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Uma entrevista com Eiji Tanaka

Para abrir 2015 com uma entrevista em grande estilo, o Dental Press Journal of Orthodontics, traz em sua mais recente publicação (Volume 20, Number 1, January/February 2015) um bate-papo especial com o professor Eiji Tanaka, Chefe do Departamento de Ortodontia da Universidade de Tokushima, no Japão. Com mais de 180 artigos publicados em relevantes periódicos internacionais. Seus estudos contemplam, principalmente, os temas: biomecânica da articulação temporomandibular (ATM), aplicação do ultrassom terapêutico de baixa intensidade em engenharia tecidual, e desenvolvimento de abordagens genéticas para o tratamento de doenças musculares atróficas e degenerativas da ATM. É sobre os avanços em pesquisas e o impacto delas nos respectivos temas de que se trata a entrevista.

Na apresentação de nosso ilustre entrevistado, o vice-presidente da Associação Brasiliense de Ex-bolsistas Brasil-Japão (ABRAEX), professor doutor Emanuel Braga Rêgo, não poupa elogios ao “nobre amigo e brilhante cientista” Eiji Sensei, como carinhosamente é chamado no Japão. A seguir, um trecho da apresentação feita pelo professor Emanuel Braga Rêgo, que inicialmente conduziu a entrevista junto com outros três conceituados professores da área de pesquisa.

” Certa vez, assistindo a um programa sobre o uso de ultrassom terapêutico na recuperação de uma lesão óssea sofrida por David Beckham, na Copa do Mundo de 2006, Eiji disse: “Por que ninguém usa o ultrassom para reparação de tecidos dentários?”. A partir daí, tornou-se precursor no estudo desse tópico em Ortodontia, sobretudo no tocante à reabsorção radicular. O professor Tanaka é graduado em Odontologia e PhD em Ortodontia pela Universidade de Osaka. Foi professor associado na Universidade de Hiroshima, e desde 2008 ocupa o cargo de chefe do departamento de Ortodontia e Ortopedia Facial da Universidade de Tokushima, no Japão. Faz parte do corpo editorial do Journal of Biomechanics e do Journal of Dental Research, e é editor associado do Annals of Biomedical Engeneering.”

Emanuel Braga Rêgo: Professor, tive o privilégio de receber sua orientação clínica e científica durante o curso de doutorado na Universidade de Hiroshima, e fiquei maravilhado pelo ambiente e condições destinadas às pesquisas. Foi bastante prazeroso e proveitoso trabalhar em laboratórios modernos e com toda a infraestrutura necessária. O acesso ao fomento também me pareceu bastante eficiente. De volta ao Brasil, pude experimentar algumas dificuldades para a realização de estudos de grande impacto científico. Gostaria que explicasse como funciona o financiamento governamental de pesquisas em Ortodontia no Japão.

Professor Tanaka: Primeiramente, gostaria de agradecer profundamente ao professor Emanuel Braga, que foi meu colega na Universidade de Hiroshima e contribuiu de forma relevante nos estudos desenvolvidos por minha equipe. É uma grande honra ter a oportunidade de ser entrevistado pelo Dental Press Journal of Orthodontics. Com relação à sua pergunta: no Japão, os recursos para pesquisas científicas são estabelecidos pela JSPS (Japan Society for Promotion of Science), instituição pertencente ao Ministério da Educação, Cultura, Esporte, Ciência e Tecnologia. Os recursos são concedidos para a promoção de estudos criativos e inovadores dentre uma gama variada de áreas do conhecimento, como ciências humanas, sociais ou naturais, incluindo a Odontologia e Ortodontia. Os recursos (Grants-in-Aid) são concedidos a projetos propostos por pesquisadores, individualmente, ou grupos de estudo ligados a universidades ou institutos de pesquisa. Preferencialmente, os recursos são destinados a estudos envolvendo pesquisas básicas e/ou consideradas estratégicas, críticas ou engajadas com as novas tendências. Anualmente, enviamos projetos para obtenção dessa forma de recurso. Em adição, rotineiramente contatamos outras instituições de fomento, como é o caso da JST (Japanese Science and Technology Agency), que fornece toda a infraestrutura desde o processo de criação e desenvolvimento até o retorno do conhecimento adquirido para a sociedade. Entre os vários programas de fomento, destaca-se o A-Step (Adaptable & Seamless Technology Transfer Program). Esse programa estimula a colaboração entre indústria e universidades, e é baseado em resultados. O programa objetiva patrocinar estudos de alta qualidade e que introduzam benefícios para a sociedade. Nos últimos anos, minha equipe obteve recursos, da JSPS e JST, estimados em mais de 50 mil dólares por ano.

Emanuel Braga Rêgo: Durante minha estadia no Japão, constateiar que empresas privadas são grandes entusiastas das pesquisas realizadas dentro das universidades e institutos de pesquisa. Creio que esse modelo poderia ser empregado no Brasil para melhorar o desempenho e condições de pesquisa. O que o professor acha sobre isso? Poderia explicar, sucintamente, como funciona o financiamento privado de pesquisas científicas no Japão?

Professor Tanaka: Honestamente, não conheço as condições de pesquisa nas universidades ou institutos brasileiros. Na minha opinião, o modelo japonês é bastante satisfatório e poderia ser adotado em outros países. No Japão, muitas companhias privadas trabalham em colaboração com universidades e institutos mundo afora. Tecnologias inovadoras têm surgido dessa interação entre a indústria e academia. No entanto, não é consideravelmente simples estabelecer essa parceria. De forma geral, temos sempre um canal de comunicação aberto com o setor privado, para expormos nossos resultados preliminares, ideias e, também, para propormos projetos. Em adição, temos a possibilidade de obtenção de patrocínio para congressos e conferências no Japão ou em outros países.

Emanuel Braga Rêgo: Quais são os principais tópicos atualmente pesquisados na Universidade de Tokushima? Qual tema o senhor considera que será “quente”, em pesquisa ortodôntica, em um futuro próximo?

Professor Tanaka: Atualmente, estou focado em tecnologias associadas a Gene-Targeting, como, por exemplo, promoção de mutagênese em embriões de camundongos mediada por TALEN (transcription activator-like effector nuclease) e CRISPR/Cas (clustered regularly interspaced short palindromic repeat associated protein system). O uso de Gene-Targeting associado à recombinação homóloga em linhagens de células-tronco embrionárias tem permitido o entendimento do funcionamento de vários genes. No entanto, o uso de células-tronco pode se demonstrar ineficiente, demorado ou bastante trabalhoso. As novas tecnologias TALEN e CRISPR/Cas permitem aos pesquisadores a indução de mutação, em sítios específicos, em várias espécies para as quais as células-tronco ainda não estão disponíveis. Nossa equipe, por exemplo, demonstrou a alta eficiência do TALEN (maior que 50%) e CRISPR/Cas (90%) para a produção de camundongos mutantes para o gene Fgf10, por microinjeção de RNA em embriões na fase unicelular. Nós também confirmamos a transmissão das mutações induzidas pela técnica TALEN nas linhagens de células subsequentes. Nossos resultados evidenciam que os sistemas TALEN e CRISPR/Cas são ferramentas excelentes para acelerar a pesquisa genômica funcional em camundongos. Recentemente, o estudo foi publicado na Scientific Reports, que pertence ao mesmo grupo da Revista Nature. Nesse momento, estamos usando essas tecnologias para obtenção de camundongos com nocaute de genes específicos, que são úteis para o desenvolvimento de estratégias para tratamento de muitas doenças relacionadas aos genes.
Com relação à sua pergunta sobre o próximo tema “quente” em pesquisa ortodôntica, devo dizer que é evidente que a ancoragem esquelética com mini-implantes expandiu os limites da prática ortodôntica. Mini-implantes podem promover ancoragem estacionária para realização de movimentações que seriam bastante difíceis, ou mesmo impossíveis, com a mecânica tradicional, e com a vantagem de não necessitarem da cooperação do paciente. Nesse contexto, o uso dos mini-implantes se expandiu consideravelmente e pode-se dizer que faz parte da rotina da grande maioria dos profissionais. Por outro lado, o uso desses dispositivos também envolve riscos. A fratura do parafuso talvez seja o principal problema encontrado, podendo ocorrer na instalação ou remoção. Uma revisão sistemática, publicada recentemente, mostrou que a taxa de sucesso total de mini-implantes ortodônticos foi de 86,5%, que é consideravelmente menor do que a taxa de sucesso de implantes protéticos convencionais. Muitos fatores estão relacionados a falhas em mini-implantes, como, por exemplo, a proximidade com as raízes ou o posicionamento nos maxilares. Portanto, apesar da taxa de sucesso ser bastante satisfatória, acredito que pesquisas que introduzam sistemas de implantes com menor possibilidade de riscos ou falhas serão objeto de estudo e estarão disponíveis em um futuro próximo.

Currículo do Entrevistado:
Eiji Tanaka

» Graduado em Odontologia pela Universidade de Osaka, Japão.
» Doutor em Ortodontia pela Universidade de Osaka, Japão.
» Chefe do Departamento de Ortodontia da Universidade de Tokushima, Japão.

Entrevistadores:

Emanuel Braga Rêgo
» Professor Adjunto de Ortodontia e Odontopediatria da UFBA.
» Doutor em Ortodontia, Universidade de Hiroshima/Japão.
» Vice-presidente da Associação Brasiliense de Ex-bolsistas Brasil–Japão (ABRAEX).

André Wilson Machado
» Professor Adjunto de Ortodontia da UFBA.
» Professor Colaborador do Mestrado em Ortodontia da UCLA – EUA.
» Doutor em Ortodontia, UNESP / UCLA – EUA.
» Especialista e Mestre em Ortodontia, PUC Minas.

Clarice Nishio
» DDS, MSc, PhD, FRCDC.
» Professora Assistente, Departamento de Ortodontia, Universidade de Montreal/ Canadá.

Matheus Melo Pithon
» Professor de Ortodontia da UESB.
» Doutor em Ortodontia, UFRJ.
» Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial (BBO).

Para ter acesso a entrevista completa clique aqui:http://www.dentalcompras.com.br/

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