cultura de células, microscopia confocal, microscopia eletrônica e testes como RT-PCR, que são específicos para comprovar o embasamento biológico do emprego do ácido cítrico no osso”, conta Maria Lúcia. “Quando ela retornar, no final do ano, defenderá sua tese de doutorado e, com a experiência adquirida nos ajudará a estabelecer, aqui na FOB, o mesmo protocolo empregado nos Estados Unidos para esse tipo de pesquisa”.

Outros colaboradores envolvidos nesse projeto são os professores Arthur Alves Fiocchi e Luiz Eduardo de Angelo Sanchez da Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Bauru, e Marcelo de Oliveira Freire, da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Enquanto isso, aqui no Brasil, há outros pesquisadores trabalhando nessa mesma linha nas áreas de Periodontia e Implantodontia.

Fonte: ASCOM – Campus USP/ Bauru.

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